Após oito meses do ato de transferência da cessão de direitos da extinta Empresa da Pedreira Municipal de Pelotas (Empem), entre as Prefeituras de Pelotas e de Capão do Leão, a limpeza do local ainda não foi realizada pelo Executivo Leonense devido à pandemia de Covid-19 que desestruturou o quadro funcional. Faltando cinco meses para encerrar o ano e com eleição municipal, provavelmente essa tarefa ficará a cargo da próxima gestão municipal.
A ideia dos prefeitos Mauro Nolasco (PT) e Paula Mascarenhas (PSDB) é transformar o local num parque de convivência e visitação, resgatando o aspecto histórico e de importância para o crescimento dos municípios e da região.
Paula disse que estava dando um passo fundamental para o aproveitamento da área, visando o desenvolvimento da Zona Sul e o lazer da população. Levando em conta o fato de que é inviável dar seguimento à exploração mineral da área, destiná-la a geração de renda e a preservação ambiental é o melhor caminho.
Nesta semana, o Jornal Tradição Regional conversou com o aposentado Alfredo Baldassari, de 71 anos, que trabalhou por 18 anos na extinta Empem. Além disso, era morador do entorno da pedreira e desde novo possui um relacionamento afetivo com o local, porque foi através dela que surgiram oportunidades de trabalho até se tornar motorista profissional e mecânico.
Segundo Baldassari, a pedreira começou a funcionar em 1955. Ele começou a trabalhar juntando pedras, pois o local era de difícil acesso. Nessa época, não havia caminhões e o transporte das pedras e de todo material que a jazida fornecia era feita pelos burrinhos, somente por volta de 1968, é que a pedreira adquiriu os seus primeiros caminhões. Logo no início da caminhada, percebe-se o enorme carinho e respeito que o aposentado tem pelo local, que logo ao lembrar-se de antigos colegas e de como funcionava toda a estrutura da antiga pedreira fez a emoção emergir.
Nossa primeira parada é no local onde foi realizado o ato de cessão da extinta Empem ao município. Deparamo-nos com um mural de pedra com o mapa do Brasil. Os autores da obra, em alto relevo, foram os leonenses Fernando Beléia e Edi Oliveira (falecidos). Ao lado do mapa outra curiosidade chama atenção: um sapato de sola para cima, feito de pedra, na época foi utilizado como mesa de refeições dos operários. O autor da obra foi o velho Orlando Medeiros, que além de cuidar o paiol, gostava de realizar trabalhos artesanais sob a pedra.
O caminho que leva ao local onde funcionou a primeira britadora está tomado pelo mato, mas para quem conhece o local como a palma da mão não foi difícil identificá-lo, pois fica próximo a um lindo açude, hoje, abandonado. Conforme Baldassari, o açude era responsável pelo fornecimento de água no local. “Esse açude é fundo e se for limpo, dá para aproveitar toda essa água que é natural e de boa qualidade. Esse local é rico em fontes de água natural”, comentou.
As inúmeras árvores de cedrinho, plantadas na gestão do ex-prefeito Fernando Marroni deixou o local com estilo europeu. “Esse local é muito lindo, e depois de limpo, ficará muito mais lindo”, disse o aposentado, expressando um sorriso no rosto.
Logo acima, no ponto mais alto da pedreira, chegamos à rocha grande, local onde situava a antiga “Pedra da Bandeira”, que embora a pedido da população para não ser destruída, a administração da época não quis ouvi-la. “Eles poderiam abrir outra pedreira em outro local e ter deixado a pedra como ela estava, mas, infelizmente, a ordem era para derrubá-la”, lembrou.
Outra atração é a famosa gruta do enforcado. “No local havia uma árvore grande e uma pessoa não identificada se enforcou. Populares começaram visitar o local e na época, resolveram construir uma gruta de pedra e um túmulo de pedra, que é visitado por populares, até hoje”, ressaltou.
Falando sobre a imensa área da pedreira que é de 36,5 hectares, o ex-funcionário mostra as divisas de terra dentro da pedreira. Segundo ele, a terra, agora pertencente à Prefeitura, faz divisas com a atual empresa SBS, também conhecida como área do Nizoli e a área federal do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Durante nossa visita, encontramos uma linda pedra que está intacta e que também será atração entre visitantes.
De acordo com o pesquisador do Instituto Histórico e Geográfico de Capão do Leão (IHGCL), professor Joaquim Dias, não há registros históricos nos anos de suas atividades, o que existem são apenas lembranças de pessoas mais velhas. Nas pesquisas, o professor encontrou relatos de que a área da pedreira era maior do que a atual e que o primeiro proprietário da área se chamava Tito Traversi. Este não obteve sucesso, porque seus investimentos na exploração da rocha não tiveram retorno financeiro, decretando falência anos depois. Com isso, Pelotas encampou a empresa como Cooperativa Habitacional. Toda a produção da pedreira era destinada às obras feitas pela Prefeitura de Pelotas.
A partir do governo de Ary Rodrigues Alcântara, a pedreira recebeu o nome de Serviço Autônomo da Pedreira Municipal de Pelotas Ltda, (Sapem). Já a Empresa da Pedreira de Pelotas (Empem), foi criada em 1990, no governo de Anselmo Rodrigues, através da lei de nº 3.281.