A cidade de Canguçu é uma das principais produtoras de tabaco no Brasil, já sendo reconhecida em várias ocasiões no quesito quantidade de exportação da cultura, além de ser considerada a Capital Nacional da Agricultura Familiar. A subsistência da comunidade é principalmente voltada à prática agrícola e grande parte da população utiliza a fumicultura como principal fonte de renda.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no ano de 2018, o censo agropecuário e agroecológico de produção agrícola aponta que o município possui 9.905 hectares (ha) de área plantada somente com o fumo, resultando em 21.197 toneladas de produção. Existem duas formas de cultivo da planta: em sua maioria, os agricultores utilizam do método de plantio convencional, mas recentemente essa realidade vem se modificando, abrindo espaço para o manejo do tabaco orgânico.
A produção de forma orgânica do fumo representa maior qualidade de vida para 80 famílias produtoras da empresa Organik Soul Tabacos que está atuando no município desde a safra 2016/2017. A empresa trabalha com produtores da Região Sul que utilizam práticas agroecológicas de plantio, ou seja, uma nova alternativa focada na preservação do meio ambiente e da vida dos próprios produtores.
A demanda em Canguçu está aumentando gradativamente nas principais áreas de abrangência da empresa que se concentram nos 1º, 2º e 3º distritos, locais em que o orientador se desloca para atender solicitação dos agricultores. Além disso, prestam assistência técnica e compram o volume contratado com produtor desde que o fumo receba o selo de certificação.
O cultivo de tabaco orgânico e a melhoria na qualidade de vida dos produtores
O fumo orgânico deve respeitar uma série de critérios que o certificam como tal. Um exemplo é que a produção deve ser feita em áreas separadas de qualquer cultivo convencional, isoladas por mato ou formar barreiras para que aplicações de outras lavouras não o contaminem.
Além disso, a preparação do solo deve utilizar produtos naturais e o transporte necessita inúmeros cuidados para evitar contaminação da planta. Assim como convencional, o tabaco orgânico como produto final pode ser consumido naturalmente, mas é importante lembrar que em sua composição possuem baixas quantidades de nicotina, elemento que intensifica o sabor e aroma para apreciadores, tornando o tabaco uma opção mais próxima do saudável.
A prática de ações como essas, ainda é uma novidade para os agricultores que estão criando alternativas para substituir a plantação de tabaco convencional para o orgânico, sem contaminar a terra. É um diferencial desenvolvido nas lavouras e através da sustentabilidade proporcionada pela produção, pois o manejo do produto não visa utilização de agrotóxicos e produtos semelhantes no plantio.
Além da comercialização mais valorizada no tabaco orgânico, o principal está na produção, que não contamina o produtor nem agride ao meio ambiente. As vantagens aos agricultores abrangem desde o baixo custo, possibilidade de proveito e apreciação da natureza, venda garantida e melhoria na qualidade de vida já que seu manejo é bem mais seguro e livre da utilização de produtos químicos.
Diferenças, dificuldades e transformações pela prática do plantio orgânico
Ambas as produções de fumicultura estão voltadas praticamente à exportação, fator que influencia diretamente na venda do produto. A economia é peça chave para a existência da produção orgânica que ainda possui um déficit na mão de obra de produção. Isso se dá em razão da maior necessidade de atenção e preparo do produtor ao realizar o manejo do tabaco, produção de mudas em canteiros e na lavoura. Por outro lado, existe uma facilitação na época de recolhimento do produto nas propriedades dos agricultores por não ser preciso separação, classificação ou atar o fumo em manilhas. Assim, os fumicultores entregam seu produto à empresa fumageira de forma mais ágil, ganhando tempo e dinheiro, já que a remuneração passa 60% acima do valor vendido comparado ao convencional.
A potencialidade na produção de tabaco sempre foi marca registrada da cidade que tem o maior número de minifúndio do país. Conforme notado pelo extensionista de produção orgânica e funcionário da Organik Soul Tabacos, Lucas Perlenberg, Canguçu é um dos principais municípios de produção para a empresa, ao lado de São Lourenço do Sul, Camaquã, Santa Cruz, entre outros municípios do Paraná e arredores, com atuação pioneira nessa transição de plantio que, apesar de recente, está crescendo ao longo de cada safra.
As indústrias defendem a utilização de conhecimento técnico de seus profissionais que orientem os agricultores a fim de obterem sucesso no plantio, bem como atitudes em conjunto que garantem a capacitação dos produtores a fim de criarem propriedades sustentáveis, com escolhas adequadas de reaproveitamento de recursos naturais.
Para ser certificado como orgânico, o tabaco precisa estar de acordo com as regras de plantio onde é produzido de forma totalmente natural, sem o uso de produtos químicos ou produtos sintéticos, havendo um intervalo de 36 meses entre uma plantação convencional para outra orgânica. O controle de pragas e doenças é realizado de forma manual, atuando principalmente na prevenção antes que as pragas se instalem. Um exemplo prático é a plantação de outras espécies que produzem flores para que virem atrativo de vespas, controlando, assim, o ecossistema daquele ambiente sem prejudicar o tabaco.
De acordo com Perlenberg, a produção orgânica causa impacto positivo na vida dos produtores. “Todo esse tabaco de produção orgânica é consumido sem aditivos químicos, de forma natural. O produtor não vai se contaminar com produtos químicos e nem vai agredir a natureza”, afirma.
Ainda, segundo ele, “mesmo no convencional, o fumo é uma das culturas que se usa menos agrotóxicos por hectares comparando com outras culturas que não são produzidas de forma orgânica”.