Canguçu: Jovens fortalecem a cultura do município por meio da dança e do teatro

Isabelle Canez (esquerda) e Dhiule Volz (direita) são, respectivamente, professoras de dança e de teatro no município. (Foto: Reprodução)

Com pouco mais de 50 mil habitantes, Canguçu é reconhecido como a Capital Nacional da Agricultura Familiar e berço de grandes talentos. Nos últimos meses, jovens canguçuenses apaixonados pela arte, dança e teatro vêm fortalecendo o cenário cultural da cidade, criando novas oportunidades e espaços para a expressão artística. Dhiule Volz, atriz, e Isabelle Canez, professora de dança, são exemplos desse movimento cultural em crescimento.

Isabelle iniciou na dança aos 11 anos de idade e já sabia que queria ser bailarina. Cerca de um ano depois, já auxiliava sua professora acompanhando outras turmas. Aos 15, assumiu suas próprias aulas de zumba, jazz e ballet.

Em 2024, conseguiu transformar o sonho de viver da dança em realidade ao abrir seu próprio estúdio, o Studio Belle&Belle, que hoje oferece sete modalidades de dança. E em março deste ano, expandiu ainda mais sua atuação ao incluir também aulas de teatro.

Já Dhiule conta que cresceu querendo encontrar oportunidades, sair da cidade e ir em busca de pessoas e locais que valorizassem a arte. Mas isso mudou. “Ao invés de sair para buscar algo fora daqui, resolvi fazer o movimento contrário: trazer para cá o que aprendo lá fora”, contou.

Agora, como professora de teatro, irá trabalhar no estúdio de Isabelle. As professoras não escondem que existem dificuldades, mas que é possível valorizar a arte e viver de cultura no município.

A criação do Studio e a chegada do teatro

Isabelle conta que a decisão de abrir o próprio estúdio veio do desejo de trazer para Canguçu oportunidades que, até então, pareciam distantes. “Sempre foi o meu sonho viver da dança, mas para isso eu teria que sair de Canguçu, já que aqui não há muitas oportunidades. Então, em vez de ir embora, decidi abrir o Studio Belle&Belle para oferecer um ensino de qualidade e acessível. Assim, crianças e jovens podem aprender e crescer na dança sem precisar deixar a cidade”, afirma.

Com experiência prévia como professora, Isabelle conseguiu atrair alunos rapidamente, muitos deles já a conheciam de outras turmas. “A divulgação boca a boca foi essencial. As famílias indicavam o estúdio para outras pessoas, o que ajudou a fortalecer e expandir o trabalho”, destaca.

Além do aprendizado técnico, a professora de dança percebe transformações na autoestima, postura e socialização dos alunos. “Muitos chegam com medo, achando que não conseguem dançar. Trabalhamos para desconstruir isso, mostrando que a dança é uma forma livre de expressão. Com o tempo, vejo uma grande evolução. Alunos tímidos se tornam mais confiantes, fazem novas amizades e aprendem a se expressar melhor”, relata.
Isabelle acredita que a dança pode ser uma oportunidade profissional para jovens do interior, mas reforça que seu valor vai além disso. “Nem todos os meus alunos querem seguir carreira e está tudo bem! Dançar melhora a autoestima, ensina disciplina e traz inúmeros benefícios, independentemente de virar profissão ou não”.

Assim como a dança, Dhiule reforça que o teatro é mais do que uma forma de expressão. “O teatro é algo inerente ao ser humano, mesmo que muitas vezes não se saiba isso conscientemente. Quando a gente é criança, aprende pela imitação e se reconhece como pessoa vendo as ações dos adultos. Isso é teatro aplicado na vida”, garante. “Arte é um lugar onde a gente não erra nunca, só vai aperfeiçoando nossa expressão com o tempo. Nem tudo na vida precisa ser feito para que sejamos os melhores naquilo e o teatro pode ser feito pra se divertir e crescer”, acrescenta.

A atriz conta que se surpreendeu e ficou muito feliz com o interesse que alguns canguçuenses demonstraram logo que anunciaram as aulas. “Quando anunciei as aulas, esperava que tivesse bastante público infantil, porque geralmente é na infância que a gente desperta o interesse por essa arte. Fiquei positivamente surpresa e muito feliz com o interesse do público adulto nas aulas. Isso já me mostra o quanto as pessoas sabem da importância dessa arte pro mundo, seja pra conseguir se expressar melhor, conhecer seu corpo, ou só ter uma atividade além do trabalho”.

Desafios encontrados e o futuro da dança e do teatro em Canguçu

Apesar do apoio das famílias e de instituições como o Colégio Aparecida, onde também ministra aulas, Isabelle percebe que ainda há resistência por parte de quem desconhece seu trabalho. “Muitas pessoas não botam fé, mas acredito que com o tempo e mais apresentações isso vai mudar”, afirma.

O primeiro espetáculo do Studio Belle&Belle foi um sucesso e mostrou o impacto positivo da dança na cidade. Mas para expandir ainda mais, um dos desafios é a infraestrutura. “Hoje, o que me impede de ter mais turmas é o espaço. Se houvesse mais apoio, poderíamos ampliar horários, incluir novas modalidades e até criar projetos acessíveis para quem não tem condições financeiras de pagar pelas aulas”, explica.

Aos jovens que sonham em aprender ou ensinar dança em cidades pequenas, Isabelle deixa um recado: “Se você quer ensinar, tenha paciência e persistência, porque no começo pode ser difícil fazer as pessoas entenderem o valor da dança. Mas com dedicação e amor, as oportunidades aparecem. E para quem quer aprender, não tenha medo! Todo mundo pode dançar, basta se permitir viver essa experiência”.

Sobre a falta de estrutura e o incentivo e valorização do município para causas culturais, Dhiule destaca: “A gente consegue fazer teatro em qualquer lugar, só precisa de um/uma ator/atriz, um espectador e uma história pra contar. Mas não posso ser leviana de dizer que um espaço adequado não é essencial, tanto para os ensaios quanto para as apresentações”.

A atriz e professora acredita que muitos canguçuenses nunca tiveram a oportunidade de assistir a uma peça de teatro. “Isso me entristece profundamente porque sei que a falta de incentivo a projetos culturais na cidade é o principal motivo”, reforça.

Para Isabelle, o incentivo à cultura é essencial para o futuro da cidade. “Com mais eventos, espetáculos e projetos, a dança pode ganhar ainda mais visibilidade e reconhecimento. A arte transforma vidas, e meu objetivo é continuar abrindo portas para quem quiser se expressar através dela”.

Ainda sobre o futuro, Dhiule espera que a comunidade canguçuense valorize mais os artistas locais. “Que admirem, que apoiem, que aplaudam, porque a gente tem muito potencial aqui”.

O Studio Belle&Belle fica localizado na rua General Osório, nº 199. Os interessados em aulas de dança podem entrar em contato com a proprietária pelo telefone (53) 9901-5830. Já para as aulas de teatro, o contato da professora Dhiule é o (53) 9945-3208.

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