Brucelose e tuberculose em bovinos causa alerta em Arroio Grande

Exames e vacinas precisam ser realizados nos animais (Foto: Divulgação/STR)

Com uma população bovina de 107.482 mil animais, o município de Arroio Grande possui, dentre suas bases econômicas, a atividade pecuária. Pequenos e grandes produtores atuam no setor de bovinos de corte, atividade leiteira e na comercialização de produtos derivados, no entanto, doenças como a brucelose e a tuberculose preocupam os órgãos de fiscalização e representantes da área.

A tuberculose é causada pelo bacilo Micobacterium bovis, infectocontagiosa, de evolução crônica, classificada como zoonose. Nos animais a doença é assintomática, mas em casos já avançados apresenta tosse, dificuldade respiratória, linfonodos aumentados, diminuição na produção leiteira e perda de peso.

De acordo com o médico veterinário João Thomaz Ferreira, os animais tuberculosos contaminam os demais do rebanho, além das pessoas que tratam diretamente ou que se alimentam de produtos oriundos, sem o devido tratamento, como leite cru, manteigas, queijos e demais alimentos não processados de forma eficaz. Por isso é importante a identificação e exclusão dos positivos (abate sanitário).

A brucelose é causada pela bactéria Brucella abortus, sendo também uma zoonose que impacta a saúde pública, já que a contaminação ocorre através do consumo de alimentos infectados e sem tratamento devido, na lida com animais que possuem a doença ou mesmo na ação de profilaxia dos rebanhos por pessoas não habilitadas e/ou treinadas (vacinação das terneiras).

Os animais que contraem a doença podem apresentar retenção de placenta, corrimento vaginal, abortos no terço final da gestação, nascimentos de terneiros fracos, inflamação nas articulações e orquite (no macho).

É necessário que os produtores fiquem atentos ao comprarem animais, sempre verificando se os exames exigidos foram realizados, pois conforme estudo da Secretaria de Agricultura, 85% dos focos são oriundos de compra de animais sem exames.

No município, a Inspetoria Veterinária é responsável pela fiscalização das propriedades. Atualmente, há um cuidado por parte do órgão referente aos focos de tuberculose e brucelose encontrados. Para isso, é promovida a educação sanitária, como modo de conscientizar os produtores para realizar os procedimentos necessários.

Segundo a fiscal estadual agropecuário, Laura da Rosa, para a brucelose é exigida a vacinação de terneiras de três a oito meses. Já para tuberculose não há vacinação, ocorrendo o controle por meio de exames.

Os produtores que comercializam bovinos ou bubalinos de propriedades com produção de leite ou mista ou que vendem animais com finalidade de reprodução devem fazer os exames, conforme exigência da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural. Ainda, produtores que entregam leite para algumas indústrias passaram também a apresentar os exames das vacas em lactação.

A Inspetoria Veterinária tem desenvolvido um trabalho de orientação para que os produtores se conscientizem de que qualquer produto de origem animal precisa passar pelo processo industrial. “Temos procurado orientar de que os produtos que não passam pela inspeção podem levar um grande risco à saúde do consumidor. Por isso procuramos fazer um trabalho de educação sanitária na região atuando forte na fiscalização para que esse produto não circule”, destaca a fiscal estadual agropecuário, Bruna Gutiérrez.

Fiscais estaduais Laura da Rosa e Bruna Gutiérrez falam sobre os serviços prestados pela Inspetoria Veterinária (Fotos: Milka Camargo)

A fiscalização é feita através de barreiras sanitárias de trânsito em conjunto com os órgãos de segurança, focando em cargas vivas sem a documentação exigida e produtos de origem animal sem a devida procedência. É importante ressaltar que produtores que não atendem as exigências sofrem autuações e penalizações. No caso de propriedades identificadas com foco das doenças a Instrução Normativa nº 02/2014, da Secretaria Estadual de Agricultura, prevê que deverão ser interditadas para movimentação (ingresso e egresso) de bovinos e bubalinos imediatamente após a comunicação do diagnóstico positivo. Também fica proibido o egresso dos animais das propriedades focos até o saneamento, exceto quando destinados diretamente ao abate em estabelecimento sob serviço de inspeção. No caso de animais diagnosticados como reagentes positivos ou inconclusivos para tuberculose e/ou brucelose, somente será permitida a saída da propriedade quando destinados para abate sanitário em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial.

De acordo com os últimos dados apurados em Arroio Grande, foram confirmadas três propriedades com focos de tuberculose e outras três propriedades com teste inconclusivo. Laura ressalta que os focos estão aparecendo agora pela realização dos exames, ou seja, há uma conscientização maior diante dessas exigências por parte das indústrias. Os exames só podem ser realizados por veterinários credenciados pelo Ministério da Agricultura.

Muitos casos de brucelose e tuberculose são encontrados quando os animais já são enviados para abates nos frigoríficos, o que não permite denominar como foco, mas evidencia que há casos da doença que muitas vezes não são diagnosticados. “É muito preocupante, já que essas doenças são zoonoses, ou seja, caso de saúde pública. Por isso frisamos a importância da educação sanitária”, ressalta Laura.

Por outro lado, o consumidor deve ter a atenção na hora de comprar os produtos, sempre buscando ver a procedência e atentar para o rótulo com as especificações necessárias, como forma de garantir a segurança e a real origem do produto.

Parceria facilita a realização dos exames aos produtores
Preocupado com a situação dos produtores, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais viabilizou a diminuição dos custos na realização dos exames. Para isso o órgão buscou uma parceria junto ao médico veterinário, que tem feito os exames com um valor acessível aos pecuaristas familiares sócios do sindicato.

O presidente do sindicato, João Cezar Larrosa, afirma que o caso é de saúde pública, sendo necessário haver um posicionamento por parte do Poder Público, como maneira de auxiliar os produtores que tiverem problemas em suas propriedades.
Cabe ressaltar que os produtores que tiverem animais abatidos por casos de tuberculose podem receber uma indenização do Ministério da Agricultura, também sendo disponibilizadas indenizações pelo Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), tanto para brucelose como tuberculose, desde que se cumpra as regras específicas de cada programa.

Orientação aos produtores
Tuberculose: Limpar os locais de uso comum dos animais, como galpões e leitarias, além de objetos, como cochos de alimentação e água, buçais, canzis, dentre outros; ter infraestrutura que auxilia a higienização, como locais com piso de concreto e paredes de fácil limpeza; permitir a circulação de ar e a entrada de sol; usar desinfetantes adequados, assim como a limpeza/higiene dos colaboradores na atividade. Todas as medidas de cuidados são necessárias, já que a tuberculose é uma enfermidade que não possui vacinação contra.

Brucelose: Um dos cuidados que o pecuarista deve ter é isolar fêmeas que abortam (para posterior teste). No caso de abortos, destruir de forma adequada (enterrar) para limitar o acesso dos demais a possível fonte de contaminação. Desinfeccionar as instalações e materiais e instrumentos que por ventura tiveram contato com o feto, placenta e demais fluídos; utilizar EPI´s (luvas, máscara, óculos) quando necessário na atividade pecuária, já que existe risco de contaminação pela pele, conjuntivas ou ferimentos; e vacinar as terneiras com vacina B19 dos três aos oitos meses de idade. Essa vacina, por possuir risco biológico, deve ser feita por veterinário credenciado. No caso da perda desse prazo, avisar a Inspetoria Veterinária do município para a tomada de providência mais acertada junto ao produtor e seu rebanho.

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