O Novembro Azul, campanha mundial de combate ao câncer de próstata, também coloca o cuidado com a saúde masculina em debate incentivando, principalmente, exames para diagnóstico precoce de doenças.
Conforme projeção do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa é de que 3.510 homens sejam diagnosticados com câncer de próstata ao longo do ano no Rio Grande do Sul. A cada 100 mil homens, a taxa de incidência aponta que 36,60 podem ter diagnóstico da doença.
Para o médico urologista Luiz Olimpio Jordão, o Novembro Azul também é um mês fundamental para falar da saúde do homem como um todo pois, ainda que o câncer de próstata seja uma das doenças com maior incidência em homens – atrás apenas do câncer de pele – outras questões devem ser tratadas com a mesma atenção. “Os homens morrem muito por acidentes, os homens têm problema de depressão, os homens têm doenças cardiocirculatórias e a gente tem que aproveitar esse mês para falar da saúde do homem como um todo, lembrar que tu tens que te cuidar dessas outras situações também é fundamental”, comenta.
Ele ressalta a disfunção erétil como um dos problemas que leva os pacientes a consultarem um urologista, reforçando o fato de o que parece ser uma questão emocional, psicológica, pode se tratar de uma questão circulatória ou outro problema mais grave.
“Dificuldade de ter ereção a gente sempre tem que investigar doenças cardiocirculatórias. Existem vários estudos que mostram que 50% das pessoas, em cinco anos, vão ter algum evento circulatório, a partir do momento que começa a ter disfunção erétil. Ou seja, é um marcador da saúde circulatória da pessoa”, explica. Jordão reforça que a investigação da doença deve ser completa, para averiguar a existência de qualquer problema ou alteração.

promover a saúde do homem também para outras doenças. (Foto: Natália Nornberg)
“Às vezes é emocional, como todo mundo pensa, mas também tem doença junto, tem colesterol, triglicerídeo alto, obesidade, doença cardíaca, hipertensão, diabetes, tudo isso provoca dificuldade de ereção e daqui a pouco tu ficas preocupado que é emocional, que a testosterona está baixa, e realmente pode estar baixa, mas na verdade essas doenças fatais a gente às vezes acaba relaxando, acaba não tendo informação, que é fundamental”, pontua.
O câncer de próstata
A próstata é uma glândula presente no sistema reprodutor masculino localizada abaixo da bexiga com função de, junto com as vesículas seminais, produzir esperma. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o câncer na próstata ocorre quando há uma multiplicação desordenada de células do órgão. Quando os sintomas aparecem, 95% dos tumores já se encontram em estado avançado, tornando a cura difícil.
Jordão aponta que há um pico entre os 50 e 75 anos dos cânceres mais graves. “A doença da próstata é uma doença da idade, ela vem com o tempo e quanto mais velho mais chance tu tens de ter câncer de próstata. Para a gente fazer uma analogia, a gente tem o sarampo nos primeiros anos de vida, as doenças têm faixas etárias, e o câncer de próstata pelas alterações hormonais, pelas degenerações que acontecem ele é mais frequente a partir dos 50 anos de vida”, detalha. No entanto, ele salienta que o câncer em questão possui desenvolvimento lento. “Desde o aparecimento do câncer de próstata até o óbito, têm estudos que falam em até 10 anos”, cita.
Por conta da hereditariedade, recomenda-se o exame de toque a partir dos 50 anos, mas para quem possui casos na família, o ideal é iniciar o acompanhamento médico antes.
A doença, ainda em forma inicial, não provoca sintomas, o que reforça a importância do exame preventivo. Já o câncer de próstata avançado pode causar sangramentos, dificuldade de urinar e infecção urinária. Mas o efeito não é apenas local, como explica o urologista. “Há uma dor óssea, porque ele invade os ossos e tecidos, então o câncer avançado vai por esse caminho e é por isso que a gente quer diagnosticar o câncer assintomático”, destaca.
Quanto ao diagnóstico, Jordão é enfático sobre a necessidade de fazer o exame de toque, que pode identificar pequenos tumores, uma vez que apenas o de sangue, conhecido como PSA, não terá a mesma eficiência. “Até porque há outras doenças que fazem o PSA se alterar, o crescimento prostático benigno, uma inflamação prostática benigna, inflamação da próstata, então para a gente diferenciar uma situação da outra o exame de toque ainda é fundamental”, garante.
Por muitos anos, a situação era tratada como tabu pelos homens sendo, por vezes, motivo de piada. É neste sentido que o Novembro Azul surge para desmistificar o processo de diagnóstico do câncer de próstata, demonstrando que o exame de toque é simples, rápido e indolor, levando em média menos de um minuto.
Na unidade de oncologia do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) são tratados 136 pacientes com diagnóstico de câncer de próstata. A chefe da Unidade de Oncologia, Cristiane Petrarca, diz que não foram abertas vagas excedentes para pacientes com a doença no setor, uma vez que não houve represamento da demanda. “Pacientes que a gente recebe na oncologia ou na radioterapia são pacientes que já estão diagnosticados com câncer de próstata, então esse paciente já tem uma biópsia confirmando o diagnóstico, são estes pacientes que chegam para nós”, diz.
A instituição também mantém estudos voltados para a área em seu Centro de Pesquisas. Um deles é voltado para onco-genomas, em pacientes com a doença avançada, e outro sobre a vigilância dos pacientes com câncer de próstata inicial, chamado de Vigia SUS, com proporção nacional.

de Pelotas (HE-UFPel) afirma que 136 pacientes
com a doença são tratados na instituição. (Foto: Divulgação)
Neste ano, as ações do Novembro Azul no HE também serão voltadas para a saúde geral do homem, abordando cuidados com atividades físicas, questões nutricionais, emocionais e de qualidade de vida, além dos cuidados durante o tratamento oncológico que, no caso do câncer de próstata, pode incluir quimioterapia, radioterapia, tratamento cirúrgico e, na maior parte das vezes, bloqueio hormonal.