
Segundo levantamento da Emater/RS, nos últimos 30 anos, de cada dez anos agrícolas, em sete ocorreram problemas relacionados à estiagem. No final de 2019 e início de 2020, no período de verão e outono, foram registradas perdas significativas nas diversas culturas em virtude da seca, o que acaba desestimulando o produtor, que além dos prejuízos por perdas nas culturas, precisa arcar com os custos da compra de água à propriedade, tanto para consumo humano quanto para a dessedentação animal.
Por isso, os governos municipal, estadual e federal oferecem programas direcionados à armazenagem de água nas propriedades, com a realização de projetos de açudagem com financiamentos de 80% a 100% do projeto pelo órgão público. À Emater, cabe o papel de elaboração dos projetos e laudos técnicos, observando as questões ambientais e técnicas, explica o extensionista e o engenheiro agrônomo, Rodrigo Prestes.
Segundo ele, existem 86 projetos de açudes em andamento em Pelotas, construídos a partir de programas municipais, estaduais e federais. Além disso, um consórcio público entre prefeituras e governo do Estado – que entra com as máquinas – garante ao produtor pagar apenas uma porcentagem dos custos. Ainda, muitos produtores buscam financiamentos diretamente nos bancos.
Através deste consórcio, dos 20 projetos previstos, 15 já foram executados. “Existe uma demanda muito grande por açudagem na região e, por isso, realizados todos os esforços de não deixar nenhum recurso ser perdido”, diz.
Outro programa do governo estadual, denominado Mais Água Mais Renda, prevê a execução de outros 20 açudes, que aguardam a chegada das máquinas. Em algumas propriedades, além da irrigação, os açudes se destinam à piscicultura, no total de sete projetos.
O produtor Murilo Schwonke Neitzke, com atividade leiteira, na Colônia Osório, 3º Distrito de Pelotas, foi o segundo beneficiado pelo programa de açudagem do consórcio. Segundo ele, 80% dos custos foram absorvidos pelos governos municipal e estadual, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural e Emater, cabendo a ele os outros 20%, o equivalente a R$ 3,5 mil. “Se não fosse esse programa, eu teria que desembolsar entre R$ 15 mil a R$ 16 mil”, ressalta.

Neitzke conta que no último ano passou três meses comprando água do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep) por causa da estiagem. Com o novo açude, ele acredita que não deve enfrentar problemas com a falta de água devido às dimensões da estrutura. “A parte mais funda chega a 4,8 metros de profundidade”, diz.
À frente da propriedade há um ano, se dedica à pecuária leiteira, atividade iniciada pelo pai há 38 anos, e fornece o produto para a Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul (Coopar), relação que já dura há 11 anos. A propriedade possui 28 vacas, 13 delas em lactação, com uma produção mensal de 6 mil a 7 mil litros, o equivalente a 300 litros diários.
Na propriedade de 12 hectares, além das pastagens de azevém, cultiva ainda o milho para silagem, com uma produtividade média de 32 a 35 toneladas por hectare. Com a estiagem do último ano, chegou a 20/21 toneladas por hectare. Com o novo açude, uma certeza: um verão mais tranquilo sem a preocupação com um dos principais insumos da atividade agropecuária, a água.