
A cultura do morango está em expansão na Região Sul, com um acréscimo na produção na área cultivada, em torno de 45% do último ano para cá, no município de Pelotas, afirma o extensionista da Emater Municipal, o agrônomo Rodrigo Prestes.
Segundo ele, encontram-se em plena produção nesta safra no município, 1,6 milhão de mudas cultivadas. O acréscimo na produção se deve, principalmente, ao aumento do cultivo em estufas da produção da fruta fora de época. “A necessidade de fruta em outras épocas do ano, especialmente para a Fenadoce, levava à importação, mas hoje os produtores locais já conseguem suprir esta demanda”, diz o agrônomo.
Um estudo realizado em 2018 pelo gerente regional da Emater, o extensionista Ronaldo Maciel, e apresentado no início deste ano, já apontava crescimento de 13,4% no número de mudas plantadas na região de 2017 para 2018, subindo de 1.974.296 mudas em 2017 para 2.278.995 em 2018 e vislumbrava uma perspectiva de crescimento para 2019 de 8,78%, com o plantio de 200.145 mudas a mais.
A produção total da fruta na região em 2018 chegou a 2.024,242 milhões de toneladas, 75,2% obtida no cultivo no solo em túnel baixo. O sistema semi-hidropônico foi responsável pela produção de 331 toneladas de fruta, 16,4% da produção total. A área cultivada foi de 50,37 hectares por 496 produtores. O sistema solo em túnel baixo dominou os plantios, adotado por 233 produtores e que consumiu 1.572.695 mudas. O semi-hidropônico foi adotado por 116 produtores e utilizadas 415.200 mudas.
O sistema convencional dominou a produção com 95,28% dos cultivos e o orgânico ainda foi inexpressivo com 4,72% da fruta. O principal destino foi o mercado in natura, para onde foi 95,3% da fruta. O restante foi vendido congelado. Entre as variedades mais plantadas estão o San Andreas com 31%, seguido pelo Camarosa, 26,2% e Albion, 21,4%. Aparecem, ainda, a Camino Real, com 14,3%; Benícia, 4,8% e Monterrey, 2,4%.
A área total cultivada no estado foi de 506,40 hectares e como maior produtor aparece o município de Ipê, com 80 hectares. Pelotas é o quinto maior produtor com 31,8 hectares e Turuçu, o décimo, com 7,4 hectares. A produção estadual em 2018 chegou a 23.730 mil toneladas produzidas por 1.946 produtores.
Na região, os maiores produtores por número de mudas foram Pelotas (1,4 milhão); Turuçu (319,8 mil); São Lourenço do Sul (160 mil); Canguçu (111,7 mil); Rio Grande (60 mil); Arroio do Padre (57,5 mil); Tavares (40 mil); Capão do Leão (31,6 mil); Morro Redondo (26 mil) e Piratini (23 mil).
Investimentos
Segundo Prestes, além de Pelotas e Turuçu, os mais tradicionais na cultura, pelo menos outros 16 municípios da região, alguns apesar de ainda inexpressivos, aparecem entre os que cultivam morangos, como Jaguarão, Santa Vitória do Palmar e Chuí, que não têm tradição nesta cultura. A safra tradicional começa entre os meses de setembro e outubro e se estende até dezembro e nesta época, há oferta bem maior do produto no mercado, o que leva o preço a cair. “A fruta fora de época tem preço melhor para o produtor, o que fortalece a cultura e possibilita investimentos”, diz.
O fortalecimento do produtor suscitou a criação de um grupo, formado por produtores e representantes de entidades, que vem se reunindo desde 2015. Com a realização de três a quatro reuniões por ano, o grupo elabora estratégias, difunde tecnologias, incentiva a troca de ideias e experiências e é responsável pela realização da Festa do Morango, que ocorre, na comunidade Redentor, no Monte Bonito e, neste ano terá sua terceira edição, nos dias 9 e 10 de novembro.
O cultivo em estufas semi-hidropônico (fora do chão) possibilita o manejo com redução de 80% a 90% o uso de agrotóxico, diz. “Antes, no sistema convencional, no chão, 80% a 90% da fruta era para a indústria”, ressalta. A produção em pequenas propriedades levava à repetição de áreas e ao surgimento de doenças.
“A ideia surgiu pela necessidade de outras áreas por causa das doenças no solo e também pela questão ergonômica, já que os substratos são colocados sobre estruturas que facilitam o trabalho do agricultor”, comenta. O método reduz a dor nas costas, porque não é preciso trabalhar agachado, bem como o uso de agrotóxicos, além de viabilizar a produção durante o ano todo.
Opção pelo sistema semi-hidropônico
Na propriedade do casal Lidiane e Daniel Neitzke, a reconversão do solo para as estufas vêm ocorrendo há três anos. Na pequena propriedade, situada no Corredor do Passo da Capivara, localidade de Cerrito Alegre, 3º Distrito de Pelotas, eles mantêm três estufas com a variedade chilena San Andreas, ideal para dias neutros, com 1,6 mil pés em cada uma (total de 4,8 mil pés).
A cultura do morango está presente na propriedade desde 2007. A produção no solo ainda resiste, com a manutenção de três mil pés neste sistema, em túneis baixos, das variedades de origem argentina, Benícia, Fronteira e Mercedes. Nestas áreas, a produção média, entre os meses de agosto e dezembro, chega a 1,5 quilos por planta. Já nas estufas, a produtividade gira em torno de um quilo a 1,2 quilos por planta durante todo o ano. No último ano, a produção total na propriedade chegou a sete toneladas da fruta.
Para o produtor, a principal vantagem, além da questão ergonômica na hora da colheita, é a possibilidade de ofertar a fruta o ano inteiro, com a obtenção de melhores preços.
“Durante a última safra, a remuneração ao produtor girou em torno de R$ 11 e fora da época chegou a R$ 17 o quilo”, comenta. Segundo ele, mercado não falta, e além das fruteiras, parte da fruta é adquirida pela prefeitura, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e parte pela Cooperativa dos Produtores Agrícolas do Monte Bonito (Coopamb).
Morango no quintal
Desde o ano passado, cresce a produção de morango nas cidades. São as denominadas “hortas urbanas”, que oferecem a possibilidade de produção em pequenos espaços.
O advogado Daniel Montelli, morador na Praia do Laranjal, é um destes empreendedores, que montou uma estufa com capacidade para 2,5 mil mudas, no terreno ao lado da sua casa. Desde junho, ele maneja duas mil plantas da variedade San Andreas, já que a intenção é produzir o ano inteiro.
“O meu primeiro objetivo foi qualidade de vida, ficar mais com a família”, conta Montelli, que exerce a profissão de advogado há quase 13 anos. “Estava um pouco cansado da profissão e estou gostando do desafio, pois minha família não é rural, nunca plantei nada e até a qualidade do meu sono já melhorou”, diz.
Ciente do desafio, ele estudou, se informou e, principalmente, buscou a ajuda do extensionista da Emater, que segundo ele, foi fundamental para chegar onde chegou. As primeiras frutas já estão em desenvolvimento e ele espera que até o final do mês de setembro, tenha a sua primeira colheita. “Até o final de outubro, início de novembro, a maior parte das plantas já vai ter frutificado”, espera o produtor.
Como a capacidade da estufa é para 2,5 mil plantas, ele completou a produção com rúcula, cebolinha e salsinha, que serão usadas no dia a dia da casa. A estrutura foi toda construída por ele mesmo, com alguma ajuda. Os tratos culturais, como plantio e poda, integram a sua rotina.
O sistema de fertirrigação é automatizado e utiliza água da chuva e de poço tratada, diz. “Só utilizo defensivos biológicos e certificados”, assegura. A produção é sem agrotóxico, mas não é orgânica porque em vez de solo é utilizada casca de arroz carbonizada, ressalta. A expectativa é de produzir entre 800 gramas a 1,2 quilos por pé, em torno de 200 quilos de fruta por semana.
Turuçu é pioneiro no sistema
O primeiro passo para a implantação do sistema semi-hidropônico na Região Sul foi dado durante o 1º Seminário Regional do Morango, realizado em Turuçu, ressalta a chefe do Escritório Municipal da Emater Turuçu, Alessandra Storch.
“As nossas estufas de morango semi-hidropônicos serviram de base para a implantação em outros municípios e inclusive, a nossa técnica responsável pelo morango, ministra cursos sobre o cultivo da fruta, no Centro de Treinamento da Emater em Canguçu”, salienta.
Conforme a extensionista, o município possui hoje aproximadamente 70 produtores e 250 toneladas da fruta, produzida durante o ano inteiro, em função das estufas de produção semi-hidropônicos (produção fora do solo). “Cultivamos variedades chilenas e argentinas, e temos a Associação dos Produtores de Morango de Turuçu (APMT), onde participam mais de 60% dos produtores locais”, diz. Ela explica que estes produtores recebem subsídio de 20% da Prefeitura na aquisição das mudas, através do Pro-morango, política pública criada pela administração municipal para incentivo à produção.
No mês de outubro, o município promove a Festa do Morango e da Pimenta, que neste ano ocorrerá nos dias 26 e 27, com variadas atrações, entre elas, a feira da agricultura familiar, onde são comercializados além dos alimentos produzidos nas pequenas propriedades, doces e conservas à base de morango e de pimenta e os produtos in natura.

do Laranjal, montou uma estufa com capacidade para 2,5 mil mudas no terreno ao lado de sua casa (Foto: Luciara Schneid/JTR)