Desmame precoce é opção para períodos de estiagem

Aumento na taxa de prenhez das matrizes pode chegar a 20%. (Foto: Paulo Mariante)

No mês de janeiro, 182 terneiros e terneiras da raça Devon, nascidos no final de 2021, foram desmamados na Estância Guajuvira, em Pedras Altas, no Sul do Rio Grande do Sul. Com taxa média de prenhez de 90% e picos de até 95%, a propriedade é referência na produção de terneiros, especialmente com a aplicação da técnica de desmame precoce. “Eles vão nascendo em épocas diferentes e o desmame é aos poucos. O trabalho e o investimento compensam, temos vacas que deram cria oito anos seguidos”, garante a pecuarista Lia Tavares Mariante, que introduziu o desmame precoce, no rebanho, há cerca de 25 anos. “Uma grande vantagem é que, sem a cria ao pé, as vacas melhoram a condição corporal, o que garante a reconcepção e um bom estado para passar o inverno. Além disso, há uma melhora na fertilidade, meus compradores confirmam que já houve até 100% de prenhez em vaquilhonas de dois anos”, complementa.

O desmame precoce, surgido na década de 80, consiste no aparte do terneiro antes da idade convencional, que é a partir dos seis meses, passando à oferta de alimentos sólidos. A técnica melhora a condição corporal da vaca e, consequentemente, proporciona condições físicas para que a matriz volte a emprenhar em 45 dias.

Pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 2019, constatou que o desmame precoce de bovinos de corte pode aumentar a taxa de prenhez das matrizes em cerca de 20%. Os resultados positivos se confirmam nos rebanhos Devon, que registraram, também, uma manutenção no ganho de peso dos terneiros.

Para o diretor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Devon e Bravon (ABCDB), Lucas Hax, o desmame precoce é uma ferramenta para incremento na taxa de prenhez do rebanho. “Pode ser utilizada em períodos de seca, quando há escassez de forragem, reduzindo a demanda energética da vaca e proporcionando uma maior disponibilidade de energia para o retorno das funções reprodutivas”, resume o médico veterinário.

Hax explica que o desmame precoce pode ser utilizado de forma pontual no rebanho, ou seja, em vacas com baixa condição corporal e vacas em anestro, o que aumenta as chances de reconcepção dessas matrizes. “Quando realizado de maneira correta, com volumoso, concentrado e água de qualidade e nas quantidades adequadas, além de uma boa estrutura física, o terneiro desmamado precocemente pode chegar à idade tradicional de desmame com o mesmo resultado dos terneiros que seguiram mamando”, afirma.

Nesse contexto, o Devon e o Bravon apresentam ótimas respostas à técnica do desmame precoce. “A destacada fertilidade das duas raças as torna muito sensíveis a esse manejo, resultando em um alto percentual de vacas em cio logo após o aparte dos terneiros. Da mesma forma, a docilidade dos terneiros contribui para a rápida adaptação pós desmame, garantindo um consumo precoce dos alimentos ofertados e consequentemente um bom desempenho”, acrescenta o diretor técnico da Associação.

Para Simone Bianchini, presidente da ABCDB, “o Devon e o Bravon são opções interessantes aos criadores. Nesses tempos de estiagem, se sobressai uma das principais características dos nossos animais, que é a rusticidade. A diferença corporal em relação a outras raças é visível nos campos e isso deve ser levado em consideração”, finaliza.

Lia Mariante concorda. “Este ano, a pastagem está escassa por causa da estiagem, estamos num miserê pavoroso. O que vale é que o Devon se adapta bem e consegue aproveitar todo o alimento disponível. Ele é muito rústico e leva vantagem por isso”. Na Guajuvira, só são afastados das 300 vacas de cria os terneiros com mais de 80 quilos, ou 60 dias. “No início, eles ficam na mangueira recebendo ração especial para desmame e milheto, por cima botamos um pastinho. Depois de uma semana, eles vão para um campo com pasto mais fechado, mas ainda recebendo ração diária. Só depois eu separo as fêmeas dos machos”, explica. Os animais são comercializados nos meses de março e abril, antes mesmo do desmame normal, que fica entre abril e maio. “Eu vendo os machos e as terneiras excedentes porque não posso ficar com toda a produção, aumentaria muito o nosso trabalho e a minha área não é grande. O pessoal fica encantado com a produtividade do Devon e já está procurando, mas eu ainda nem desmamei todos. Depois de 15 de março eu começo a negociar”, avisa aos interessados.

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