Chuvas e alagamentos prejudicam a colheita da soja e acumulam prejuízos em todo o Estado

(Foto: Armindo Schuch)

As chuvas, que variaram entre 77,9 milímetros em Santa Vitória do Palmar e 207 mm em Canguçu, prejudicam os trabalhos de colheita da soja em todo o Rio Grande do Sul. Na zona sul, em que as precipitações foram intensas praticamente todos os dias na última semana, a situação não foi diferente. As atividades de colheita estão com atraso geral em todos os municípios. A Emater, em seu relatório semanal, indica área colhida de 64% das lavouras.

De acordo com o gerente regional da Emater de Pelotas, Ronaldo Maciel, a região foi responsável pelo plantio de 527.960 hectares de soja, na safra 2023/2024. Da última semana para cá, a colheita evoluiu pouco, quando faltava colher ainda 58% da área total. “A soja deve responder por 68% do total das perdas na agropecuária da região”, afirma Maciel. Segundo ele, os maiores volumes de perdas na cultura estão nos municípios de Santa Vitória do Palmar, São Lourenço do Sul, Jaguarão e Arroio Grande.

Os 36% restantes estão por colher, o que ocorrerá assim que melhorarem as condições de solo e das plantas. Esta colheita só acontecerá se for viável, caso contrário, os produtores passam a grade aradora ou niveladora e aproveitam para incorporar as pastagens de inverno, informa a Emater.

As perdas são significativas também em Pelotas, com muitas áreas alagadas.  É o caso do casal de produtores Giovani e Jaqueline Gehling, da Colônia Osório, 3º distrito do município, que tiveram toda a sua área de 23 hectares perdida. O lucro bruto esperado de R$ 140 mil foi literalmente por água abaixo. Segundo Jaqueline, a única esperança, que era de obter alguma compensação através do seguro, está sendo negado pelos bancos. Primeiro ano em que o casal apostou na soja, um novo cultivo terá que ser repensado e a área, destinada no próximo ano, quem sabe para o plantio de arroz.

Quando sem precipitações, os dias se mantiveram 100% nublados e com alta umidade relativa. Os solos encharcados impossibilitam o tráfego de máquinas, principalmente das colhedoras. Com isto, todos os produtores ficaram impedidos de colher e a maioria estão dando como 100% perdidas estas lavouras de soja por colher.

De maneira geral, as lavouras de soja que já estavam com as produtividades abaixo do esperado devem ficar ainda mais improdutivas com os efeitos do excesso de chuvas. A produtividade de referência até o momento está em 1.584 quilos por hectare ou 26,40 sacos por hectare.

Em Santa Vitória do Palmar, muitas lavouras de soja permanecem alagadas, resultando em 100% de perdas. Quem se dispôs a colher a qualquer custo, registrou grãos com alta umidade, entre 25 a 36%. Isto resultou em pátios e estacionamentos de cooperativas, cerealistas e silos/secadores armazenadores da região lotados com caminhões carregados com o grão. O tempo de secagem dos grãos é bastante demorado na comparação com a secagem daqueles colhidos dentro da normalidade, ou seja, próximo de 16% de umidade.
Os dias chuvosos, também impediram a abertura das lonas dos caminhões de proteção das cargas, o que prejudicou ainda mais a qualidade dos grãos dentro das carrocerias. Piratini e Canguçu registram colheita em 85% das lavouras. Os municípios de Morro Redondo, Tavares e São José do Norte têm 100% das áreas colhidas.

Nas lavouras ainda por colher, há relatos de que as vagens estão abrindo e os grãos germinando, mofando, apodrecendo e outros com aspecto de ardidos, sem possibilidade de comercialização. Nas áreas colhidas após as chuvas excessivas, o percentual de grãos com aproveitamento comercial tem ficado entre 10 e 30%, gerando ainda um desconto quando somado com a umidade dos grãos entre 70% e 90% da carga. As produtividades de referência devem reduzir drasticamente em todos os municípios.

Os produtores com perdas expressivas pelas adversidades climáticas estão acionando o seguro agrícola. Os que não têm as lavouras asseguradas, tentam a repactuação de dívidas junto aos cerealistas e demais financiadores da safra, jogando a quitação dos débitos para as safras futuras.

Os preços pagos aos produtores da região operam com algumas variações entre R$ 122,00 e R$ 141,50 por saco de 60 quilos. O maior preço foi registrado em Rio Grande a R$ 141,50 e o menor em Santana da Boa Vista, de R$ 122,00.

Os produtores com perdas expressivas pelas adversidades climáticas estão acionando o seguro agrícola. Os que não têm as lavouras asseguradas, tentam a repactuação de dívidas. (Foto: Armindo Schuch)

Estado

No Rio Grande do Sul, a área colhida alcançou 91%. A Emater trabalha para mensurar o impacto das enchentes na safra de soja 2023/2024. O sistema de registro de perdas segue aberto em razão das dificuldades de acesso a muitos pontos, e não há previsão de quando ficará pronto.

O último levantamento apresentado durante a Expodireto indicava uma safra superior a 22,24 milhões de toneladas, mas estes dados se referem ao panorama no mês de março, antes das chuvas, pois ainda não é possível quantificar em números o quadro atual, informa a Emater. O Estado semeou nesta safra 6.681.716 hectares da oleaginosa. A produtividade esperada era de 3.329 quilos por hectare.

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