As primeiras impressões, com uma floração muito boa e horas de frio dentro da média, apontavam para uma boa safra de pêssego. No entanto, as expectativas não se confirmaram, pois as horas de frio vieram na hora errada, o que impediu boa parte das flores de se transformarem em frutos. Além disso, o mês de outubro se apresentou chuvoso na região, com 14 dias de precipitações, favorecendo as doenças fúngicas e dificultando a polinização. Este é o cenário descrito pelo extensionista da Emater Pelotas, o agrônomo Rodrigo Prestes, que vê uma quebra já nas variedades precoces entre cinco e 10%. “Transformando isso em valores, se chega a mais de R$ 2 mil por hectare”, estima.
Uma série de fatores climáticos negativos na floração e na polinização frustraram as expectativas de uma boa safra já nas variedades precoces e, a torcida é para que não se confirme a perspectiva de seca, mais adiante, nos 20 a 25 dias finais, o que poderia influenciar no tamanho da fruta nas variedades mais tardias, resultando ainda em menor remuneração ao produtor, na hora da classificação. O preço estipulado entre produtores e indústria para a safra ficou em R$ 1,30 para a fruta de primeira e de R$ 1,05 a de segunda.
Levando-se em conta que a safra deste ano atrasou um pouco, em torno de 15 dias em relação ao normal, a colheita das variedades mais tardias deve se estender até 15 de janeiro. Mas nem tudo está perdido. “Mesmo com todas estas adversidades, o que se observa é a produção de frutas de excelente qualidade”, diz o técnico.
Pelotas é o maior produtor de pêssego do Brasil, com área superior a 3 mil hectares com a fruta. Mais de 600 famílias estão envolvidas na atividade e 80% dos pomares estão localizados em três distritos: Cascata (5º), Quilombo (7º) e Rincão da Cruz (8º). Da fruta produzida, 90% é destinada à indústria e 10% é vendida para consumo in natura. A produtividade média fica em torno de 20 a 30 quilos por planta. Na região há em torno de seis mil hectares, sendo que Morro Redondo e Canguçu também aparecem como bons produtores.
Entre as variedades mais plantadas, por ordem de colheita, e destinadas à indústria estão Bonão, Precocinho, Sensação, Granada – de dupla finalidade – Jade, Esmeralda, Maciel e Eldorado. De mesa, a mais plantada é a Chimarrita. A produção anual tem se mantido entre 30 a 35 milhões de quilos.
Quebra pode chegar a 40% estima presidente da associação
Não bastassem todas as adversidades climáticas, o produtor ainda precisa lidar com um outro problema, o ataque dos pássaros. Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Pêssego da Região de Pelotas (APPRP), Mauro Scheunemann, não há muito o que fazer em relação a isso, e o produtor assiste à perda de 30 a 40 frutas por pé, o que somado a outros fatores, confirma a quebra de cinco a 10% nas primeiras variedades, diz. No geral, ele estima que a produção da fruta pode ser pelo menos 40% menor nesta safra, que recém está começando.
O frio, que num primeiro momento ajudou as plantas a expressarem todo o seu potencial, acabou atrapalhando o desenvolvimento das frutas. Com a colheita começando, as incertezas continuam, no entanto, a indústria já estabeleceu o preço da fruta em R$ 1,30 e R$ 1,05, e nenhum centavo a mais, segundo o produtor, bem inferior ao que foi proposto a fim de cobrir os custos de produção.
Diante deste quadro, a saída é migrar para a fruta in natura, para se manter na atividade, diz Scheunemann, que optou por este nicho de mercado e consegue comercializar sua fruta entre R$ 1,80 e R$ 2 o quilo.
Indefinição também na indústria
A expectativa de quebra gera indefinição também na indústria, que deve começar a planejar a sua produção no finalzinho do mês de novembro e primeiros dias de dezembro, diz o representante do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas e região (Sindocopel), Cláudio Almeida.
Segundo ele, 12 indústrias, distribuídas entre os municípios de Pelotas, Capão do Leão e Morro Redondo são responsáveis pela industrialização da fruta com potencial instalado para 55 milhões de latas. Na safra passada, 2018/2019, foram produzidas 30 milhões de latas. A safra em que houve a maior produção dos últimos anos foi em 2011/2012, com 62 milhões de latas.
Festividades divulgam e incentivar o consumo da fruta
No dia 1º de dezembro, no Salão Indústria Show, Rincão da Caneleira, 8º Distrito, será realizada a Festa da Abertura da Colheita. Até o dia 7 de dezembro ocorre a 6ª edição da Quinzena do Pêssego. A exemplo do morango, bancas fixas e itinerantes, nos principais bairros, facilitarão a oferta da fruta in natura à população. Os preços praticados são de R$ 3 a R$ 5, de acordo com a variedade. A realização é da Prefeitura de Pelotas, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com o patrocínio do Sicredi e apoio da Emater, Embrapa, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, APPRP, Cooperativa dos Apicultores e Fruticultores da Região Sul (Cafsul) e Sindocopel.
No domingo (1º), as atividades iniciam às 9h, com abertura ao público e comercialização da fruta, e encerram às 21h30. A cerimônia de abertura da colheita ocorre às 11h, na propriedade do persicultor Dari Bosenbecker. Segundo Prestes, além da venda de pêssego e derivados, como geleia, suco, cucas, tortas, compotas, doces e outros, Emater e Embrapa prepararam um espaço técnico dedicado ao produtor, onde serão abordados alguns temas relacionados aos principais problemas do setor, tais como morte precoce do pessegueiro, controle das moscas das frutas e apresentação de coleção das principais cultivares da Embrapa, bem como os lançamentos, por exemplo, da BRS Jaspe e BRS Serenade.
Além disso, haverá o concurso da melhor fruta, a mais doce, de maior tamanho, melhor apresentação, entre outras, para mostrar que se produz fruta de qualidade, diz. “Uma das novidades na festa e por iniciativa dos produtores, é a oferta gratuita por visitante de duas frutas para degustação”. A entrada é gratuita com pagamento apenas do estacionamento, no valor de R$ 10 por veículo.
Programação da festa de abertura da colheita do pêssego
9h: Abertura ao público/comercialização
10h: Mateada
11h: Abertura da Colheita, na propriedade do produtor Dari Bosenbecker
12h: Almoço-dançante no salão principal
13h30: Apresentação da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Nestor Elizeu Crochemore
14h: Abertura oficial
14h30: Concurso do Melhor Fruto/ lançamento de cultivares e do livro “500 perguntas e 500 respostas – pêssego, ameixa e nectarina”
15h: Banda Sul Brass
16h30: Mulita Show
17h30: Banda Sul Brass
21h30: Encerramento