Participantes da audiência pública da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da Assembleia Legislativa, realizada na noite de quarta-feira (24), desaprovaram a venda da subsidiária Banrisul Cartões S. A. pelo governo do estado. O evento discutiu as perspectivas do Banrisul na conjuntura do mercado bancário brasileiro e a possibilidade de venda ou operação financeira envolvendo o banco estatal gaúcho ou suas subsidiárias.
O presidente da Comissão e proponente do debate, deputado Zé Nunes (PT), lamentou a ausência de representantes do governo do estado e da diretoria do Banrisul no encontro. O também presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público, falou da sua convicção de que o banco é uma ferramenta de política de desenvolvimento econômico e a garantia de inclusão bancária para diversos setores da sociedade gaúcha.
Sobre a subsidiária de cartões do Banrisul, o deputado destacou que a Banrisul Cartões S.A. administra a rede Vero e a emissão de cartões de benefícios e empresariais BanriCard, contando com 143,5 mil estabelecimentos credenciados ativos e 6,3 mil convênios ativos, respectivamente, em dezembro de 2020. “A importância da Banrisul Cartões pode ser medida pela sua participação no lucro líquido consolidado do Banrisul. Entre 2015 e setembro de 2021 a Banrisul Cartões foi responsável por 24% desses lucros”, observou.
Zé Nunes lembrou que em julho de 2021, em fato relevante ao mercado, o Banrisul comunicou que decidiu iniciar um processo visando a implementação de uma operação estratégica tendo por objeto o segmento de negócio de meios de pagamento e cartões, consolidado na sua controlada Banrisul Cartões S/A. “Atualmente pode não ser o momento mais adequado, mas tenho convicção de que a privatização do Banrisul e de parte dele está na Ordem do Dia da administração Eduardo Leite”, analisou.
O deputado informou que a Comissão de Economia encaminhará ao governo do estado e à diretoria do Banrisul documento expressando a rejeição à privatização do banco e à venda da Banrisul Cartões.
O economista, técnico do Dieese e professor da UFRJ, Fernando Amorim, falou sobre a oferta de crédito por parte do sistema bancário nacional. Segundo estudo realizado pelo Dieese, no RS, 76% do crédito ofertado é de bancos estatais. Ele recomendou que o Banrisul volte ao seu papel fundamental como braço de políticas públicas dos governos.
Ricardo Hingel, ex-diretor do Banrisul, condenou a venda da subsidiária de cartões. “Que se for confirmada, destruirá ainda mais o valor Banrisul”, alertou. “O problema não é a falta de capacidade financeira do seu controlador, muito pelo contrário, a questão está relacionada à incapacidade gerencial de expandir suas operações”, afirmou. Ricardo entregou ao presidente Zé Nunes um estudo diagnóstico sobre a venda da Banrisul Cartões.
A diretora da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS), Denise Correa, defendeu o caráter público do Banrisul. Ela declarou que vender a Banrisul Cartões agora é ferir de morte o banco. “Ela é a alma do Banrisul”, acrescentou. Sobre a importância social do banco e da subsidiária, Denise citou a devolução do ICMS para famílias carentes através do BanriCard. Para ela, o momento é de fortalecimento das políticas e empresas públicas.
O vice-presidente da CUT RS ex-presidente do Sindbancários, Everton Gimenes, disse que parte da venda do Banrisul é um crime contra a economia e o patrimônio do Estado do Rio Grande do Sul. Para ele, não faz sentido vender uma subsidiária que representa 25% do lucro do Banco. Gimenes afirmou ainda que só se justifica a venda do Banrisul com o compromisso do governador Eduardo Leite com o Mercado. “Que tem interesse nos ativos do Banrisul”, analisou.
Também o presidente do Sindibancários de Porto Alegre e Região, Luciano Barcellos expressou indignação com a política de desmonte do banco que, segundo ele, passa pela venda da Banrisul Cartões, pela falta de reposição de pessoal e pelo fechamento de agências. “A venda da joia da coroa não faz sentido, não tem explicação; e é um crime contra a sociedade gaúcha”, protestou.
Já o ex-presidente do Banrisul, Tulio Zamin, reconheceu a desmotivação dos servidores do Banrisul e a percepção dos clientes de apatia gerencial do banco, em relação a outros instituições atuantes no mercado bancário. Ele declarou que é contra a venda da Banrisul Cartões e cobrou uma estratégia de crescimento da instituição. “Não haverá perspectivas de crescimento nesse mercado competitivo de novas tecnologias, se o Banco não pensar e não estiver uma estratégia clara”, posicionou-se. Para o ex-presidente, a Banrisul Cartões é estratégica para o Banrisul e, segundo ele, pode ser uma vulnerabilidade, dependendo do modelo adotado. Ele indicou a procura por mercados fora do estado e com empresas de tecnologias através de parcerias e não na abertura de capital do Banco. “A Banrisul Cartões pode se desenvolver com capital e tecnologias próprios”, asseverou. Zanim observou que o banco estatal gaúcho tem uma fonte de captação estável e com preços compatíveis. “Portanto a Vero, tem um papel estratégico na perspectiva de crescimento do banco”.
Também se manifestaram, reprovando a venda do Banrisul Cartões, os diretores do SindBancários de Porto Alegre, Tiago Pedroso e Ana Guimaraens e Sergio Hoff, diretor da Fetrafi-RS.