Pelotas: Fotojornalista da prefeitura ganha concurso nacional com imagem que retrata a pandemia

Foto vencedora do concurso retrata a chegada de vacinas contra a Covid-19 na aldeia Kaingang Gyró, em 2021. (Foto: Michel Corvello)

No dia 26 de julho, o fotojornalista da Assessoria Especial de Comunicação (Ascom) da Prefeitura de Pelotas, Michel Corvello, de 29 anos, recebeu o reconhecimento por um trabalho realizado durante a pandemia de Covid-19. Com o primeiro lugar da categoria Saúde do concurso Olhares da Filantropia promovido pelo Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas, Corvello viu a consagração de um trabalho que lhe enche de orgulho.

Nascido em Cristal, ele fala com orgulho que é o primeiro morador natural da cidade a se formar jornalista, mas essa história começou um pouco longe das câmeras fotográficas, em frente ao computador. Antes de ingressar no jornalismo, Corvello iniciou sua jornada na área da informática, cursando Ciências da Computação, mas viu que aquilo não era o que realmente amava fazer. Por já ter experiência em trabalhar com o público, ele viu na comunicação algo que poderia se identificar.

Em 2017, já como aluno de Jornalismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Corvello começou como estagiário na Prefeitura do município e foi no Paço Municipal que ele de fato descobriu qual área seguir. “No começo eu fui um pouco da redação, fui fazendo uma coisa e outra e quando eu comecei a lidar indiretamente ou diretamente com a foto eu nunca mais parei. Primeiro comecei nas edições, editando fotos no estágio, daqui a pouco eu já estava fotografando nas pautas. Enfim, quando eu entrei nesse meio eu não quis mais sair, eu pensei ‘é ali o meu lugar, é o que eu gosto de fazer e vou buscar para o resto da minha vida, porque eu sou apaixonado pelo que eu faço’”, relembra. Após dois anos estagiando ele foi contratado como fotógrafo da Ascom, cargo que já ocupa há mais de seis anos.

Há seis anos como fotógrafo da Assessoria Especial de Comunicação da Prefeitura Municipal de Pelotas, cristalense Michel Corvello afirma gostar de mostrar o que considera invisível. (Foto: Stéfane Costa/JTR)

A paixão foi tão forte que até mesmo seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi fotográfico. “Eu fiz meu TCC baseado no cotidiano da cidade aqui no Centro Histórico, eu produzi um fotolivro só com fotos do cotidiano, 150 páginas mais ou menos. E aquela época me despertou muito forte que meu trabalho era muito importante para contar histórias, eu queria usar isso para mostrar para as pessoas”, explica.

O fotolivro ao qual se refere ganhou o nome de “Cotidiano pandêmico: nas ruas de Satolep”, cuja ideia surgiu em meio à pandemia e seu impacto social. “Como eu já era fotógrafo eu sabia que a gente estava vivendo um tempo que era inédito na sociedade, então aquelas fotos que eu fazia, tanto para o meu TCC, quanto arquivo pessoal e meu trabalho aqui, de alguma forma elas iriam entrar para a história”, pontua.

Ao longo dos trabalhos, Corvello foi descobrindo mais detalhes sobre o mundo fotográfico e, conforme amadurecia na profissão, percebeu que gostava de mostrar o que era considerado invisível. “Eu sempre procuro dar enfoque para as pessoas com mais dificuldades na nossa sociedade, quem está em situação de rua, vulnerabilidade social, as pessoas que são mais invisíveis na sociedade, é justo elas que eu procuro tentar dar enfoque para ver se a gente diminui a questão da desigualdade no nosso país”, reforça.

Sobre a fotografia vencedora, ele explica que trata-se do registro de um momento único na aldeia Kaingang Gyró, em 21 de janeiro de 2021, com grande importância pessoal e histórica.

“A gente entrou em hospital, foi em vários locais bem vulneráveis e estava todo mundo esperando chegar a vacina. Quando chegou na aldeia indígena, especificamente, que foi quando eu fiz essa foto, os indígenas estavam desprotegidos, eles se curam com remédios naturais e é uma questão cultural deles, de não ir no hospital. Aí quando chegou a vacina lá eu me lembro que o cacique foi receber a equipe de saúde e a gente, todos de EPI [Equipamento de Proteção Individual] para proteger eles e em respeito a eles. O cacique foi indo em direção a aldeia junto com os profissionais da saúde, aí ele ficou bem no meio de onde o pessoal tava caminhando e eu lembro que eu vi a aldeia toda ao fundo, eles carregando a vacina e eu pensei ‘é agora a chance de eu fazer uma foto emblemática’, e fiz”, relata.

Mas Corvello conta que quase ficou de fora do concurso. Ele ficou sabendo da premiação através de um tio que trabalha na área da saúde e, motivado pela questão social do reconhecimento, partiu para a busca da foto perfeita em seu acervo.

Por conta do curto tempo que restava para realizar a inscrição, apenas dois dias, o fotógrafo acabou optando por uma imagem que não mostrasse o rosto das pessoas mas que, ainda assim, fosse impactante. “No final eu escolhi essa foto que foi vencedora e acredito que era para ter sido, casou certinho no final, eu consegui contar uma história boa com a foto”, completa.

Esta foi a primeira vez que ele se inscreveu em um concurso de nível nacional e, a partir de agora, garante que não será a única.

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