Do acolhimento à Universidade: conheça a história de Luana

Jovem com rompimento de vínculos familiares e deficiência intelectual, moradora da Residência Inclusiva do Município, conquista vaga para Educação Física na UFPel. (Foto: Rodrigo Chagas)
Livros e apostilas foram a base do estudo da Luana Machado de Campos, chamada, recentemente, para assumir uma vaga no curso de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). As aulas começarâo em março e ela já está pronta para aprender muito. O que Luana tem de diferente de outros “bixos” de Pelotas?  Tem deficiência intelectual e foi abrigada pela Prefeitura, aos 16 anos, depois da morte dos pais. Ao completar 18 anos, mudou-se para a Residência Inclusiva, um equipamento da rede socioassistencial, mantido pela Prefeitura, destinado a pessoas com deficiência e que não possuem suporte familiar.
Aos 23 anos, Luana demonstra maturidade, consegue avaliar as dificuldades que enfrentou quando foi acolhida, em relação aos relacionamentos e vontade de ir embora, o que não acontece mais. “Vou gostar de estudar, aprender coisas novas. Ê importante para mim, para todo mundo”, afirma a estudante.
Além da equipe do Município, outros moradores da casa também contribuíram para a mudança de comportamento. Ela fala com carinho e detalhes sobre os conselhos que recebeu do amigo André (nome fictício) que, atualmente, está em processo de reinserção familiar, uma das metas do serviço, sempre que possível. “Ele dizia: Luana, não é assim”, lembra a jovem. Ela explica as mais variadas orientações recebidas, desde como funcionam as questões burocráticas para a chegada e saída da casa, até sobre não interferir na vida dos outros para evitar brigas.
O titular da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), José Olavo Passos, ressalta que histórias como a da Luana “servem de estímulo para que a gente sempre acredite e invista na capacidade de superação do ser humano.”
A afirmação de Passos é reforçada pelo psicólogo da Residência, Helton Luiz Godinho Bederode, que avalia que “o trabalho se torna gratificante e cumpre o seu papel quando alcançamos a reinserção social. O desacolhimento institucional, em andamento, do André, e o ingresso da Luana na Universidade são grandes vitórias que nos incentivam a seguir.”
Persistência foi seu diferencial
Luana, agora universitária, realizou a prova do Enem duas vezes. Foi chamada com as notas do primeiro teste, em 2020. Os estudos para esse exame aconteceram com o apoio dos educadores e equipe técnica da Residência, que a ajudaram a se organizar e ofereceram livros e apostilas. Até receber o resultado positivo, ela não relaxou, e seguiu estudando.
Quando a casa recebeu um computador para uso dos moradores, em 2021, Luana começou a assistir a vídeos de aulas preparatórias e a fazer simulados. A escolha do curso não foi fácil, precisou de ajuda da equipe, pois ela se interessou por todas as opções apresentadas. Agora, já matriculada, faz planos para depois de formada. Pretende começar a trabalhar com crianças pequenas e depois com adultos.
Sonhos que saem do papel
O sonho de ter um notebook, apenas seu, foi realizado no último Natal, presente de uma voluntária. Até o fim das férias, o equipamento será utilizado para assistir a filmes e ouvir música, os programas preferidos dela. Após o início das aulas, Luana usará o equipamento para os muitos trabalhos que virão com a faculdade.
Quando pedem um conselho para quem está com dificuldades para estudar, mas que também quer entrar em uma universidade, diz para buscar livros e apostilas, que não é preciso desistir por falta de recursos e que com material da biblioteca é possível ser aprovada.

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