É possível reunir cem anos de literatura em duas mil trezentas e noventa páginas? Sim, foi possível! Fenômeno cultural que intencionou ser descrito e interpretado com espírito crítico e perspectiva historiográfica, História da Literatura no Rio Grande do Sul foi impresso às vésperas da 70º Feira do Livro de Porto Alegre e entregue ao público pela Coragem e Editora da FURG.
A coleção – que presenteia leitores com capas em tons pastéis e imagens de icônicas paisagens rural e urbanas daqui –, foi organizada em tempos nomeados. O primeiro – Longas durações – rende tributo à História da Literatura do Rio Grande do Sul, obra de João Pinto da Silva publicada em 1924. Mas não só. Nas 353 páginas desse primeiro tomo, é na introdução geral que podemos conhecer o objetivo da empreitada – uma nova história para a literatura gaúcha – e conhecer parte dos 80 pesquisadores reunidos por Luís Augusto Fischer, coordenador do projeto.
Abraçada desde 27 de novembro aos seis livros, garimpo, desde então, a produção e o modo de escrita dos que partilham comigo o privilégio de ali estar como autora. Me tocou escrever sobre Bagé, uma imponente produtora de cultura que abrigou o poeta e romancista Pedro Wayne no início do século XX.
Ler Santa Maria, aos olhos de Orlando Fonseca em O rumo Moderno (o segundo livro da coleção), Erico Verissimo, por Sergius Gonzaga em A era Erico (o terceiro), A canção urbana gaúcha dos anos 1960 aos 1980, do Arthur de Faria em A Ditadura (quarto dos seis livros) e ser apresentado à Geração XXI, por Carlos André Moreira em Atualidade (o quinto tomo), foi delicioso. O último tomo – Longas durações – evidencia a produção de literatura de autoria feminina, germânica, italiana e afrodescendente, o romance histórico, as traduções, o memorialismo e a poética do samba e dos gêneros carnavalescos. Sim, houve tempo e lugar para todos os que amam ler e escrever, na coleção. Impossível não se emocionar!
Há autores, temas e abordagens que eu já conhecia em História da Literatura no Rio Grande do Sul. Mas, com certeza, há bem mais que ainda preciso conhecer. E esse é, talvez, o maior talento da obra pensada e organizada com capricho: uma incursão detalhada e cuidadosa pela produção literária aqui do Sul que, como cunhas, se infiltram em nosso repertório e passam a integrar nosso acervo.
De nossa região, o sul do Sul, há barbaridades, como se diz corriqueiramente. Especialmente, “ecos perfeitamente audíveis”, nas palavras de Fischer e Lima (2024, p. 191), da dramaturgia, poesia, folclore, e jornalismo, mas, também, das crônicas, contos, pedagogia e historicismo de João Simões Lopes Neto (1865-1916). Um deleite, para quem ama estudar…
Esta pequena resenha, sei, nem de perto espelha os atributos e as peculiaridades da obra. Assim, intenciono te convidar a ler. Tenho certeza que vais saber andarilhar por autores, textos, livrarias, saraus, bibliotecas, becos, feiras e eventos. E vais te deparar com preciosidades que só aqui, no Sul, se avistam…
Cristina Maria Rosa
Bah! Que baita obra… Meus parabéns e sucesso as pessoas envolvidas.