Titan e Mediterrâneo: o descaso das mortes anunciadas

Manoel Jesus, educador. (Foto: Divulgação)

Na quinta-feira (22), autoridades dos Estados Unidos confirmaram o que já se sabia: cinco passageiros do submarino que mergulhou a 3,8 mil metros para ver o que sobrou do Titanic sofreram uma “implosão catastrófica”. Uma das maiores e mais caras mobilizações de salvamento em águas profundas. Semana anterior, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados informou que cerca de 500 pessoas que saíram da Líbia em direção à Itália morreram em naufrágio no Mar Mediterrâneo.

A procura pelos turistas do mar encerrou numa extraordinária operação de busca, com ampla cobertura dos meios de comunicação. No dia seguinte, 23, organismos internacionais informavam a tragédia de quem buscava novas oportunidades, liberdade, uma chance para viver melhor. Pode ter sido um dos piores naufrágios dos últimos anos, numa repetição macabra em que se misturam a indiferença da sociedade, dos meios de comunicação, interesses econômicos e a fobia por estrangeiros.

O ex-presidente Barack Obama deu entrevista à rede CNN em que falou a respeito. Seu tema principal era a desigualdade social e econômica. Usou como exemplo o tratamento que as autoridades internacionais e os meios de comunicação deram para o barco com migrantes superlotado que afundou no Mediterrâneo e o submersível Titan, desaparecido próximo aos destroços do Titanic. Explicou: “de certa forma, é o indicativo do grau em que as chances de vida das pessoas se tornaram tão díspares”.

O Mediterrâneo é considerado, hoje, a rota migratória mais mortífera. Todos os dias, são encontradas embarcações clandestinas, quando não à deriva, num “comércio” de seres humanos que pagam do próprio bolso em busca de uma terra de prosperidade. O papa Francisco clamou: “Que este símbolo de tantas tragédias interpele a consciência de todos e favoreça o crescimento de uma humanidade mais unida, que abata o muro da indiferença… O Mediterrâneo se tornou o maior cemitério da Europa!”.

O que aproxima as tragédias? O descaso dos governos dos países e em nível internacional. No caso do “turismo macabro”, foram feitas denúncias da precariedade dos equipamentos utilizados, sem que as autoridades americanas tomassem providências. Por outro lado, no desespero de quem se vê perseguido, com fome, sem oportunidades em seu país, a indiferença de quem deveria zelar pelo bem estar dos cidadãos, em sua própria terra, na acolhida estrangeira e jurisdição internacional.

A igualdade de perspectivas é anseio longínquo que se persegue até na morte. Turistas do que sobrou do Titanic pagaram por um prazer que a maior parte da população não pode se dar. No migrante que se joga ao mar, repete-se o que já se viu com populações jovens de países pobres ao deixar famílias e amigos. Todos temos entre os nossos ancestrais um migrante. O desejo de ser cidadão do Mundo, infelizmente, não passa de um sonho. A realidade é a morte e a rejeição de quem esquece a sua própria história…

Confira a versão em vídeo para YouTube em https://youtu.be/Xz_foQ9M__4.

Enviar comentário

Envie um comentário!
Digite o seu nome