Ocorreu nos últimos dias 4 e 5 deste mês, no município de Lavras do Sul, o seminário O Pampa e o Gado. O evento já está em sua 10ª edição e é um dos principais eventos agropecuários do estado, sendo a sua tônica a efetivação de uma pecuária sustentável, responsável pela conservação do bioma Pampa e de toda sua biodiversidade.
Nesses dois dias de muita informação boa foram abordados diversos temas, dentre os quais compartilho alguns que me chamaram a atenção e merecem uma atenção e reflexão nossa que vivemos no Pampa.
O Pampa foi visto e debatido pelas suas diferentes matizes incluindo a poética, a econômica e a turística.
Os aspectos que reforçam os potenciais de turismo do Pampa são, principalmente, os elementos estéticos e uma história cultural forte ainda pujante. O turismo de experiência – aquele em que o turista tem a oportunidade de vivenciar as tradições da região, aliando experiências históricas, culturais e gastronômicas com atividades específicas de cada região – foi apontado como tendência e grande oportunidade diante da cultura rica e presente na região.
Por outro lado, foram apontados obstáculos a serem superados, dentre os quais a falta de informação ao turista do que os lugares podem oferecer, cuja necessidade reside na construção discursiva do que a região tem de bom, bem como informações, de fácil acesso, de roteiros, pontos turísticos e estrutura para receber os turistas, pontos estes que precisam ser superados atualmente.
O avanço da agricultura e da silvicultura também permearam as discussões e o prof. Aino Jacques demonstrou que a pecuária de bovinos é economicamente competitiva com essas culturas.Através de diversos estudos de diferentes instituições, trouxe dados sobre o aumento do rendimento, ganho de peso do gado, demonstrando que apenas corrigindo o manejo, o aumento pode ser de três vezes, e com a realização de poucos investimentos, esse aumento vai de três a dez vezes.
Já o médico veterinário Luís Fernando Laranja da Fonseca apresentou iniciativas de Pecuária Sustentável no Brasil, com destaque para as informações e notícias sobre as “carnes” vegetais e de laboratórios – tema aqui tratado na última coluna – abordando outros aspectos como a alimentação saudável, questões ecológicas, o bem estar animal e novas visões de responsabilidade socioambiental. Em sua fala, trouxe diferentes projetos, dentre eles o da Alianza del Pastizal, que analisou e enalteceu.
Já o diretor do Departamento de Biodiversidade da SEMA/RS, Sr. Diego Melo Pereira, confirmou que até 2020 será utilizado o Índice de Conservação dos Campos Nativos – ICP – Índice de Conservación del Pastizal – nas propriedades rurais com o intuito da concessão de incentivos em programas oficiais de conservação de campos nativos.
Diante da força política e financeira da indústria da alimentação, que tem investido fortemente nas “carnes” vegetais e de laboratório, e considerando que o gado criado a pasto no Pampa cumpre importante papel, social, ambiental e econômico, a articulação de diferentes atores, tais como produtores, governantes e outros é imprescindível para valorização da prática secular da pecuária a pasto, que moldou e molda a figura do gaúcho, podendo ser considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul.
“Na terra do Minuano, o vento que traz o frio do Sul, o trabalho do peão tocando o rebanho é algo além de um bioma poetizado numa imagem: é a nossa canção do coração”. (Carlos Alberto Potoko)
Autor: Luis Otávio Daloma