O fim da vacina da febre aftosa

No dia 11 de agosto, foi assinada pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina, a Instrução Normativa (IN) 52, reconhecendo o estado do Rio Grande do Sul como livre de febre aftosa sem vacina. A referida IN entrará em vigência no mês de setembro. A partir desse reconhecimento pelo MAPA, o Estado comunica a mudança para a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para a concessão da certificação da evolução do status sanitário, a ocorrer em maio de 2021.

Trata-se de um tema controverso e que divide opiniões dos nossos pecuaristas e dos setores envolvidos na cadeia da proteína animal. De acordo com os favoráveis, a retirada da vacina proporcionará um aumento de mercados para exportação da carne, bem como a possibilidade de exportação de cortes com osso.

Fato é que a retirada da vacina necessariamente precisará de cuidado redobrado dos pecuaristas sobre os seus campos e de atenção e investimentos do poder público. O Executivo Estadual precisará, urgente, investir na melhoria das Inspetorias Veterinárias, não somente na contratação de servidores e renovação da frota de veículos, mas também nas instalações físicas das Inspetorias, na capacitação permanente dos seus agentes e no pagamento dos salários desses servidores. Outra preocupação apontada pelos especialistas é a ausência de um banco de antígenos para fabricação de vacinas caso seja necessário retomar as mesmas.

Ao nosso ver, outro ponto de fragilidade e que precisará de muita atenção do poder público são as fronteiras com a Argentina e o Uruguai e a necessidade de investimento em barreiras sanitárias eficientes.

É notório o peso da pecuária na economia do nosso Estado, envolvendo milhares de produtores e alguns frigoríficos que estão e estarão aptos a exportar. Aliás, cumpre reafirmar o que já fora tema em tempos atrás aqui nesse espaço que a pecuária bovina e, posteriormente, a ovina fazem parte da formação da nossa cultura, da formação do gaúcho. Inclusive há o registro no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC): Lida Campeira na Região de Bagé, que retrata as atividades dos campeiros que vivenciam ou vivenciaram a lida da pecuária, para fins de Registro como patrimônio cultural imaterial brasileiro no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Ao nosso ver, mais importante que a evolução do status sanitário do gado gaúcho, é a adoção de políticas públicas de proteção e incentivo aos pecuaristas, que isoladamente não possuem poder de barganha para reivindicar o valor real do seu produto, constituindo o elo mais frágil na cadeia da proteína animal.

No caso da carne bovina, seria muito interessante a padronização da toalete da carcaça, como ocorre no nosso vizinho Uruguai. Outrossim, os descontos realizados na venda por rendimento de carcaça precisam de maior transparência, descontos de hematomas (muitos ocorrem no transporte), não pagamento de miúdos e subprodutos, situações que precisam ser revistas, gerando um maior equilíbrio nessa relação entre indústria e pecuária.

Enfim, o pecuarista gaúcho, em especial o da região de circulação do Jornal Tradição Regional, continuará produzindo um gado bovino e ovino mormente alimentado a pasto, com bem-estar animal, produzindo de forma eficiente e em simbiose com o Pampa. A retirada da vacina da febre aftosa possibilitará o incremento da economia do nosso Estado, porém o Poder Executivo deverá garantir instrumentos para efetivação do controle sanitário necessário, bem como adotar políticas públicas de proteção e incentivo aos pecuaristas, a fim de que eventuais ganhos sejam melhor equalizados por toda a cadeia produtiva.

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