Segundo o minidicionário guasca, “corredor” é uma estrada que atravessa campos de criação, deles separada por cercas em ambos os lados. Há entre as cercas regular extensão de terra onde, por vezes, se arrancha os que não têm onde morar.
Antigamente, existiam muitos corredores na Região da Campanha Gaúcha. Geralmente, eram caminhos entre as estâncias que davam acesso a várias propriedades rurais, muitas delas em lugares recônditos. Paragens que abrigavam ranchos de famílias humildes que não tinham eletricidade e o único meio de comunicação disponível era o rádio valvulado ou transistorizado, a pilha ou a bateria. A maioria dos corredores era de difícil acesso, visto que não existiam máquinas apropriadas para manutenção dos mesmos.
Geralmente, no entroncamento deles com as estradas principais, ficavam localizados os bolichos (comércios rurais), que abasteciam a região. O trânsito pelos corredores era feito a pé, a cavalo, ou através de veículos de tração animal, como carroças, carretas, aranhas e faitos. Por dentro de corredores de campanha muitas tropas foram conduzidas para as charqueadas, para serem marcadas em mangueiras distantes e banhadas em banheiros alheios ou simplesmente trocadas para outros potreiros, pastoreios e invernadas.
No decorrer dos corredores, muitas amizades se ligavam, infinitas carreiras e bailes foram realizados; vários namoros surgiram, muitos casamentos e inúmeras famílias formadas.
Tive a grata felicidade de conhecer diversos corredores, espalhados campanha adentro, alguns ativos, outros praticamente sem movimento e quase intransitáveis; e, também, vários desativados, que só foram descobertos através da indicação de pessoas conhecedoras do terreno e mediante pesquisas em mapas antigos e Google Earth.
Quando entro num corredor, não consigo ficar indiferente, simplesmente mergulho no seu universo tão singular e, involuntariamente, imagino como ele era no passado.
Os “corredores de campanha” foram eternizados através da poesia de mesmo nome escrita pelo poeta bajeense Antônio Henrique Castilhos Karam:
Chuva fina que bate no rosto/Ao galope do baio cebruno/Na estrada enlameada de saibro/Corredor apertado de pasto/E um aguaceiro infinito na pampa. Estrada com sulcos de sanga/Bueiros transbordando invernia/Num trote que se faz pequeno/E às vezes, quase nada se anda…/Enfim, um caminho avistado. É o caminho de estradas que se cruzam/De corredores emaranhando a alma/ “Del gaucho” que em mim ficou/E do homem real que vivi/ “Al sonido de los bichos de allà”. Reminiscências da estância crioula/De um tempo breve e intenso/No descampado bravio/De uma campanha autêntica/E dos homens que ali passaram. À noite, revistas e literatura à luz de velas/ Magia… Lugar sagrado/Que até o último instante/Foi morada, foi gigante…/Foi marco na minha infância. O resto veio por acaso/Sem querer sobrevivi/E no aparte do tempo/ Foi o que ficou pra mim: A verdade dos homens dali.
Fonte: Nunes, Zeno Cardoso e Nunes, Rui Cardoso. “Minidicionário Guasca”. Porto Alegre, Martins Livreiro, 1994. 160 p.