
Palavra originada do Grego – em cujo teatro o ator ocupava o lugar mais alto – pode ser usada para todos aqueles que encabeçam, que ocupam posição proeminente.
Um ministro de Estado pode ser comparado a um Corifeu.
E se quisermos usar a expressão ainda em voga na França – coriphée – a analogia também se aplica, pois lá designa o qualificado bailarino de ópera, abaixo apenas do primeiro bailarino.
Fosse o governo da República uma montagem de ballet, também seria possível equiparar um Ministro a um Corifeu, afinal o presidente da República, numa estrutura presidencialista, é sempre o primeiro bailarino do espetáculo.
O público – nós – meros espectadores, surpreendidos e impactados, acompanhamos dia desses um lance teatral nesse cenário de artes cênicas.
Um respeitado Corifeu foi defenestrado após denúncia de uma Corifeia e não teve nem tempo de defesa, pois a rajada de vento teve a rapidez que o arrastou junto com sua reputação, da mesma maneira que costuma acontecer nas cenas das tragédias gregas.
O lance, operístico, cujo desenlace resultou em sacrifícios de personagens, emocionou o público e gerou compaixões teatrais em dois lados.
De um deles, o coro repete: “culpado”.
Do outro, repete “inocente”. Só o tempo nos dirá o que de fato houve.
Nosso grande poeta, Vinícius de Moraes, escreveu um apropriado “Soneto do Corifeu”, onde nos diz:
“São demais, os perigos desta vida/
Pra quem tem paixão, principalmente/
Quando uma lua surge de repente/
E se deixa no céu, como esquecida/
E se ao luar que atua desvairado/
Vem se unir uma música qualquer/
Aí então é preciso ter cuidado/
Porque deve estar perto uma mulher/
Deve andar perto uma mulher que é feita/
De música, luar e sentimento/
E que a vida não quer, de tão perfeita/
Uma mulher que é como a própria Lua/
Tão linda que só espalha sofrimento/
Tão cheia de pudor, que vive nua/”
*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista