Corifeu e Corifeia

José Henrique Pires licenciado em Estudos Sociais pelo ICH-UFPel, especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha, jornalista e radialista. (Foto: Divulgação)

Palavra originada do Grego – em cujo teatro o ator ocupava o lugar mais alto – pode ser usada para todos aqueles que enca­beçam, que ocupam posição proeminente.

Um ministro de Estado pode ser comparado a um Corifeu.

E se quisermos usar a expressão ainda em voga na França – coriphée – a analogia também se aplica, pois lá designa o qua­lificado bailarino de ópera, abaixo apenas do primeiro bailarino.

Fosse o governo da República uma montagem de ballet, tam­bém seria possível equiparar um Ministro a um Corifeu, afinal o presidente da República, numa estrutura presidencialista, é sempre o primeiro bailarino do espetáculo.

O público – nós – meros espectadores, surpreendidos e impac­tados, acompanhamos dia desses um lance teatral nesse cenário de artes cênicas.

Um respeitado Corifeu foi defenestrado após denúncia de uma Corifeia e não teve nem tempo de defesa, pois a rajada de vento teve a rapidez que o arrastou junto com sua reputação, da mesma maneira que costuma acontecer nas cenas das tragédias gregas.

O lance, operístico, cujo desenlace resultou em sacrifícios de personagens, emocionou o público e gerou compaixões teatrais em dois lados.

De um deles, o coro repete: “culpado”.

Do outro, repete “inocente”. Só o tempo nos dirá o que de fato houve.

Nosso grande poeta, Vinícius de Moraes, escreveu um apro­priado “Soneto do Corifeu”, onde nos diz:

“São demais, os perigos desta vida/

Pra quem tem paixão, principalmente/

Quando uma lua surge de repente/

E se deixa no céu, como esquecida/

E se ao luar que atua desvairado/

Vem se unir uma música qualquer/

Aí então é preciso ter cuidado/

Porque deve estar perto uma mulher/

Deve andar perto uma mulher que é feita/

De música, luar e sentimento/

E que a vida não quer, de tão perfeita/

Uma mulher que é como a própria Lua/

Tão linda que só espalha sofrimento/

Tão cheia de pudor, que vive nua/”

*José Henrique Medeiros Pires é Licenciado em Estudos Sociais pelo ICH UFPel, Especialista em Políticas Públicas pela Universidade de Salamanca, Espanha e jornalista e radialista

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