As Fake News resgatam a importância do jornalismo

Elis Radmann, cientista social e socióloga.

As mídias sociais empoderaram a população, qualquer um pode produzir, publicar vídeos, fotos e notícias na internet. E com a universalização das redes sociais há interação entre as pessoas que fazem estes conteúdos com aquelas que vivem para curtir, compartilhar e divulgar aquilo com que se identificam, mesmo que seja uma desinformação.

Com o empoderamento digital da população e com o crescimento de múltiplos canais e o avanço exponencial de youtubers e influenciadores digitais especulou-se sobre a tendência de decadência do jornalismo. Esta tese estava associada a ideia de que os jornalistas dos veículos tradicionais estariam sempre dando “notícias velhas”.

É fato que as mídias e redes sociais divulgam a notícia de forma instantânea, relatam rapidamente o “quando” e o “onde”. Uma pessoa com um celular na mão, que esteja na hora e no lugar certo, pode filmar um acidente de avião e seu vídeo viralizar mundo afora. Este vídeo irá nos mostrar o momento e o local onde o fato aconteceu. Agora, continua sendo trabalho do jornalismo explicar o “como” e o “por que” o acidente aconteceu. É o jornalista que tem o método necessário para ouvir todas as vozes e fatos envolvidos no episódio, resgatar os momentos que antecederam o acidente e todos os seus desdobramentos.

As pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião identificaram que a importância do jornalismo tem avançado para um campo simbólico, colocando o jornalista como o profissional que “pode separar o joio do trigo”.

O acirramento da polarização e do radicalismo político no país fez com que o jornalismo de opinião se tornasse um potencial inimigo do discurso de ódio e fomentasse os ataques e o cancelamento a jornalistas.

Junto com os ataques políticos orquestrados cresceram as Fake News e estas tomaram conta das diferentes mídias sociais e inundaram as redes sociais, ao ponto, de confundir e criar discórdia inclusive entre familiares. Como se não bastasse, estas Fake News começaram a se misturar com os golpes virtuais que buscam roubar e extorquir as pessoas. E no atual momento, estamos vivendo a sombra da deepfake, que é quando a inteligência artificial cria uma imagem e fala artificial de uma pessoa. Na prática a IA pode criar um vídeo seu, falando coisas que você nunca imaginou falar.

E este cenário de instabilidade, incertezas e medos criado pela internet tem fortalecido a importância dos jornalistas e dos canais tradicionais, mesmo que estes só estejam sendo publicados em canais digitais.

Cada vez mais a população enxerga o jornalismo de informação como um certo “sustentáculo da verdade”, a fonte de uma informação mais confiável, como uma ferramenta de defesa da sociedade.

Este fenômeno acaba redesenhando o papel do jornalismo e restabelecendo a importância deste profissional. Quando um conteúdo duvidoso aparece nas mídias ou nas redes sociais, a primeira ação preventiva é a consulta aos canais dos jornalistas de referência, ver “se eles estão falando” e o “que está contando sobre o tema”.

1 comentário

  1. O jornalismo nunca foi tão importante como agora, sem nenhuma dúvida.
    Por outro lado, penso que nunca houve tanta desonestidade intelectual no meio como atualmente.
    Talvez pela ânsia da audiência, barbaridades são ditas em determinados editoriais.
    Obrigado.

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