A doença não espera! Não dá para agendar a doença!

Elis Radmann, cientista social e socióloga.

A saúde pública será o grande tema das eleições municipais de 2024. Quem utiliza o SUS, reclama da dificuldade de se fazer um check-up. O “sonho de consumo” desse público seria o SUS com um protocolo de consultas de rotina associado a exames específicos, de acordo com idade, sexo e históricos pessoal e familiar. Mas quando uma pessoa procura um médico do SUS, ele diz que não tem necessidade, mostrando que a medicina preventiva não está na agenda.

Além disso, os entrevistados reclamam deste SUS analógico, que não tem os prontuários dos pacientes digitalizados e muito menos integrados. Relatam que precisam ir ao médico com a sacolinha de receitas e exames e toda vez contar a mesma história. Se a memória falhar, estão lascados! As pessoas têm medo do básico, de passarem mal na rua e serem levadas para o Pronto Socorro sem a “sacolinha”. O risco de receberem medica­ção errada ou conflitante é grande! E durante uma jornada de pesquisa, histórias não faltam para contextualizar o funcionamento de um sistema de saúde que, na percepção dos eleitores, está anos luz da tecnologia.

Na realidade atual, a população procura o SUS quando está passando mal ou com uma doença em estágio avançado e, neste caso, a jornada de acesso não é fácil, especialmente se precisar do pronto atendimento.

Quando já há sintomas, o paciente precisa de AGILIDADE no aten­dimento, principalmente para realizar as consultas com especialistas, exames ou até mesmo uma cirurgia. E, neste caso, a resposta não é adequada ao tempo da doença. Todo o sistema é moroso e dificulta a vida do usuário. Em todas as cidades há relatos de muita dificuldade de se conseguir “ficha” – com pediatras e especialistas nem se fala. Conforme o tipo de especialidade, o tempo de espera varia de seis meses a 2 anos. Inclusive, 10% dos entrevistados contam que foram avisados sobre uma agenda de exame, cirurgia ou especialista depois da morte de um familiar.

E como se não bastassem os problemas de acesso, um terço dos entrevistados reclamam do acolhimento, demostrando sua insatisfa­ção com o atendimento que recebem desde a recepção, passando pela triagem e até a desatenção dos médicos, que muitas vezes parecem ter má vontade, como se estivessem apenas cumprindo um protocolo. Como muitos médicos não dão mais explicações, nada causa mais inseguran­ça para um paciente do que receber a mesma medicação de amigo ou familiar. Nas narrativas, contextualizam que o ápice da preocupação ocorre quando a pessoa procura a Farmácia Municipal e ouve aqueles comentários básicos: “o remédio está em falta pois esse médico indica a mesma medicação para todo mundo”.

Com o início das campanhas, começamos a viver o “tempo da polí­tica” e os eleitores estarão observando o que os candidatos irão ofertar para área da saúde. Na maioria das cidades, a demanda não é por mais postos de saúde, mas por uma saúde mais ágil, mais humanizada e inteligente. Na era da Inteligência Artificial, querem que a inteligência humana esteja a serviço da saúde, conseguindo emplacar processos que façam um choque de gestão e imponham uma transformação digital.

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