No artigo anterior, resgatei o sentimento vigente que apregoa que o “mundo está ficando cada vez mais chato” pois as “brincadeiras” e o modelo mental tradicional têm sido rechaçados pelos porta-vozes dos direitos das minorias, que trabalham para construir uma política identitária.
Para a maioria, é como se houvesse um patrulhamento, como se a minoria estivesse perseguindo a maioria. Nas pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, é comum o desconforto de entrevistados que externam sua indignação: “tenho que cuidar o que falo senão posso ser processado”, “hoje em dia é perigoso até fazer piada”. Relatam casos em que há um exagero ou contam como determinadas narrativas são tiradas de um contexto para que haja a “acusação” da prática de um preconceito, como racismo, homofobia, misoginia ou machismo.
É interessante que a construção da consciência coletiva do respeito está dividindo a sociedade ideologicamente. Os que possuem uma tendência à esquerda, por essência, defendem o direito das minorias. Os que sentem que a sua cultura e valores estão sendo rejeitados, acabam ganhando acolhimento nas narrativas de direita. No meio deste fogo cruzado, cresce a nova geração que tende a apoiar a pauta identitária, pois ela beneficia as escolhas individuais, dialogando com a atual democracia digital.
Pronto, a tempestade perfeita está em curso! De um lado, os porta-vozes da diversidade e do direito das minorias ampliam o seu protagonismo, ocupando os mais variados palcos e debates, começando na ampliação de sua representação política, perpassando a conquistas de direitos e se ampliando em uma exposição midiática privilegiada.
Do outro lado, a “dita maioria” se sente acuada, tolhida e em alguns casos deslocada. Compartilham um sentimento de injustiça e até de impotência. De certa forma, esse sentimento é compreensível, tendo em vista que foram educados, dentro e fora de casa, com um conceito de normalidade.
Não podemos esquecer que nossa educação foi e é cartesiana, apregoa a dicotomia para construção de valores e análise do mundo em que vivemos: aprendemos que existe um certo e um errado, um justo e um injusto, uma conduta correta e uma incorreta, uma pessoa padrão e uma fora do padrão e assim por diante.
Para sair desta armadilha mental temos que aprender sobre a arte do respeito. A primeira premissa está associada à construção de uma relação mais respeitosa, que deve ser incorporada em todas as práticas cotidianas. A consideração para com o outro vale para todos. Para todos! O mais velho precisa respeitar o mais novo e o mais novo deve mais respeito ainda ao mais velho.
Para que haja o respeito é necessário a tolerância, que por sua vez está associada à condescendência, à capacidade de ser flexível com o diferente, não impondo ao outro uma ordem, regra ou tipo ideal.
Neste contexto, “cada casa é sempre um caso único”, cada “casa” tem as suas regras internas, a sua moral e os seus valores. Mas, da porta para fora, temos que respeitar o jeito, a regra ou a moral do morador da outra “casa”, que também é um caso único, um ser que tem suas vontades e precisa ser respeitado.