
O então candidato a vereador pelo Progressistas, André Meireles, o Andrezinho da Balança, de 42 anos, contou ao Jornal Tradição Regional que sofreu um ato de racismo na arrancada da campanha para tentar chegar à Câmara em Piratini.
Ele relatou que o fato deu-se quando chegou a casa de um amigo para entregar um chamado santinho. “Cheguei a residência dessa pessoa que faz parte do meu ciclo de amizades, fui bem recebido e pedi um voto. Prontamente ele, o pai, me atendeu bem, afirmando que iria me ajudar, mas o filho que estava aos fundos da casa disparou: “Eu não acredito que tu vai deixar de votar em um branco pra votar num negro desses”.
Meireles disse que achou graça, minimizou a situação constrangedora, disse ao pai do rapaz que não desse importância para a “brincadeira”, mas o ofensor atestou o que havia dito: “Eu não estou brincando não. Deus que me perdoe se eu votar num negro desses e não acredito realmente que tu vai fazer isso”, disse o filho ao pai.
O então candidato conta que se retirou e foi embora lentamente, perplexo com o que tinha ouvido em pleno século 21.
Indagado do motivo pelo qual não buscou as autoridades para denunciar a injúria racial, Meireles explicou. “Fiquei de mão atadas. Estávamos no princípio da campanha eleitoral e se eu levasse isso para as mídias sociais, polícia ou para a Justiça, certamente as pessoas diriam que eu, por observar que tinha poucas chances de me eleger, estaria apelando para a questão racial e me pondo na posição de vítima. Decidi ficar calado e só expor tudo isso agora que a eleição terminou”.
Ele conta que já passou por situações que podem ser classificadas desumanas e racistas mais de uma vez. “Certa vez eu cheguei numa roda de amigos e naturalmente apertei a mão de todos. Mas em dado momento, chegou uma pessoa branca, também cumprimentou a quase todos, mas quando chegou na minha vez ele até estendeu a mão, mas não chegou a apertá-la, pois quando notou que era negra, recolheu a mão e passou na altura do peito, na camisa, como se quisesse limpá-la”, relembra o ex-candidato, que garante não se surpreender mais com tanto racismo.
“Em Piratini é assim. Sofremos com isso até no olhar que recebemos ao entrarmos numa empresa para comprar algo ou para pedir um trabalho. Se somos negros, o olhar é diferente, mesmo sendo uma pessoa conhecida, pois a cidade é pequena. Se você busca um trabalho, por exemplo, as atitudes das pessoas que podem mudar nossa realidade e que estão na posição que lhes dão o poder de decisão, pensam até mesmo que estamos querendo roubar e isso é absurdo, pois podemos não ter o dinheiro que eles têm e nem a faculdade que cursaram, mas somos sim capazes de nos impor, de ocupar determinadas funções, então não nos denigram”, conclui.