Em torno de 150 pessoas pertencentes às 48 famílias que formam o Assentamento Conquista da Liberdade, situado às margens da BR 293, 2º Distrito de Piratini, celebraram no domingo (17), os 32 anos da conquista da terra após uma jornada de dois anos e meio, período em que, a partir de 1989, ficaram acampadas em barracas de lona à beira de rodovias que permitem acesso aos municípios de Cruz Alta, Bagé e Hulha Negra.
Da festa, que anualmente ocorre em fevereiro, mês da chegada ao município, fez parte um baile e, principalmente, o tradicional churrasco com carne ovina e bovina de animais criados pelos assentados, já que faz parte da diversificada produção, inclusive, a pecuária de corte.
Para Alceu Becker, o Chacrinha, de 57 anos, coordenador da comunidade rural, o momento precisa ser sim comemorado todos os anos, afinal, a luta deles, da qual fez parte uma caminhada que durou 42 dias até a Porto Alegre, foi dura, mesmo assim, todos foram resilientes na busca pelo objetivo.
“Eu, como tantos outros que participaram desta luta árdua e que ainda estão vivos, tenho na memória essa caminhada, que partiu de Bagé, em setembro de 1991, e 42 dias depois foi concluída com um ato em Porto Alegre, onde reivindicamos o direito a terra”, recorda o coordenador, que segue: “A festa, que este ano por motivo de força maior não aconteceu em fevereiro, é o momento escolhido por todos nós, do Conquista da Liberdade, para comemorar, junto a parceiros e apoiadores da nossa causa, o alcance do objetivo. Além é claro, de permitir nos integrar cada vez mais às entidades do município e, também aos nossos vizinhos, afinal, Piratini tem 14 assentamentos onde mais de 300 famílias residem e há décadas contribuem para melhorar, com muito trabalho, a economia da cidade”.
Ele destaca que todos, sejam aqueles que, na grande maioria (70%), nasceram e cresceram em cidades da região Norte do Rio Grande do Sul, ou seus filhos, que herdaram os lotes após a morte de seus pais, sempre sobreviveram e continuam a sobreviver de tudo que é possível, principalmente, plantar e colher do solo, mas como observou, a rotina do campo também permite colaborar para desenvolver Piratini.
“Individual ou coletivamente, produzimos, por exemplo, mel, leite e seus derivados, sucos, produtos comuns ao panifício, soja e feijão. Ou seja: nossa alimentação é produzida por nós, mas, quase tudo ainda é vendido para abastecer, inclusive, o comércio local, e isso oportuniza mais desenvolvimento para esta cidade”, pontua Chacrinha.
Ele também ressalta a resistência comum à sociedade brasileira com o movimento, que passou por mudanças. “Em 2024 o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra completa 40 anos. De 1984 até os dias atuais, o preconceito e a rejeição das pessoas com quem pertence ao MST, reduziu muito. Não as culpo, pois isso ocorreu ou ainda ocorre, mas cada vez menos, em virtude das informações que chegavam até elas sobre nós e nossas intenções. Hoje, a realidade é outra”, opina.
Segundo ele, há reconhecimento e aceitação por setor da sociedade. “A convivência é pacífica e respeitosa. Falando exclusivamente deste município, Piratini faz parte de nós e nós de Piratini”, finaliza.