“Por aqui as casas falam”, afirma poeta que tem Piratini como fonte permanente de inspiração

Juarez têm a cidade como fonte permanente de inspiração. (Foto: Nael Rosa/JTR)

Ter a sensibilidade para escutar o que o vasto acervo arquitetônico do berço farrapo tem a dizer e extrair dele prosas e versos que muitas vezes se transformam em canções que retratam e enfatizam a história da cidade faz parte do cotidiano de Juarez Machado de Farias, filho do Barrocão, zona rural do município. Além de radialista, advogado e escritor, é poeta nas outras horas, que também não são vagas, pois a inspiração costuma vir durante as caminhadas cotidianas pelas ruas que outrora circularam os heróis farrapos.

Certa vez, Farias, de 53 anos, presenteou o compositor Rodrigo Bauer com o livro de sua autoria intitulado “Por aqui as casas falam”. O gesto de simpatia culminaria na canção de nome similar “As casas falam em Piratini”, que venceu a 8ª edição da Vertente da Canção Nativa em 2020. Um presente para o também compositor, que só conheceu a área urbana da cidade aos 15 anos, idade que ele frisa, começou sua socialização.

“Eu era muito solitário, arredio, pois havia uma distância cultural muito grande entre o campo e a cidade. Então como uma forma de me socializar, costumava ir para a Praça da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição e ali passei a escutar os mais velhos e suas histórias, período retratado na canção ‘Guri do Campo’”, relembra o poeta.

Nessa música, que já teve várias regravações, Juarez escreveu: “Na praça conversei com muitos velhos e andei em seus caminhos percorridos”, pura inspiração de quem começou na arte ainda menino.

Nas andanças diárias pelas vias históricas, ele costuma parar em frente aos prédios para, de certa forma, conversar e ouvir o que eles têm a dizer para depois pôr no papel, e isso se tornou fonte inesgotável de inspiração.

“Fui me apaixonando pelo município e entendendo que ela é acolhedora. Quando fui morar em Pelotas para dar continuidade aos estudos, percebi o valor que essa cidade, com seus prédios antigos, como a casa onde morou Barbosa Lessa e Giuseppe Garibaldi, tem”, disse.

Farias é um piratinense de costumes peculiares. Por exemplo: quando não se desloca a pé para seus afazeres, costuma ir de bicicleta, inclusive costuma vestir terno e gravata para andar com esse meio de locomoção e ir até o Fórum da cidade representar seus clientes em audiências.

“Nunca me interessei em aprender a dirigir carro. Não há necessidade, pois vivemos em uma cidade pequena e tudo é possível fazer andando a pé ou de bicicleta, já que assim é possível ser contemplativo, encontrar pessoas e conversar, literalmente jogar conversa fora, não se tornando desta forma um escravo do celular, e ainda preservar o meio ambiente, ouvir o canto dos pássaros e as vozes e, com isso, saber que só temos um presente porque há um passado”, enfatiza.

Para ele, andar em Piratini é pisar sobre um cartão postal, frase que não é de sua autoria, mas que resume bem o quanto, inclusive os turistas, ficam maravilhados aos visitar a 1a Capital Farroupilha, onde ele afirma, será sempre um guri do campo.

Por fim, para a cidade que está completando mais um ano de existência, o poeta tem a dizer que é preciso manter vivo esse passado como, por exemplo, é possível fazer no Museu Histórico Farroupilha, mas não somente nele.

“As bibliotecas e, também nós, temos que ser guardiões das memórias, porque senão vamos nos perder, não sabendo de onde viemos e para onde iremos. Então quando Piratini completa mais um ano, temos que ter esse cuidado e se orgulhar da nossa história e cuidar da nossa cidade, não importando quem está no seu comando”, conclui.

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