Pelotas: Março marca a conscientização do câncer do colo do útero e da endometriose

Empresária e engenheira civil, Juciléia Silva de Freitas, de 36 anos, realizou tratamento contra o câncer do colo do útero e conseguiu realizar o sonho de ser mãe. (Foto: Divulgação)

O mês de março é marcado por ser o mês internacional das mulheres pela trajetória de luta por igualdade e celebração de direitos conquistados, mas também é de conscientização para duas das doenças que mais atingem as mulheres no Brasil e no mundo: a endometriose e o câncer do colo do útero.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a endometriose afeta mais de 7 milhões de mulheres no Brasil, enquanto o câncer do colo do útero, causado pelo Papilomavírus Humano (HPV), é a terceira doença mais recorrente entre a população feminina. Com ambas as doenças sendo extremamente prejudiciais à saúde da mulher e envolvendo uma região tão delicada do corpo feminino, diversas medidas são adotadas para conscientização, desde a distribuição de panfletos em postos de atendimento até palestras em escolas, que buscam conscientizar as estudantes sobre a importância de exames preventivos e vacinação.

Em relação a endometriose, o Ministério da Saúde aponta que uma em cada 10 mulheres sofre com a doença no país, muitas vezes tornando-se inférteis pelos seus diversos efeitos. No Rio Grande do Sul, as incidências das doenças não são diferentes, sendo considerado, atualmente, o quarto estado com maior número de casos de câncer do colo do útero no país.

A Drª Glaucia Alves de Carvalho, ginecologista e obstetra no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), mostra preocupação com a maneira com que se fala das doenças, utilizando como exemplo o fato de o câncer do colo do útero estar intrinsecamente atrelado ao estigma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
“O HPV em seus estágios iniciais é assintomático, mas nós temos o papanicolau, também conhecido como pré-câncer ou citopatológico do colo uterino. Por isso que um exame tão simples é de tamanha importância na saúde da mulher”, relata a médica.

O papanicolau é um exame característico da rotina feminina, capaz de detectar as alterações no colo uterino antes que qualquer sintoma seja apresentado pela paciente. As recomendações indicam que toda mulher que já tenha iniciado sua vida sexual deve realizar o exame a partir dos 25 anos. Por se tratar de uma doença silenciosa, quando não descoberta a tempo, seus sintomas podem vir a ser sentidos pela paciente quando o câncer já se encontra em um estágio mais avançado. Dentre os principais sintomas sentidos pelas mulheres, Glaucia destaca a sinusorragia (sangramento após relações sexuais), dispareunia (dor sentida durante o ato) e a dor lombar.

A endometriose, por sua vez, é uma doença benigna, em que parte do tecido que reveste o útero internamente (o endométrio), consegue migrar para outros órgãos, como os ovários, bexiga, intestino, ureteres, entre outros. Entre seus principais sintomas encontram-se a dismenorréia (dor no período menstrual), dispareunia (dor durante o ato sexual), dificuldade para engravidar, e demais sintomas que geralmente estão relacionados aos locais em que os implantes são detectados.

“Existe um atraso bem importante no diagnóstico dessa doença, em média uns sete anos, e isso acontece por uma série de fatores. Algumas vezes a própria paciente acredita que ter dores intensas no período menstrual é normal, outras vezes porque nem todos os exames de imagem conseguem detectar a endometriose, e a videolaparoscopia (procedimento cirúrgico que pode ser utilizado para biopsiar lesões suspeitas de endometriose) não é facilmente acessível”, explica a médica, destacando que o tratamento da doença vai depender do objetivo de cada paciente.

Do diagnóstico ao tratamento

A empresária e engenheira civil, Juciléia Silva de Freitas, de 36 anos, é uma entre as sete milhões de mulheres brasileiras a enfrentar uma batalha contra o câncer do colo do útero. A pelotense conta que tudo começou em 2021, com a realização de exames de rotina para começar o planejamento de uma gestação.

“Eu estava com os exames preventivos alguns anos em atraso, pois me sentia super bem, sem nenhum sintoma e simplesmente no corre da vida, rotina agitada, muito trabalho. Ao longo de alguns anos, não me priorizei”, destaca Juciléia.

Em sua jornada a empreendedora narra ter sido submetida a inúmeros exames e procedimentos até o recebimento do diagnóstico final, mas declara que passar por ele ao lado de uma forte rede de apoio, não só fez uma enorme diferença, como também fez com que seus hábitos mudassem, principalmente em relação ao tempo que dedicava às pessoas de quem gostava.

“Esse diagnóstico dividiu minha vida em dois momentos. Antes do diagnóstico eu vivia uma vida agitada de trabalho, sem tempo para nada, sempre priorizando o trabalho. Hoje, sou grata ao quanto evoluí como pessoa, pois tranquilamente e sem receios coloco eu e minha família em primeiro lugar, e não vejo problemas em recusar algo que não me fará bem. Saúde passou a estar sempre em primeiro lugar”, destaca.

Em julho de 2021, Juciléia recebeu a notícia de que o resultado das análises anatomopatológicas estavam livres de células cancerígenas, não havendo necessidade de tratamento com radioterapia e quimioterapia.

Assim, após um período de seis meses de recuperação, a empreendedora, que à época havia realizado o exame preventivo para testar a possibilidade de uma gestação, pôde buscar mais uma vez a chance de ser mãe.

“Havíamos preservado a fertilidade e eu estava com saúde para enfrentar essa nova etapa, porém, com outro desafio: uma gestação em alto risco”, conta.

Durante a gravidez, Juciléia destaca ter sido necessário ficar de repouso por quatro meses, dois deles sendo em internação hospitalar, por haver um grande risco de nascimento prematuro, por conta da ausência do colo uterino. Em setembro de 2023, após um longo período de recuperação e nove meses de uma gestação cheia de riscos, nasceu Geórgia, saudável e cheia de vida.

Prevenção

Câncer do colo do útero

– Está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) a vacina que previne o HPV. O calendário vacinal prevê a imunização de meninos e meninas de 9 a 14 anos – antes de iniciarem a vida sexual, período no qual a vacina tem mais eficácia. Também são contemplados para receber a vacina pela rede pública pessoas de 9 a 45 anos e que sejam imunossuprimidas, vivam com HIV/Aids, sejam transplantadas de órgãos ou de medula óssea ou que sejam pacientes oncológicos.

– Por meio do papanicolau (exame citopatológico) preventivo é coletado material que é enviado para análise em laboratório. A partir desses resultados é que se identificam alterações no colo do útero. O exame citopatológico de rastreamento deve ser realizado em pessoas com útero entre 25 e 64 anos, que já tiveram atividade sexual, visando identificar lesões precursoras tratáveis.

Endometriose

Reforça-se a importância das consultas regulares ao ginecologista como forma de prevenção e detecção precoce da doença.

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