O diagnóstico do câncer de próstata é rodeado de mitos que causam aflição na maioria dos homens e que, por consequência, não realizam os exames preventivos. A campanha global do “Novembro Azul” é dedicada para conscientizar sobre a doença e também para incentivar os homens a cuidarem mais da saúde. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram identificados mais 70 mil novos casos no Brasil em 2023. Além disso, o câncer de próstata é o segundo mais comum no país, sendo equivalente a cerca de 29% dos diagnósticos, se levarmos em conta ambos os sexos. Somente no Rio Grande do Sul, foram mais de 3 mil novos casos naquele ano. Também é o segundo mais comum entre os homens – atrás apenas do câncer de pele não melanoma. É considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Mas quando descoberto precocemente, as chances de cura são de mais de 90%.
De acordo com o médico especialista em urologia em Pelotas, Guilherme Loyola, os homens em geral possuem uma crença moral de não precisarem de tantos cuidados por conta da virilidade. “A campanha ajuda a desmistificar isso em relação ao câncer de próstata propriamente dito. O principal mito que tem que ser desfeito é o de se sentir imbatível”, afirma o médico. Loyola diz ainda que há outros mitos em relação às sequelas dos tratamentos e que atualmente é possível minimizá-los significativamente. Além disso, muitos homens só procuram especialistas quando aparecem os sintomas e, nestes casos, existe a possibilidade de o câncer já estar em estágio avançado.
Exames e prevenção
Os exames preventivos auxiliam em maiores chances de um diagnóstico precoce e um tratamento bem sucedido. A investigação pode ser feita com exames clínicos, laboratoriais, endoscópios ou radiológicos. Os principais exames são o de PSA para avaliar a dosagem de antígeno prostático específico e o exame de toque retal. “Os dois são importantes e nenhum deles é 100%, nenhum deles é perfeito, ambos têm falhas. Então, o mais interessante é você associar, fazer as duas coisas, nem só uma nem só outra, porque eles se complementam e aumentam a taxa de detecção”, explica Loyola.
O médico afirma que alguns tumores podem não ser identificados apenas nos exames de sangue. A taxa de câncer de próstata mesmo estando o PSA normal pode variar entre 15% a 20%. Em muitos casos, esses tipos de câncer são os mais agressivos.
Na maioria dos casos, é utilizada a ressonância magnética para o diagnóstico definitivo da doença. O exame auxilia no planejamento de um tratamento mais adequado para aquele paciente. Além disso, também deve ser feita uma biópsia de próstata com um exame anatomopatológico. “É esse exame que vai realmente fechar o diagnóstico, confirmar que se trata de uma neoplasia (tumor) para a gente poder iniciar, então, o planejamento, a estratégia de tratamento para aquele paciente”, ressalta Loyola.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia é para que os homens comecem a fazer os exames a partir dos 50 anos. Já para aqueles que possuem algum fator de risco, o teste deve ser realizado a partir dos 45. Esses fatores incluem a idade, uma vez que o risco de câncer de próstata aumenta conforme o envelhecimento e é relativamente raro em jovens. Homens negros ou com obesidade também apresentam um risco elevado. O histórico familiar também é considerado, em especial familiares paternos e de primeiro grau.
Loyola fala ainda sobre o histórico de câncer vinculado à mutação genética. “O câncer de próstata isolado é um fator de risco, mas mais atualmente tem se falado, inclusive, sobre mutações genéticas, como por exemplo BRCA2, que é um gene que ele, quando alterado, pode aumentar o risco de outros cânceres, como por exemplo, o câncer de próstata, o câncer de mama, entre outros”, complementa o especialista.
Sintomas
O câncer de próstata não apresenta sinais nos seus estágios iniciais, garante Loyola. Por conta disso, os médicos recomendam que os homens consultem regularmente e realizem os exames de detecção precoce. “Se a gente for esperar um sinal de alerta, a gente vai pegar a doença muito tardia”, salienta. Os homens devem ficar atentos aos sintomas como dificuldade de urinar, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite e sangue na urina ou no esperma. Esses sintomas podem estar atrelados a outros fatores, mas é recomendado investigar a possibilidade de tumor.
Tratamentos
O tratamento quando a doença está localizada somente na próstata envolve cirurgia e radioterapia. Em casos mais avançados, o tratamento é combinado com hormônios utilizados. O médico urologista acrescenta ainda sobre o progresso nos tipos de tratamento. “No tratamento cirúrgico, a cirurgia robótica é o maior marco de avanço recente no tratamento do câncer de próstata, porque a cirurgia robótica oferece uma cirurgia muito menos invasiva, com melhor recuperação e, principalmente, você consegue preservar de forma muito mais precisa as funções de controle da micção, controle urinário e da função erétil”. Temida pela maioria dos pacientes oncológicos, a radioterapia é muito mais precisa atualmente e reduz significativamente os efeitos colaterais, eliminando quase totalmente os riscos de danos a órgãos próximos.
“Sempre que a pessoa recebe um diagnóstico de um câncer, de uma neoplasia, o impacto psicológico é devastador, tanto para o paciente quanto para a família que o cerca. Claro que existem perfis diferentes de pacientes. Têm pessoas que lidam de forma muito positiva e têm pessoas que lidam já com um impacto maior”, diz Loyola.
O especialista destaca a importância de o urologista identificar o tipo de paciente que está lidando e de colocálo a par da realidade. Em determinados casos, o melhor é um tratamento multidisciplinar, com psicólogo ou psiquiatra.
Loyola pontua que ainda não existem hábitos que possam prevenir o câncer de próstata. “Entretanto, hoje em dia se fala muito sobre os disruptores endócrinos, que são presentes pela poluição, pelo plástico, pelos agrotóxicos, por várias formas de interação que a gente tem com o nosso estilo de vida mais moderno, e esses disruptores endócrinos podem ser responsáveis parcialmente por mutações que levam a aumentar a incidência de neoplasias em geral”, salienta o médico urologista.