No Dia Nacional do Doador de Sangue, ações buscam aumentar os estoques de instituições em Pelotas

Preocupação com estoques marca as duas instituições. (Foto: Michel Corvello)

Embora o ambiente festivo que reinou durante toda a semana no Hemocentro Regional de Pelotas (localizado na avenida Bento Gonçalves, nº 4.569), uma preocupação tira o sono dos profissionais do órgão: a situação crítica do estoque dos tipos sanguíneos A e O negativos – especialmente o último, compatível para portadores de qualquer tipo de sangue.

Diante desta situação, a assistente social do órgão, Márcia Lages, convida: “Todas as doações são bem-vindas”, afirma, especialmente nesta sexta-feira (25), quando se comemora o Dia Nacional do Doador de Sangue. A programação, batizada Semana do Doador de Sangue, começou na segunda-feira (21) com uma série de atrações, em um esforço que reuniu artistas, empresas e instituições parceiras. Para sexta a agenda prevê participação do Grupo Tholl, cultura gauchesca, grupo Vira Mania (música) e encerramento com a banda da Brigada Militar.

“Conseguimos fazer uma programação bem legal dessa causa tão importante de forma feliz e alegre durante toda a semana”, aponta Márcia. A iniciativa teve como um dos principais objetivos parabenizar os doadores e agradecer a eles: “Cada doação é muito importante, porque faz toda a diferença na vida de quem está precisando”, destaca.

A agenda – e, mais importante ainda, a coleta de sangue – transcorre todo o dia dentro do horário de funcionamento do órgão, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h30, sem fechar ao meio-dia.

A assistente social do Hemocentro, Márcia Lages aponta preocupação com o período de festas de final de ano, férias e carnaval, na qual a
adesão dos doadores costuma ser baixa. (Foto: Roberto Ribeiro/JTR)

É preciso ter sangue
Se a situação é crítica no estoque para sangue dos tipos A e O negativo, nos demais tipos sanguíneos a reserva disponível está longe de ser confortável. “Ainda que em condições de insegurança, temos conseguido atender a demanda, fazer as distribuições que são solicitadas”, garante.

E as solicitações são diárias ao Hemocentro Regional. O órgão atende, além de três hospitais em Pelotas (Hospital Universitário São Francisco de Paula, Beneficência Portuguesa e Pronto-Socorro de Pelotas), outros 22 municípios. Estoques de sangue desde o Hemocentro chegam a viajar 256 quilômetros para abastecer a Santa Casa de Dom Pedrito, na região da Campanha, além dos 243 quilômetros que separam Pelotas de Santa Vitória do Palmar, quase na fronteira com o Uruguai, pela BR 471.

Desafios, portanto, não são pequenos para despertar a população de um milhão de habitantes de quase toda a Zona Sul do estado (Rio Grande não entra no mapa – tem banco de sangue próprio) para a importância de se tornar doador.

Responsável justamente pelo setor de captação, que tem a incumbência de abrir diálogo com a sociedade para esse fim, a assistente social diz que a tática adotada é projetar o Hemocentro para além do seu endereço: são realizadas palestras em escolas, em empresas, contatos com secretarias municipais para formação de grupos de doadores, promoções de coletas externas, atendimento e acolhimento de doadores, além da divulgação com as informações necessárias para desmitificar o ato da doação. “Um doador bem informado, é um doador seguro para vir doar”, pontua.

Ainda assim, todo esse esforço garante uma procura diária que pouco ultrapassa a metade do número considerado ideal pela equipe do Hemocentro, que seria de 50 doações. A esperança foi depositada nesta semana, principalmente diante dos meses que virão, dezembro, janeiro e fevereiro, marcado pelas festas de fim de ano, férias e carnaval – tempo de baixa adesão no Hemocentro.

Desfazendo mitos
Diante do contato frequente com o público externo, Márcia percebe que há pelo menos três mitos a serem desfeitos para vencer a resistência da população para tornar a doação um ato voluntário e recorrente. É otimista: “Aos poucos, conversando, informando, vamos ajudar a mudar essa realidade”, projeta.

O mais recorrente dos três, segundo a profissional, é o de que, ao doar uma vez, será preciso doar para sempre. “Cientificamente não tem nada comprovado”, esclarece. “Se quiser doar só uma vez não tem problema nenhum”, afirma. Os outros dois dizem respeito a aumento ou perda de peso (não provoca nem uma coisa nem outra, segundo o Ministério da Saúde) e a riscos de contrair algum tipo de infecção. Sem chance: “todos os nossos materiais são esterilizados e descartados, não há o menor risco [de contrair infecção]”, garante.

O que não paira nenhum mito a respeito é quanto ao caráter insubstituível do sangue e o quanto é imprescindível. Márcia lembra que a ciência não oferece outro recurso no lugar e que, todos os dias há pessoas que necessitam de sangue para procedimentos cirúrgicos, tratamentos oncológicos e acidentes “que a gente nunca sabe quando vão acontecer”, disse.

Banco da Santa Casa opera no limite
A conta também não tem fechado no banco de sangue da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas. A unidade, além do próprio hospital, abastece o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), referência no município em tratamento oncológico, assim como os hospitais Clinicanp, Miguel Piltcher, Unimed, além de convênios e internações particulares da Beneficência Portuguesa.

No banco de sangue da Santa Casa, a responsável, enfermeira Evelyn Castro, destaca que o ideal é aumentar a quantidade de voluntários, que doam sem uma motivação específica, como a realização de cirurgia por familiar ou amigo, por exemplo. (Foto: Roberto Ribeiro/JTR)

A enfermeira Evelyn Castro, responsável pelo centro de coleta, diz que com o estoque disponível são feitas em média mil transfusões por mês. O problema é que as doações batem no máximo em 750. “Por isso nosso estoque está sempre no limite”, explica.

Tipos de sangue como O negativo, por exemplo, estão sempre abaixo do mínimo necessário. No entanto, costuma ser o tipo sanguíneo mais solicitado na UTI Neonatal do HE, por exemplo, já que até os seis meses de idade não há tipagem de sangue definida. “Por isso é sempre preciso manter estoque desse tipo sanguíneo com margem boa”, diz.

Uma das saídas tem sido pedir doadores a familiares e amigos de pacientes que precisarão se submeter a cirurgias ou transfusões específicas. A profissional não esconde a preocupação com os próximos meses. A exemplo do que ocorre no Hemocentro, dezembro e janeiro são os meses nos quais o movimento é de queda entre doadores.

Por isso ela defende a necessidade de incentivar o doador voluntário, “que é o que menos tem”. Se, em média, são feitas entre 30 a 40 coletas por dia, os voluntários não representam mais que 10% do contingente.

Segundo a profissional, geralmente o perfil do doador que procura o banco de sangue da Santa Casa é para uma intervenção específica. “Nada contra, absolutamente, mas o voluntário é de quem precisamos para manter o estoque”, ressalta.

Esse é o caso do empresário Arlei Ibeiro, que na terça-feira (22), estava fazendo sua doação pela terceira vez no ano na coleta do banco de sangue da Santa Casa. Algo que, segundo ele, faz há mais de duas décadas. “Faço isso para salvar vidas, as pessoas precisam”, afirma.

Empresário Arlei Ribeiro afirma que é doador regular. (Foto: Roberto Ribeiro/JTR)

Seguir o exemplo de Ibeiro é o projeto de Patrícia Peter. Na manhã de quarta-feira (23) a dona de casa saiu de São Lourenço do Sul para se dirigir ao Hemocentro Regional a fim de doar sangue, motivada pela cirurgia cardíaca a que seu pai, Giovane, será submetido em breve na Beneficência Portuguesa. “A gente sente na pele a necessidade”, diz. “Tem muita gente precisando, quero começar a vir voluntariamente”, projeta.

Motivada pela realização de cirurgia cardíaca do pai, Patrícia Peter, de São Lourenço do Sul, esteve no Hemocentro realizando doação. (Foto: Roberto Ribeiro/JTR)

Divulgação na veia
Na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, ações de marketing (visando público externo e interno), postagens em mídias sociais e recorrer ao apoio da imprensa de alcance local e regional são as principais iniciativas para sensibilizar a população sobre a importância de manter um estoque de sangue adequado.

O trabalho, conforme a responsável pelo banco de sangue do hospital, precisa ser constante. Além da divulgação junto às mídias disponíveis, a equipe lança mão do contato direto com doadores cadastrados. “Às vezes estamos com um bom estoque e num piscar de olhos, da noite para o dia, literalmente, a situação é outra”, justifica. A Santa Casa está localizada na Praça Piratinino de Almeida, nº53, Centro.

Requisitos para doação

– Apresentar documento oficial com foto
– Estar devidamente alimentado (menos de quatro horas de jejum)
– Seis horas de sono
– Pesar mais de 50 quilos
– Estar há 12 horas sem ingerir bebida alcoólica (duas horas sem fumar)
– Ter entre 16* e 60 anos – até os 69 se já é doador
– Homens podem doar a cada dois meses; mulheres a cada três em um ano.
– Funcionamento: segunda a sexta-feira das 7h30 às 17h30 (Hemocentro) e das 8h às 17h (Banco de Sangue da Santa Casa), ambos sem fechar ao meio-dia
*Adolescentes entre 16 e 17 anos precisam estar acompanhados dos pais ou responsáveis

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