Pomares de pêssego estão floridos na Zona Rural de Pelotas

Pomar de pêssego da variedade esmeralda já está em floração na propriedade do ex-presidente da Associação dos Produtores de Pêssego da Região de Pelotas, Marcos Schiller. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

A própria natureza já se encarregou de dirimir quaisquer dúvidas quanto à safra de pêssego na zona rural de Pelotas. O inverno atípico marcado por oscilação térmica e temperaturas acima da média provocaram florescimento precoce nos pomares, “o que assustou o pessoal”, conforme o pesquisador do Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado, Carlos Reisser Júnior.

No entanto, na sequência a região contou com ondas de frio benéficas à fruta, e, atualmente, de acordo com Reisser, os pomares floridos que dominam a paisagem das regiões produtoras na colônia sinalizam normalidade. Não deve, portanto, faltar pêssego na próxima primavera-verão – nem na mesa nem na indústria.

“As condições estão aparentemente favoráveis”, avalia ele. Além de os produtores de pêssego contarem com cultivares aclimatadas à região, desenvolvidas na Embrapa Clima Temperado, as frentes frias que trazem chuva e umidade têm sido passageiras neste inverno. “Não é bom quando fica estacionário”, afirma. Em seguida o tempo abre, com sol e luminosidade, e a temperatura despenca. Dois fatores que contribuem para o desenvolvimento da fruta.

A sempre esperada geada tardia que costuma ocorrer em setembro, último mês do inverno climático, não está prevista segundo os institutos de meteorologia. Condições mais promissoras que a da safra passada. Em 2022, a sequência de dias com intensa nebulosidade trouxe umidade em excesso, o que foi danosa à planta e se refletiu na produção: a safra registrou quebra de até 40%.

A se manter as atuais condições climáticas a tendência é de uma boa colheita, acredita Reisser. “Se não tivermos ocorrências de fenômenos muito extremos, como vento, granizo e fortes tempestades, a produtividade tende a ser alta”, afirma o pesquisador. A própria perspectiva de fenômeno El Niño, com chuvas acima da média esperadas para o último trimestre do ano, não é necessariamente sinônimo de prejuízo. Ao contrário. Pode ser até benéfico aos pomares já que a maioria não é irrigado. “Chuvas de 20 a 30 milímetros são excelentes, o que é ruim é a chuva miúda, persistente”, esclarece.

Ondas de calor fora de época também não devem representar riscos. Reisser é otimista: “Seria problemático se passássemos uns 15 dias a uma temperatura média de 30 graus, isso, aqui na região – fora dos meses de verão -, é muito pouco provável”.

Ele recomenda a partir de setembro uma atenção especial em relação à população de mosca da fruta e adoção de medidas fitossanitárias para conter a praga. Diante desse quadro, imagina que já no fim de setembro os primeiros pêssegos da safra 2023 já devam estar disponíveis. Se no início as frutas tendem a apresentar um sabor menos doce para o paladar do consumidor, para a indústria não é problema, que se resolve com a adição de açúcar no produto em calda. “É sempre preferível uma safra com produtividade boa, os gastos no pomar são os mesmos, mesmo quando se produz pouco se gasta a mesma coisa, colher bastante sempre é bom para o produtor”, defende.

Cultivo da fruta é realizado por Marcos Schiller ao lado da esposa, Loiva e dos filhos Karolain e Jonathan, com produção para a indústria. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Floração precoce provocou perdas
Ex-presidente da Associação dos Produtores de Pêssego da Região de Pelotas, Marcos Schiller, de 48 anos, foi um dos que se assustou este ano ao ver já em maio o pomar de pêssego da variedade citrino todo florido. Não que não esteja acostumado. “Planto pêssego desde que nasci”, diz. Mas tinha motivos para apreensão. A flor não virou fruto e estima perda de dois hectares de pomar. Ele conta: “Floresceu cedo demais em decorrência do clima. Primeiro foi a estiagem, depois a chuva de maio [primeira semana do mês], ameaçou dar um friozinho e a planta acordou, veio o frio e não resistiu – é uma variedade problemática [citrino], em geral é o primeiro pêssego colocado no mercado. Dois hectares perdidos”, lamenta.

No entanto, não há motivo para desolação. Na propriedade de 13 hectares na Colônia São Manoel, dez deles dedicados ao pêssego, os pomares da variedade esmeralda estão bem floridos. Estes ele acredita que não perde. Se der o retorno esperado é uma safra “normal” – assim entendido com uma boa produtividade, ao contrário do ano anterior, cuja produção apresentou quebra em função da incidência de alta de nebulosidade elevada no inverno. Com esta variedade não tem medo de geada tardia, já que é uma cultivar mais resistente ao clima da região, que definitivamente não é o mais propício para a fruticultura se comparado ao de países como Chile, Argentina e Grécia.

Teme apenas pelos dois hectares das variedades Granada e Santa Áurea, assim denominada pela região da colônia de Pelotas – uma das maiores produtoras, assim como a São Manoel (juntas, segundo a Emater, concentram 80% da produção de pêssego no município). Ambas são variedades de floração e produção tardias. “Estão dentro do normal, meu único medo agora é que venha um calorão até setembro e dê problema”, conta.

Schiller, que trabalha juntamente com a esposa Loiva e os filhos Karolain, de 22 anos, estudante de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e Jonathan, de 21 anos, produz para a indústria. Já chegou a escoar 25% da sua produção para o mercado varejista, para consumo in natura. Hoje não. Explica: “O mercado está bom e o manejo é mais fácil, é só colher, por na caixa e o caminhão leva”. Quanto ao preço, considera satisfatório o praticado ano passado, influenciado pela quebra da safra. No entanto, os estoques baixos na indústria indicam que a fruta deve contar com boa cotação.

A família Schiller é responsável pela produção de 26 hectares da fruta em diferentes pequenas propriedades na zona rural de Pelotas. Além de pêssego, trabalha em escala comercial com cultivo de tomate, longa vida e gaúcho, com o qual encontra mercado em Santa Maria, centro do estado, a 295 quilômetros de Pelotas. “Planto em janeiro e colho em julho, nas férias do pêssego”, diz. “Para mim funciona bem, porque é possível conciliar as duas safras, começo a colher na virada de novembro”.

Lugar de destaque
Pelotas é o maior município produtor de pêssego do Brasil, com uma safra de aproximadamente cem dias, graças ao desenvolvimento de variedades mais resistentes ao clima pela Embrapa Clima Temperado. No ano passado, segundo a Emater, mesmo com a quebra da safra, a produção chegou a 34 mil toneladas.

Cerca de 85% desta produção é destinada à indústria de doces e conservas alimentícias que se concentra no município, responsável por abastecer a totalidade do mercado interno – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e parte de São Paulo. Ao todo, o setor produz cerca de 32 milhões de latas de pêssego em calda.

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