
A promoção e agregação de valores e atributos na produção de alimentos é um dos objetivos do trabalho “Agrobrand – Modelo Conceitual de marca para o Agro”, desenvolvido pelo mestrando Jeferson Sigales, que obteve o primeiro lugar no VI Congresso de Marketing, Alimentos e Agronegócio (COMA), em Piracicaba, interior de São Paulo, em outubro.
Realizado pela MarkEsalq, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), o Congresso reuniu estudantes, pesquisadores e professores de todo o país com a temática “Marketing em Alimentos e Agronegócio”. Este é um dos focos de Sigales, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Ele explica que um dos pontos de partida é a estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de que, até 2050, a população mundial será de 10 bilhões de pessoas, dois bilhões a mais do que o registrado em 2022, demandando aumento de 70% em alimentos. Neste sentido, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) prevê que o Brasil contribua com 40% desta demanda futura.
“Então a gente precisa de um volume muito maior de produção alimentar e não só apenas quantidade. A mudança do comportamento do consumidor entende que a gente precisa de mais qualidade, mais requisitos nutricionais, ambientais e sensoriais”, explica.
E é neste espaço que o Agrobrand se insere, com o objetivo de identificar esses elementos na produção e nas cadeias que levam o produto até o consumidor. A proposta do trabalho, sob orientação da professora Lívia D’Ávila, portanto, é elaborar um modelo conceitual sobre a compreensão dessas relações, a forma como o valor percorre esses elos e de que modo pode ser utilizado para obter um ecossistema de cocriação de valor sustentável.
“O que acontece, muitas vezes, é que quando o agroalimento, que é o nosso principal foco, sai da porteira, tudo o que é produzido dentro da porteira vira commodity, independente do que foi produzido. Se ele for produzido no Pampa, na Caatinga, no Cerrado, a commodity tem o mesmo valor e nós sabemos que há distinções no alimento”, afirma. Essa postura faz com que os diferenciais de cada produto não sejam demonstrados, assim como os valores e diferenciais presentes no processo de produção.
Dessa forma, a proposta é desenvolver camadas de valor que perpassem os elos de produção, indústria, distribuição e consumo, de forma que possam ser identificadas ao final do processo, com a compra. Essa iniciativa tornaria esse sistema mais sustentável, tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico e poderia ser aplicada em diversas produções.
O mestrando aponta que não há iniciativas realizadas neste sentido de forma deliberada, ou seja, estrategicamente pensada para esse fim. O que ocorre atualmente, segundo ele, são exemplos realizados de modo processual, com a proteção de produtos como a Champagne, bebida que para receber esse nome deve ser feita na região homônima na França.
Formado técnico em Design Gráfico pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), em Empreendedorismo pela Faculdade Anhanguera, com MBA em Branding e Neuromarketing e especializações, o mestrando também é CEO do Studio Sigales, empresa especializada em Marcas (Branding) sediada em Pelotas.
Para ele, a experiência de ser selecionado para participar do congresso e conquistar o primeiro lugar foi importante para demonstrar a importância do Agrobrand. “Tem um valor muito grande e é justamente por compreender isso, eu entendo que a gente tem que fazer com que o Agrobrand possa percorrer o Rio Grande do Sul. Se lá [em São Paulo] a gente é reconhecido desta forma, a gente tem que dar aplicabilidade, ciência, conhecimento para o que nós produzimos no campo”, destaca. Além de um troféu, ele também conquistou um curso de especialização na Europa.
Junto à orientadora, Sigales também está atuando em outras frentes, como a realização de um estudo de caso de Agrobrand, revisão sistemática da literatura de cocriação no agronegócio, pesquisa qualitativa sobre percepção de rotulagem em agroalimentos e discussão teórica sobre desenvolvimento sustentável em alimentos por meio da agregação de valor. Ao final, deverá ser construído um modelo para construção de ecossistema sustentável em agroalimentos pela cocriação de valor.