Olival Dom Feliciano, na zona rural de Pelotas, celebra mais uma safra

Na propriedade são cultivadas as variedades arbequina, de origem espanhola, e coroneique, grega, e a expectativa é de que sejam produzidas até cinco mil garrafas de 250 mililitros de óleo de oliva. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Único a produzir azeite extravirgem em Pelotas para fins comerciais, o olival Dom Feliciano celebra mais uma safra – a terceira seguida e em produção crescente, o que configura mais um motivo para celebração. Com 35% da lavoura colhida até a metade de março apenas com a variedade arbequina, de origem espanhola (além dela, a propriedade trabalha com a grega Koroneiki), o produtor Sérgio Renan Alves já contabilizava um aumento de 13% em relação à safra passada.

Ainda em âmbito de projeção, ele estima uma produção total de até cinco mil garrafas de 250 ml do óleo de oliva, encontrado em padarias, delicatessens, lojas de conveniência, no Mercado Central, entre outros estabelecimentos de Pelotas, região e de outros mercados do Rio Grande do Sul e fora dele. “Nossa marca está bem posicionada em um nicho de mercado ainda restrito, mas com potencial de expansão”, disse.

Com 35% da variedade arbequina colhida até a metade de março, Sérgio Renan Alves já contabilizava um aumento
de 13% em relação a última safra. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Localizado em uma área total de 20 hectares na região da Cascata, dos quais 15 são destinados à olivicultura e os demais à fruticultura e mata nativa, o olival Dom Feliciano produz o azeite de mesmo nome. Começou a tomar forma em 2016, ano em que as primeiras mudas foram plantadas. Foi ampliado no ano seguinte, quando chegou aos atuais seis mil pés. A primeira colheita, no entanto, só foi possível em 2021. Normal. O produtor explica: “É da característica fisiológica da planta, é uma planta perene, não se planta num ano para colher no outro”.

Comparado a olivais de países com tradição centenária e milenar na produção de azeite, a participação pelotense ainda estaria em gestação. Mas se apenas neste ano chega a sua terceira safra, no papel o olival Dom Feliciano tem ao menos uma década.

Antes de dar início à produção, em 2016, Alves e a esposa, Rosângela Costa Alves, planejavam iniciar uma atividade comercial para desenvolverem durante a aposentadoria. Para isso, estabeleceram algumas premissas: descartaram atividades que demandam intensidade de insumos bem como produção de commodities nas quais o mercado impõe o preço, como é o caso da carne e da soja – não do azeite, no qual o produtor tem margem para estipular o preço ajustado à qualidade do produto que oferece.

“Queríamos fugir do agronegócio”, resume. E assim chegou na olivicultura e não se arrepende. “Foi uma boa escolha, embora ainda sofra com dependência de conhecimento e tecnologia, mas o que não tenho busco fora”, disse.

Um desses casos foi sobre preparar o solo da área onde o olival está instalado. O próprio produtor reconhece que não seria classificado como ótimo ou bom para a cultura da oliveira. No entanto, garante a qualidade da produção com estratégias de manejo. “Não poupei insumos, fiz o que era preciso”, afirma.

Quanto ao custo da produção, queixa geral entre todos os produtores, Alves relativiza. Para ele, é uma variável de cada propriedade. Durante a colheita, toda ela manual, o olival Dom Feliciano gera sete empregos diretos. “Podia ser mais, mas tudo gira em função do fluxo de caixa”, explica.

Um fator oneroso é a embalagem. As garrafas, de vidro, são importadas – o Brasil não tem esse tipo de produção industrial. No caso do azeite Dom Feliciano, a procedência é chilena. Aqui são pintadas de preto para proteger o óleo da luz, e assim evitar oxidação.

Além dos empregos diretos, a produção do olival também gera postos indiretos. Diariamente, durante a colheita, as frutas extraídas das oliveiras são transportadas para o lagar onde a produção é processada, na fazenda Serra dos Tapes, em Canguçu, a 70 quilômetros do olival Dom Feliciano. O processamento é feito no mesmo dia – uma imposição na produção de azeite extravirgem para evitar acidez. Ele aponta que um lagar próprio ainda não é compensatório. “Seria um investimento alto para se trabalhar durante 15 dias”, justifica.

Próximo passo: olivaturismo
Planos não faltam na família Alves para agregar valor ao olival. O próximo passo tem direção: inserir a propriedade na rota do turismo rural. Diretora de marketing do Grupo Associativo de Empreendedores do Turismo Rural de Pelotas (Gassetur), entidade formalizada há um mês, Rosângela é quem assume esta responsabilidade no negócio da família.

Olival ocupa 15 dos 20 hectares de uma propriedade na região da Cascata, que também possui fruticultura e mata nativa. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Parêntese: ali tudo é familiar. Além do marido, veterinário, a filha, Marina, é bióloga com doutorado em Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), formação que contribui na produção da propriedade; o filho, Marcel, jornalista, ajudou a criar a identidade visual do produto e atua na comercialização. Rosângela está em todas as frentes, mas em especial esta. “Vamos fazer parte da rota das oliveiras”, garante.

Credencial para isso o olival tem de sobra, já que dispõe de dois açudes, córrego natural, além do pomar e dos seis mil pés de oliveiras. Não é pouco, especialmente quando se tem adiante um vale com mata nativa.

Com experiência em viagens a olivais em Portugal, Grécia e Turquia, ela já tem no papel todo o planejamento estratégico, elaborado junto ao Sebrae, para dotar o olival Dom Feliciano em um espaço receptivo para atividades que incluem degustação, reunião de empresas, hospedagem e casamentos – tipo de celebração comum na cultura da oliveira devido à sua característica perene e longeva. “Vamos melhorar a estrutura e partir para este segmento, que tem muito a ser trabalhado aqui na região, vamos contribuir para isso”, disse.

Rosângela Costa Alves e o marido planejavam iniciar uma atividade comercial para desenvolverem durante a aposentadoria e em 2016 deram início ao olival. (Foto: Adilson Cruz/JTR)

Homenagem geológica
O nome, azeite Dom Feliciano, é uma referência ao corredor granítico que atravessa a região desde o Uruguai até Santa Catarina, entre 250 a 300 quilômetros de profundidade, e ali, na Serra dos Tapes, essa característica geológica aflora em forma de rochas e pedras.
A intenção responde a apelo mercadológico, remetendo a iguarias reconhecidas internacionalmente pela região onde são produzidas, como o espumante da Champagne (França), o presunto de Parma (Itália), entre outros.

Nutricionista elenca benefícios à saúde
Contém propriedades como ômega 9, vitaminas E, A e K, ferro, cálcio, magnésio, potássio e aminoácidos. É rico em ácidos graxos monoinsaturados e possui substâncias antioxidantes que contribuem no bom funcionamento do organismo. Por esses e outros motivos a nutricionista Ângela Marcanth, da Bio Mercado, crava sem medo: o azeite de oliva extravirgem é um dos óleos mais saudáveis para consumo humano. “Não por acaso se consome há séculos também para fins medicinais”, afirma.

Nutricionista Ângela Marcanth alerta que o consumo do
azeite de oliva é benéfico em várias áreas da saúde. (Foto: Divulgação)

Se fosse só para este fim o azeite extravirgem estaria justificado. Porém, a profissional acrescenta outras qualidades, como a redução de riscos cardiovasculares (“por ser rico em ácidos graxos que reduzem as taxas de colesterol ruim no sangue”), o controle de açúcar no sangue (“o que é especialmente benéfico para pessoas com diabetes”), a melhora na saúde cerebral devido ao ácido oleico (“protege membranas celulares que reduzem o risco de doenças neurodegenerativas”), o combate ao câncer por conter ações antioxidantes e a redução de inflamações diversas.

“Substâncias como oleaceína, oleocantal, apigenina e luteolina têm grande atividade antioxidante anti-inflamatória e ajudam a reduzir a inflamação sistêmica no corpo, isso previne doenças crônicas como artrite e artrose”, destaca. No entanto, a nutricionista, apesar de reconhecer todas as qualidades, alerta que azeite extravirgem não é panaceia: recomenda o uso diário mas sem excessos.

A pergunta de um milhão de olivas
Mesmo com todos esses benefícios, uma dúvida persiste entre os consumidores do produto. Afinal, azeite de oliva pode ser aquecido? Segundo Ângela Marcanth, este é o questionamento mais frequente, “e o mais relevante”. Ela defende que azeites da qualidade do extravirgem devem ser consumidos em temperatura ambiente ou fria, até para resguardar o sabor, que costuma ser mais apurado.

Chef de cozinha e coordenador de Gastronomia da Escola Senac Pelotas, Bryan Chaplin destaca a importância da utilização do produto na culinária, por ser um ingrediente versátil. (Foto: Divulgação)

No cozimento de alimentos ou refogados em água fervente como arroz, feijão, soja, legumes, entre outros, a nutricionista reconhece que apresentam boa resistência às alterações químicas e físicas, capazes de manter a ação de ácidos graxos monoinsaturados. Porém, alerta que mesmo sob esse grau brando de temperatura, as propriedades fenólicas (de potencial antioxidante) sofrem redução significativa.

Em frituras ela não recomenda temperaturas acima de 180 graus por ser capaz de “agregar compostos tóxicos”, mesmo no azeite extravirgem. “O ponto de fumaça é crucial, pois marca o surgimento de compostos tóxicos no óleo e oxidação dos ácidos graxos”, alerta.

“Azeite faz mágica até em salada de chuchu”, diz chef do Senac
Com experiência de quase duas décadas de culinária profissional, Bryan Chaplin é um entusiasta do azeite extravirgem – seja como óleo para frigir e refogar, seja para finalização em uma salada, da mais sofisticada a mais simples. “Numa salada de chuchu, por exemplo, o azeite faz mágica”, afirma ele, professor e coordenador de Gastronomia da Escola Senac Pelotas.

Chaplin destaca que o óleo de oliva vai além do paladar e reforça que o azeite extravirgem traz ganhos à saúde. Mas é no prato, sua especialidade, que o chef não economiza elogios. O profissional descreve qualidades: não é agressivo, é pouco gorduroso, dá frescor aos pratos e não é pesado ao paladar.

“Imagina um bacalhau banhado em óleo comum”, sugere. Os efeitos, segundo ele, não seriam benéficos nem visualmente, além de deixar a iguaria, que para Chaplin “é o maior vendedor de azeite dentre os frutos do mar”, muito gordurosa.

Mas para além do tradicional bacalhau, o chef, a exemplo da nutricionista Ângela Marcanth, defende o uso do azeite no dia a dia – seja para refogar cebola e alho para um risoto, seja para finalizar um prato, não necessariamente uma salada. Inclusive sugere azeite de oliva em vez do óleo de soja. “Aquecendo adequadamente, a uma temperatura numa escala até 180 graus, o azeite de oliva extravirgem, além de grande agente de sabor, é mais recomendável”, sustenta. Ele ressalva, porém, que quanto mais perto dos 180 graus, maior a perda nutricional. “Entre 120 e 130 graus não se perde nada, principalmente em sabor”, garante.

Chaplin ressalta ainda que o azeite extravirgem está na origem de diferentes molhos (alguns simples, como o vinagrete) e até em pães, como nas receitas dos italianos focaccia e o ciabatta.

Prato tem o azeite como um dos ingredientes principais,
aliado ao bacalhau, dupla é tradicional em diversos preparos e ocasiões. (Foto: Divulgação)

Dica de receita

Confira a seguir uma receita do chef Bryan Chaplin na qual o azeite extravirgem é imprescindível.

Bacalhau do Chef
– 400 gramas de bacalhau
– 4 ovos cozidos
– 500ml leite
– 90 gramas de cebola em rodelas
– 400 gramas de batatas descascadas, cozidas e cortadas em rodelas
– 60 gramas de azeitonas pretas
– 1 dente de alho fatiado
– 1 folha de louro fresco
– salsa picada
– sal
– pimenta do reino moída
– 10ml de sumo de limão
– 100ml de azeite extra virgem

Preparo:
– Dessalgar o bacalhau, colocar em um recipiente com água, trocando a água a cada 12 horas durante 48 horas de dessalga (será trocada quatro vezes a água)
– Cozinhar o bacalhau no leite com a folha de louro, para que fique branquinho e úmido.
– Em uma frigideira, aquecer o azeite, frigir o alho, cebola e batatas, acrescentar o bacalhau em lascas; saltear. Colocar sal, pimenta, sumo de limão, salsa e azeitonas; saltear novamente.

Onde encontrar
Casa Bender, Panemio, Banca 51 Mercado Central, Padaria Colosso (Areal), Roma Conveniência, Parque Stone Land, Pelotas Conveniências, Alecrim Presentes, Academia Nobull e Fazenda Guatambu (Dom Pedrito).

Diretamente com os produtores: (53) 99927-6777.

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