São pelo menos 56 produtores profissionais, 51 hectares de parreirais e produção estimada em 1,3 mil toneladas de uvas bordô (para vinhos e sucos), niágara rosa e niágara branca (mesa).
Pelotas tem motivos para celebrar a produção de uvas no interior do Município. E assim será: no dia 11 de fevereiro, sábado, a partir das 13h30, ocorre a Abertura da Colheita da Uva, que em 2023 chega a sua 13ª edição. O evento aberto à comunidade conta com apoio e realização de diversos entes, como Prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Emater/RS-Ascar, Embrapa, Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Este ano terá por local a propriedade do agricultor Dirceu Kurz, na Colônia Santa Helena, zona rural.
Na programação, atrações musicais, degustação, comercialização de frutas e demais produtos, espaço para gastronomia, expositores, empreendimentos turísticos na zona rural, além da presença sempre garantida das instituições organizadoras, com técnicos e pesquisadores disponíveis para dúvidas e qualificação da produção.
“Além do aspecto festivo, iniciativas como essa [Abertura da Colheita] são muito importantes como fomento, os produtores sempre vão nesses eventos para tirar dúvidas e se informarem mais”, destaca o engenheiro agrônomo e técnico do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, Rodrigo Prestes.
Antes da Abertura da Colheita, no entanto, será realizada na zona urbana a comercialização da uva e derivados em bancas que serão montadas em diversos pontos da cidade a partir do dia 30 de janeiro, segunda-feira – oportunidade em que os consumidores poderão adquirir a uva diretamente dos produtores bem como vinho, sucos, cucas e geleias.
De acordo com a diretora do Departamento de Apoio à Produção Rural da SDR, Rejane Jorge, para marcar o início da temporada da uva em Pelotas, uma solenidade será realizada às 11h30 no Largo do Mercado, com presença da prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), do vice-prefeito e titular da SDR, Idemar Barz (PSDB), produtores, técnicos da Emater e pesquisadores da Embrapa.
Até o dia 12 de fevereiro, os produtores estarão espalhados nos seguintes pontos da zona urbana – além do Largo do Mercado: avenida 25 de Julho (junto ao condomínio Terra Nova), avenida Dom Joaquim, no cruzamento com a rua Gonçalves Chaves, avenida Salgado Filho, nas proximidades do Jockey Club, avenida Fernando Osório – na entrada do bairro Lindóia, e praia do Laranjal, imediações do Trapiche.
Bom negócio
Produtores atualizados, com pomares altamente tecnificados, constituem o perfil do agricultor da zona rural de Pelotas que investe na uva para fins de comercialização.
Segundo Prestes, a busca por informações é traço comum entre eles. O resultado se vê na estrutura dos parreirais, erguidos em madeira e com arames que suportam até 40 toneladas por hectare, e na qualidade da fruta – com investimento em mudas de boa qualidade genética, técnicas de correção do solo, adubação verde e irrigação de cobertura vegetal.
Não há segredo. Seguindo essa cartilha, a uva tem poder para se consolidar como a principal matriz produtiva da propriedade. “Tecnologia é fundamental para produzir fruta de qualidade”, adverte o técnico da Emater.
O que não raro assusta o produtor que vê na uva uma possibilidade de faturamento é o custo de implantação. Prestes admite que o aporte pode chegar a R$ 200 mil. No entanto, por se tratar de cultura permanente, o investimento é para longo prazo: “Coisa de 50 anos”, garante o técnico da Emater.
“Dá pra ir pagando as contas”
Anfitrião da 13ª Abertura da Colheita da Uva, na propriedade de 12 hectares na Colônia Santa Helena, o agricultor Dirceu Kurz trocou o tomate pela uva há seis anos – e não deve voltar tão cedo para a antiga cultura. “Dá pra ir pagando as contas”, aponta.
Ele espera colher 60 toneladas nos três hectares que dedica à produção de uvas bordô, niágara rosa e niágara branca. “A nossa é uva comum, para mesa e vinho tradicional”, resume o produtor. Uvas finas, como itália, rubi, merlot e cabernet, não resistem à umidade da região – diferentemente das variedades produzidas no interior de Pelotas.
Kurz se decidiu pela uva após 32 anos plantando tomate. Chegou um momento que não quis mais – “o tomate danifica a terra”, critica. Com assistência da Emater e apoio do pesquisador da Embrapa Luiz Carlos Mignolini, o Gringo (“Deus me livre se ele chegasse aqui e não tivesse como queria”, lembra o produtor), foi em frente de forma gradativa.
Começou com meio hectare. Hoje são três. Outros cinco hectares de pêssego, que produz para a indústria, e dez mil pés de tomate, completam o portfólio da propriedade.
Quanto ao manejo, Kurz não se incomoda com a mão de obra que o parreiral demanda, como poda (a partir de setembro), retirada de folhas e acomodação dos cachos – tudo manual. “O mais difícil é levantar a estrutura”, afirma.
Para o curto prazo os planos visam agregar valor à produção, com o funcionamento de uma agroindústria na propriedade, com produção de sucos e geleias – inicialmente. Tijolos para levantar a unidade junto a um dos parreirais já estão devidamente acomodados. Além do suco e da geleia, mais para frente, pretende entregar já enlatado o pêssego que planta para a indústria.
Uva doce no mercado
O déficit hídrico que atinge a região desde outubro passado se por um lado acarreta em quebra de até 30% da safra e em uvas de tamanho menor, por outro aumenta a quantidade de açúcar na fruta. No início de janeiro, o chamado grau brix nos parreirais de Kurz já estava em um patamar apto para consumo após medição feita por técnicos da Emater. “Vai ser uma uva de excelente qualidade, o consumidor pode apostar”, reforça Prestes. Já a colheita está prevista para começar no fim de janeiro e deve durar até o fim de março.
O cenário para o produtor de uva poderia estar melhor não fosse o custo de produção, considerado alto. Kurz diz que na safra passada pagou R$ 98 pelo adubo. Nesta, saltou para R$ 240. “Tudo, no mínimo, dobrou de preço – tudo: mão de obra, fungicida, diesel, assim fica difícil”, lamenta.