Aumentar o consumo de pêssego em calda foi a pauta dominante do primeiro dia da programação oficial da 15ª Conferência Mundial de Frutas Processadas de Caroço (Cancon15), que se realiza até quarta-feira (1º) na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas. O evento foi aberto na manhã desta segunda-feira (30) e se estendeu durante a tarde com apresentações de números e dados de conjuntura da indústria de doces em calda de cada um dos nove países representados na Cancon (sigla derivada da junção das palavras em inglês can – lata – e congress – congresso).
A diminuição do consumo não é fato isolado. Os debates nesta Cancon15 deixaram transparecer que se trata de uma tendência global de menor procura por produtos industrializados. Fenômeno que não foge à realidade do pêssego em calda, que concentra em Pelotas, Morro Redondo e Capão do Leão as dez indústrias que abastecem a totalidade do mercado interno. “Há um entendimento que o pêssego em calda é um produto que tem conservante, e não tem”, reage o presidente do Sindicato dos Doces e Indústrias de Conservas Alimentícias de Pelotas, Morro Redondo e Capão do Leão (Sindocopel), Paulo Crochemore, também anfitrião da Cancon15.

“Quando se lê na lata ‘conserva de pêssego’, muita gente entende como um produto que não se alinha ao nicho do alimento saudável, a gente precisa desmistificar esse entendimento em escala global porque são pêssegos crus, descascados, que levam um pouquinho de açúcar. Nosso conservante é a lata, não usamos insumos que conservam o produto”, esclarece. De acordo com o empresário, o pêssego em calda sequer é cozido. Conforme ele, é uma fruta in natura, embebida em calda. “O que dá longevidade ao produto é a lata, que é 100% reciclável, em Pelotas é uma cultura gastronômica que já tem quase 150 anos, nosso principal desafio é aumentar o consumo, principalmente entre o público jovem”, afirma.
A delegação da África do Sul foi a primeira a participar da programação oficial da Cancon15, seguida pela da Argentina, do Chile e, fechando a agenda da manhã, da China, que trouxe a maior delegação ao evento, com nove integrantes.

Além desses países e do Brasil, país-sede, a Cancon15 conta também com representações dos Estados Unidos, Espanha, Grécia e Itália. Juntos, são considerados os maiores produtores de frutas em conserva do mundo. No caso do Brasil, as dez empresas localizadas em Pelotas, Morro Redondo e Capão do Leão, além de abastecerem o mercado interno – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo –, destinam 20% de sua produção para a exportação. Atualmente, ocupam fatia do mercado de países como Uruguai, Bolívia, Paraguai e Venezuela. Dados do Sindocopel apontam que essas unidades são responsáveis por quase 800 empregos fixos durante todo o ano. Na safra, sem contar nos pomares, estima-se que este número chegue a quatro mil postos de trabalho.

A Cancon15, traduzida para 15ª Conferência Mundial de Frutas Processadas de Caroço, prossegue nesta terça-feira (31). A abertura do segundo dia de evento será com o empresário e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Marcos Oderich. Ele vai falar sobre a “Importância e tendências da agroindústria no comércio alimentício mundial”. Também está prevista na programação visita às dependências da Embrapa Clima Temperado e ao pomar na propriedade do produtor Dari Bosembecker.
Boas-vindas
As delegações estrangeiras chegaram domingo (29) a Pelotas. À noite, no hotel Jaques George Tower, foi oferecido um coquetel de boas-vindas aos representantes. Além deles, participaram a direção do Sindocopel e empresários do setor de pêssego em calda e da indústria em geral. O secretário de Desenvolvimento, Turismo e Inovação, Gilmar Bazanella, representou a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB).

“Para nós, para o sindicato, é um orgulho muito grande e é também o reconhecimento de um trabalho que começou lá em 1880, e vem ser contemplado hoje quando temos a oportunidade de realizar um congresso que reúne os maiores fabricantes de pêssego do mundo”, disse Crochemore na ocasião. “Conseguir trazer esse congresso para cá nos auxilia na troca de experiências e nos atualiza sobre o que o mundo está fazendo no setor, as novidades e o tipo de pêssego que os mercados estão querendo consumir, o congresso serve pra isso”, finalizou.
O Cancon é um evento bienal, que reúne associações de indústrias produtoras de pêssego para discutir custos, inovações tecnológicas, ampliação de mercado e outros temas de interesse do setor. Conta com patrocínio do Sicredi, da Omip Food Processing Machinery, Atlas Pacific e CTI Foodtech. O apoio é do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Sebrae Agronegócio, Embrapa, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Prefeitura e Universidade Federal de Pelotas (UFPel).