A sociobiodiversidade é destacada em cinco eventos simultâneos na Faem/UFPel

Evento ocorreu de terça (26) a quinta-feira (28) na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (Fotos: Luciara Schneid/JTR)

Eles não são super-heróis, mas poderiam ser. São homens e mulheres de comunidades tradicionais, como as tribos indígenas, quilombolas e agricultores familiares, que guardam, preservam e multiplicam a cultura e o modo de vida deixado por seus ancestrais, coexistindo com o meio ambiente, numa relação de respeito e consciência ecológica. Eles são os guardiões da sociobiodiversidade, lembrados e homenageados durante três dias, em cinco eventos simultâneos realizado na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas (Faem/UFPel).

Iniciado na terça (26) e encerrado na quinta-feira (28), o evento Guardiões da Sociobiodiversidade: Sementes Crioulas, Frutas Nativas e Agroflorestas uniu as instituições Embrapa Clima Temperado, UFPel, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS) e Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e cinco eventos: o 7º Seminário Agrobiodiversidade e Segurança Alimentar, a 2ª Feira de Sementes Crioulas na Alimentação, o 4º Seminário de Frutas Nativas do RS, o 3º Seminário das Agroflorestas do RS e o 4º Encontro Região Sul de Etnobiologia e Etnoecologia.

Na frente e no saguão da Faem/UFPel, várias bancas apresentavam toda a diversidade destas populações e os produtos elaborados e cultivados por elas, como forma de geração de renda e sustentabilidade econômica, social e ambiental. Além de conhecer um pouco mais sobre o modo de vida destas comunidades, os participantes também tiveram oportunidade de adquirir estes produtos ou trocá-los entre si.

Bancas apresentaram a diversidade de produtos cultivados por tribos indígenas, quilombolas e agricultores familiares

O coordenador do evento pela Embrapa, o pesquisador Irajá Antunes, explica que a sociobiodiversidade inclui todos os componentes da biodiversidade relevantes para a agricultura e alimentação e um a mais, que é o homem. “Este evento busca entender o modo de vida destes guardiões e aglutiná-los”, diz. Segundo ele, os guardiões são os próprios agricultores especializados em guardar estas preciosidades, como as sementes crioulas.

A importância do modo de vida das populações tradicionais e suas funções na sociedade foi o tema abordado na palestra do agrônomo Alvori dos Santos, que atua junto a povos e comunidades tradicionais do Cerrado, Amazônia e Nordeste do Brasil. “Sessenta por cento da área física do Brasil é ocupada por comunidades tradicionais, o que inclui a agricultura familiar, que tem um modo de vida semelhante”, diz.

Palestras também integraram as atividades

A coordenadora do evento pela UFPel, Márcia Goulart, destaca a participação da instituição como parceira nestes eventos. Segundo ela, a Feira de Sementes Crioulas, por exemplo, além de difusão do conhecimento sobre a diversidade destes materiais da cultura tradicional, seja de milho, feijão, tomate, oportuniza a troca das sementes entre os participantes, que as utilizam para a sua subsistência.

No último dia, foi realizada plenária para elaboração de carta contendo as diretrizes gerais do evento, valorizando os aprendizados e sinalizando as discussões que devem permear a próxima edição. A ideia é divulgar essa carta nos espaços de interação dos grupos, de maneira a contribuir com as agendas de atuação dos diversos agentes da sociobiodiversidade participantes. Também foi entregue certificado de reconhecimento aos guardiões da sociobiodiversidade, representantes das diferentes comunidades e organizações sociais.

Cooperfumos e as sementes crioulas
Em busca da diversificação nas propriedades envolvidas com a cultura do tabaco, surgiu em 2005, em Santa Cruz do Sul, o trabalho da Cooperativa Mista dos Fumicultores do Brasil Ltda. (Cooperfumos), ligada ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), com as sementes crioulas, bioinsumos, biofertilizantes, manejo de solo entre outros.

Cooperfumos esteve presente no evento

De acordo com o engenheiro agrônomo Josuan Schiavon, em Encruzilhada do Sul, está localizada a filial e a Unidade de Beneficiamento de Sementes (UBS), que trabalha apenas com sementes crioulas.

Ele explica que recentemente, com recursos do BNDES, Inova Social, Bionatur e Embrapa, foi criada a Rede de Sementes Agroecológicas Sul, para a produção e comercialização de sementes de milho, feijão, soja, hortaliças, entre outros. Segundo ele, o projeto de sementes crioulas envolve 350 famílias e 120 guardiões. “O objetivo do projeto é a multiplicação das sementes e manutenção da cultura camponesa”, finaliza.

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