Uma criança de 8 anos faleceu na noite de terça-feira (17) após ser vítima de uma descarga elétrica na quadra de esportes do condomínio onde morava, na avenida Domingos de Almeida, Areal, em Pelotas. Nicolas Iran da Costa Rocha chegou a ser socorrido e encaminhado ao Pronto Socorro de Pelotas, mas não resistiu. Segundo a Delegacia da Criança e do Adolescente, o caso está sendo investigado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Por volta das 19h, Nicolas e dois amigos que também residiam no local estavam brincando no espaço quando resolveram descansar e sentar em uma barra de ferro utilizada pelo filho de um dos moradores para praticar manobras de skate. Quem relata o caso é Wagner de Oliveira, pai de um dos amigos de Nicolas que também estava no local. Ele conta que o filho dele foi, inclusive, a primeira criança a levar o choque.
A informação que circula entre os moradores, de acordo com Oliveira, é de que o marido da nova síndica teria pedido ao jardineiro, que presta serviços para o condomínio, que realizasse a retirada de um refletor estragado do espaço de esportes. “Essa pessoa, que não é eletricista, seria um faz tudo dentro do condomínio, ele subiu, retirou o refletor, deixou um fio desencapado e aí parece que não havia uma fita isolante e ele somente entrelaçou o fio desencapado na tela de metal”, explica.
O momento da fatalidade, conforme Oliveira, teve início com uma sequência de choques nas crianças. “O meu filho ele tava jogando bola com as outras crianças e encostou na tela e sentiu o choque. Ele disso, gritou, começou a chorar dizendo ‘tomei um choque’, e nisso tava uma menina e a menina encostou na tela também e também disse ‘eu também tomei um choque’. Nisso o Nicolas sentou também pra descansar na barra de ferro e, infelizmente, ele acho que com as costas molhadas, encostou na tela, só que ele encostou no fio desencapado”, descreve.
Os moradores supõem que o fio em questão teria sido entrelaçado acima da altura em que estava quando Nicolas levou o choque, e que pode ter caído com o impacto de uma bolada durante o jogo das crianças. “Um dos meninos que também estava na quadra, que já era um adolescente, pegou e puxou o Nick. Ele também tomou uma descarga elétrica, mas ele foi num ato de reflexo pra salvar o Nick, e tirou e ele caiu na quadra desacordado”, diz.
Foi após este momento que as crianças se dividiram para pedir ajuda, tendo ido na portaria comunicar o ocorrido e no salão onde acontecia, naquele momento, uma reunião dos moradores do condomínio. No espaço havia, conforme o relato de Oliveira, uma moradora que é enfermeira e se dirigiu à quadra para prestar os primeiros socorros ao pequeno. Ela teria feito massagens cardíacas até que o menino voltasse a apresentar sinais.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência chegou ao local e seguiu efetuando os procedimentos necessários para estabilizar a criança, com o intuito de conseguir encaminhá-la ao atendimento médico. Oliveira afirma que os profissionais que atenderam Nicolas disseram que ele havia sofrido 18 paradas cardíacas. “Ele tentou até o último instante sobreviver”, completa.
Oliveira esclarece que seu filho sempre foi próximo de Nicolas, o Nick como era carinhosamente chamado, sendo que ambos sempre brincavam juntos e frequentavam a casa um do outro. Justamente por todos os laços e proximidade com a vítima e sua família, ele diz que quer que o caso venha a público. “Eu não quero que a morte do Nick seja em vão, assim como não quero estar apontando o dedo pra ninguém porque eu não sou juiz pra isso, não tenho esse poder”, ressalta. Ele pede para que os condomínios, síndicos e empresas que prestam serviços tratem assuntos como este com seriedade. “Que o dinheiro não se sobressaia. Naquela questão de eu vou pegar esse aqui que é um faz tudo, vai ali e faz pra economizar”, pontua.
Por fim, Oliveira questiona a falta de fiscalização nos condomínios fechados, o que acaba permitindo o uso de mão de obra não especializada e precarização das estruturas.
Um familiar da vítima, Paulo Rocha, também questiona a estrutura da quadra, que foi montada com uma tela de metal com os refletores pendurados, além do fato de o disjuntor ser de fácil acesso, podendo ser ligado por qualquer pessoa. Segundo ele, a família está abalada.
A reportagem do JTR entrou em contato com a atual síndica do condomínio, que assumiu o posto no início do ano e apenas afirmou que todas as informações e depoimentos já foram entregues à Polícia Civil.
Conforme a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Lisiane Matarredona, a investigação ainda está em fase inicial, ouvindo testemunhas e aguardando o resultado da perícia.