Reescrevendo o ‘ser pai’: quando o afeto não é sinal de fraqueza

O fotojornalista Michel Corvello foi pai de Inácio aos 21 anos e, mesmo morando distante do filho, tenta dar o suporte necessário para o menino. (Foto: Michel Corvello)

Entre tantos momentos espe­ciais a serem vividos ao longo do ano, enquanto o Dia das Mães, no mês de maio, apresenta-se como uma data de comemorações irre­futáveis, o Dia dos Pais, acontecen­do tradicionalmente no segundo domingo de agosto – este ano, no dia 11, carrega em sua essência, além do simbolismo comemorativo, uma reflexão social do papel do homem enquanto pai, tão intrinsecamente ligado às raízes de uma sociedade machista, que, por vezes, declamou ao fervor de pulmões que sentir, enquanto homem, era ser fraco. A crença, que a partir de uma nova geração de pais está se quebrando, formou homens rijos em seu sentir, que muitas vezes preferiram deixar ir ao invés de expressar o desejo de ficar por temer qualquer afeto, en­xergando-o como sinal de fraqueza.

Conforme dados da Associa­ção Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), de 2020 a 2024, cerca de 12.116.743 (doze milhões cento e dezesseis mil se­tecentos e quarenta e três) nas­cimentos aconteceram no Brasil, entre estes, 749.942 (setecentos e quarenta e nove mil novecentos e quarenta e dois) não contam com o nome do pai em seu registro.

Tendo sido pai aos 21 anos, o fo­tojornalista Michel Corvello, hoje com 29, narra a trajetória de amadu­recimento por conta do nascimen­to do filho, Inácio, de 9, nadando contra a corrente de estatísticas e provando que, mesmo com dificul­dades, a escolha de estar ao lado do filho acaba sendo um bem neces­sário à criança e ao seu progenitor.

“Quando eu descobri que ia ser pai, o meu primeiro sentimento foi de desespero. Por ser jovem, por ser um estudante, não ter qualquer es­tabilidade financeira na vida”, dis­se. À época, estudava Jornalismo na Universidade Federal de Pelo­tas (UFPel) e conta que a única fon­te de renda que possuía era o Au­xílio Moradia, que girava em torno de R$ 400,00 – o que fez com que Corvello buscasse trabalhar em ou­tras áreas, a fim de garantir que o fi­lho tivesse condições que merecia.

Desde a infância, o fotojornalis­ta teve maior convívio com a mãe, uma vez que o pai reside em outra cidade. Ele relata que para lidar com todas as mudanças em sua vida, re­cebeu total apoio da progenitora. Revelou ainda que, mesmo que re­sida em um município diferente ao do filho, busca sempre estar presen­te em sua rotina.

“O tempo passa muito rápido, e a gente tem que aproveitar cada minuto que tem para estar jun­to. E como eu tenho muito pouco, eu acabo sendo um pai muito ba­bão, ficando o tempo todo na vol­ta”, conta.

Por conta da rotina de trabalho, os momentos com o filho se res­tringem principalmente aos mo­mentos de folga, nos quais Corvello viaja para estar junto de Inácio, ou nas férias, quando o garoto passa ao lado do pai. “O principal desafio é estar longe. É trabalhar numa cidade e o meu filho crescer em outra, mas eu não tenho opção. […] O que mais me dói é isso, é criar o meu filho a distância, apesar da proximidade do celular. A tecnologia nos aproxi­ma, mas o contato físico, tu estar sa­bendo o tempo todo e estar junto, é diferente. Então, acho que o prin­cipal desafio tem sido e, é até hoje, este”, declara.

Como um dos pontos positivos por ter sido pai ainda jovem, o foto­jornalista destaca a facilidade para acompanhar o filho em atividades que envolvem muita energia – clás­sico das crianças. “Eu procuro estar sempre 100% junto todo o tempo em que eu estou com ele, sempre estar fazendo coisas com ele, brin­cando com ele, participando do mundo dele, jogando bola com ele”.

Mesmo distante, Corvello ga­rante tentar de todas as formas dar suporte ao filho, mantendo contato integral com a mãe do garoto, ven­do se ele está fazendo os deveres de casa, como está o andamento na escola, e tentando, nisso, organizar a rotina para que façam parte um da vida do outro. “Não tem desculpa para um pai ser ausente e não par­ticipar efetivamente da vida de uma criança hoje, morando em qualquer lugar que seja”, conclui.

Sobre as mudanças ao ser pai, o fotojornalista conta que o amadu­recimento vindo com o filho, segue conforme o tempo. “Muda comple­tamente a tua percepção de vida. Depois que tu é pai, tudo o que tu vai fazer, tu pensa primeiro nos teus filhos, então tem uma pessoa ali que depende de ti, que tu é a referência dela, então, tudo o que um pai fi­zer, o filho vai acabar se espelhando nele”, declara.

Em uma relação descrita como sendo de muito carinho e de amor, Corvello declara gostar de repetir para o filho o quanto o ama. “A falta de um carinho afetivo de pai pode trazer várias consequências pra vida de uma criança. A minha missão, eu sempre prometi para mim mesmo, desde o dia em que ele nasceu, é de que eu nunca iria abandonar ele, que eu iria me dedicar ao máximo para estar junto com ele em todos os momentos importantes da vida dele”, finaliza.

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