O grupo, conhecido como Heróis Selvagens, surgiu como uma união de forças empenhadas em um único objetivo: ajudar o próximo. Os voluntários vêm prestando ajuda aos moradores das áreas afetadas pelas enchentes em Pelotas desde o início do evento climático.
Marco Castro é fotógrafo e pecuarista e começou a ajudar os afetados pelas enchentes quando as águas ainda não haviam chegado na Princesa do Sul. Ele reuniu uma carga de doações de moradores da região de sua propriedade, localizada entre Pedro Osório e Piratini, e trouxe até Pelotas, onde estavam sendo arrecadadas doações para os municípios atingidos até então.

Neste momento, Castro reuniu-se com dois amigos, conhecidos Arthur MFO e Guido CNR, e foi até a Z3. Mesmo antes das enchentes chegarem de fato a Pelotas, muitos moradores da localidade já estavam preocupados em retirar seus móveis, visto que a região sofre frequentemente com alagamentos. “Estávamos monitorando a Z3 e o (Balneário) Valverde. Como eu trabalho com fotografia, eu sempre levava meu drone e câmera. Então, quando não estavam precisando de ajuda, eu fotografava e registrava tudo”, explicou.
O fotógrafo publica todos esses registros em suas redes sociais, chegando a vídeos que ultrapassam as 200 mil visualizações. “Nem imaginava que bombaria tanto. Não era por isso, era para ajudar as pessoas mesmo”, acrescentou.
As águas foram subindo em Pelotas e, com o trabalho de Castro e outros membros do grupo exposto na internet, muitas pessoas acabavam entrando em contato para solicitar ajuda. “Viram que eu estava em ativa e simplesmente colocaram meu número nos contatos de resgates. Saiu no jornal e nas redes sociais. No outro dia, meu celular tinha mais de 60 mensagens”, contou ele.
A equipe foi crescendo ao longo da jornada, recebendo o reforço de outros importantes membros. Entre eles, Matheus Pinto, Taiana Madeira, Tiago Klug, Mauricio Pereira e Rafael Vitória. O grupo é totalmente voluntário e sem nenhum envolvimento político, viabilizado por doações e serviços em sua maioria, prestados pelos próprios membros. Os Heróis Selvagens, nome que carregam estampado em seus moletons, realizaram dezenas de resgates de animais e pessoas nas zonas afetadas do município.
O momento-chave para a união do grupo foi a ação realizada na Ilha da Feitoria, onde um rebanho de gado estava ilhado, sem acesso à comida. Devido ao grande porte dos animais, eles não poderiam ser retirados da área com os barcos disponíveis. Dessa forma, foi preciso a união de forças para que o grupo pudesse tratá-los no local, levando ração e veterinários para o atendimento dos bichos várias vezes. “Foi muito bom ter conhecido eles nesse momento e ter feito novas amizades com o pessoal da Z3. Essas amizades ficaram para a vida”, comentou Castro.
Entre os resgates mais memoráveis, o pecuarista cita o salvamento de uma manada de cavalos que estava ilhada em um pequeno pedaço de terra próximo ao Antigo Engenho. A ação durou cerca de oito horas, nas quais o grupo trabalhou incessantemente. “Não tomamos nem água, não comemos nada, estávamos congelados. E conseguimos tirar os cavalos de lá. Foi uma das missões mais lindas e perigosas, pois a água estava subindo rapidamente, o (canal) São Gonçalo é muito perigoso e os barcos eram pequenos”, relembrou. Para retirar os animais, Castro contou que foi preciso levar um potro no barco e guiar outros sete cavalos a nado por um percurso de cerca de 40km.
Segundo o pecuarista, no total, foram salvos mais de 50 animais, entre cachorros, ovelhas, galinhas, cavalos, terneiros, bezerros e os mais variados bichos. Quanto ao número de pessoas, o voluntário estima que foram mais 30 pessoas que receberam ajuda do grupo para saírem de suas casas.
A mais recente ação do grupo teve parceria com a Óticas Diniz. O grupo foi procurado por Suelma Vieira, uma das proprietárias da ótica, que disponibilizou mais de 200 óculos de grau para os moradores necessitados da Z3. Foi realizada uma triagem para constatar as demandas da população e a entrega dos óculos aconteceu no dia 22. Castro salienta a importância dessas práticas, pois a localidade foi fortemente afetada e ainda precisa de muita ajuda e doações. “Foi uma baita ação, porque água potável já tem bastante. O que falta são essas ações assim, também relacionadas a comida e utensílios domésticos; porque eles perderam tudo que tinham”, destacou.

Além disso, o pecuarista garantiu que as atividades do grupo devem continuar, mesmo após a superação dos danos causados pelas cheias. Visualizando de perto os percalços para captação de verba governamental para o auxílio dessa população vulnerável, surgiu a ideia de transformar o grupo em um instituto. “Queremos continuar, porque o povo está sempre precisando de ajuda e os animais mais ainda”, concluiu.
O trabalho dos Heróis Selvagens pode ser acompanhado através dos perfis do Instagram dos participantes: @arthur.mfo, @rafvitoria, @mtpeople_happy, @taianamadeira, @marcoecolc, @mauriciopolinapereira e @tiagoklug.