Pelotas: Asylo de Mendigos é a maior instituição do gênero do Rio Grande do Sul

A assistente social Elizane Fernandes e o presidente do Asylo, Gilberto Demari Alves chamam atenção para a necessidade dos familiares em manterem contato com os idosos que estão no local. (Foto: Roberto Ribeiro/JTR)

Pelotas, pós-Guerra do Paraguai (1864-1870). O jornalista Antônio Joaquim Dias, dono do jornal Correio Mercantil, se vale do órgão para lançar uma campanha humanitária: erguer um abrigo para os mutilados do conflito, situação que condenava os veteranos à condição de mendicância. A ideia pegou. Começou-se então a arrecadar fundos para levantar uma casa que assistisse aquele contingente.

Com um valor próximo a 35 mil contos de réis, procurou-se então um espaço para erguer o imóvel. Entram em cena o barão e a baronesa de Santa Tecla, donos do terreno onde está edificado o Asylo de Mendigos, localizado hoje no Parque Dom Antônio Zattera, entre as ruas 15 de Novembro e Andrade Neves. Outras famílias se engajaram no projeto e teve início a construção, com pé direito alto e amplas aberturas para circulação de ar, como convinha à época, já que a tuberculose era a principal ameaça à saúde pública.

Na fase final da obra, os recursos provenientes da campanha iniciada pelo jornalista começam a minguar. Quem comparece é João Simões Lopes, o Visconde da Graça. Charqueador dos mais bem-sucedidos do período, ele assume o financiamento na reta final e a partir de 1882 o Asylo começa de fato a prestar os seus serviços, que duram 141 anos e transformam o lar de idosos na maior entidade do gênero do Rio Grande do Sul.

Hoje o Asylo abriga 102 homens e mulheres dos 60 aos 102 anos (a maioria na faixa dos 75 aos 85). O número deve aumentar após a conclusão de obras em andamento, ainda sem previsão de término. Quando finalizadas deverá acolher um total de 120 idosos. Há um ano na presidência e 41 na instituição, o atual presidente, Gilberto Demari Alves, confia. “A comunidade de Pelotas é muito ligada à benemerência”. Antes da entrevista ao Tradição Regional, ele e a assistente social Elizane Fernandes tinham acabado de receber uma doação expressiva de roupas de cama e travesseiros. Pela manhã haviam chegado fraldas geriátricas. E no dia 8 de dezembro foi reinaugurada a gruta do pátio, obra executada por meio de doações e apoio da comunidade.

Perfil
Segundo Alves, o Asylo é procurado pelas famílias quando os idosos começam a apresentar limitações físicas e mentais. Casos de Alzheimer têm sido a principal causa de encaminhamento. “Enquanto o idoso está bem, ele permanece entre os seus. Se essa condição se altera, se ele precisa de cuidado, as famílias não conseguem lidar”, afirma Elizane. Mas não apenas. Situações de abandono também não são poucas, mas após os idosos serem acolhidos. “Tem gente que foi largada aqui e nunca mais apareceu ninguém”, admite Alves. Dói. Principalmente nos moradores. “No Dia das Mães há uma expectativa grande para receber os filhos, neste ano tive que inventar para uma moradora que uma greve de ônibus impedia as pessoas de sair de casa”, conta.

Alguns chegam a procurar a assistente social para saber se aconteceu algo na família já que ninguém mais aparece. A incumbência de “dar a dura” nos familiares é de Elizane, que costuma ser rígida e deixa claro que o asilo não é uma casa de abandono. Já houve casos em que precisou ameaçar com o Ministério Público. Felizmente, não é a maioria dos casos. Mas também não é um percentual pequeno. “Ocorre com 25% dos moradores”, estima.

As visitas são diárias, durante toda a tarde. No entanto, não é sempre que tem movimento. Aliás, é até incomum. Graças à equipe de 51 funcionários, juntamente com voluntários, a sensação de abandono não é hegemônica. O ambiente, pode acreditar, é festivo. A capela recém reformada está sempre lotada nas missas. Todas as quartas, à tarde, têm bailinho. A própria Elizane não se faz de rogada. Se veste de palhaço e interage com os idosos.

O período natalino é de agenda cheia. Além da festa oferecida pelo próprio asilo, há outras, organizadas por grupos religiosos e clubes de serviço. “A vida aqui é muito intensa, a própria recuperação da gruta ajuda a conferir mais qualidade de vida, eles adoram ver os peixinhos, parar para ouvir a água correndo, observar os passarinhos no pátio”, discorre o presidente da instituição.

Reinaugurada no início de dezembro, obras da gruta foram executadas por meio de doações e apoio da comunidade e é mais uma opção de lazer para os moradores. (Foto: Roberto Ribeiro/JTR)

Estrutura
A casa, assim como todo lar de idosos, é obrigada a dispor de profissionais exigidos para que um espaço dessa natureza possa funcionar. Tem enfermeira-padrão, nutricionista, assistente social, técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, cozinheiras e equipe de limpeza divididos, a maioria, em plantão de 24 horas. Esporadicamente, são submetidos a cursos de capacitação.

No local são servidas 700 refeições diárias. Começa às 7h com café da manhã, seguido de um lanche, almoço, lanche da tarde e janta. Tanto na ala feminina como na masculina, ambas providas de posto de enfermagem, há salas de estar com TV de tela plana de 50 polegadas.

Subsistência
Dos 102 moradores, apenas dois são isentos de mensalidade. “Não tem ninguém por eles, então damos tudo, desde a fralda”, diz Alves. O valor equivale a 70% (R$ 911,40) do salário mínimo, conforme previsto no Estatuto do Idoso, para cobrir as despesas de todos os serviços que o asilo oferece, incluindo medicamentos. “Este é o grande diferencial do Asylo, desconheço outro local que ofereça o tratamento que recebem aqui como instituição de amparo, cuidado e filantropia”, orgulha-se.

Além das mensalidades a instituição sobrevive com o apoio de pessoas físicas e jurídicas que aportam todo o tipo de recursos, inclusive financeiros. Conta com repasse de alimentos do Mesa Brasil do Sesc, de mantimentos de supermercados (projeto Mesa de Canãa), participa de editais, além de doações espontâneas da comunidade. “Toda doação é bem-vinda, no momento só não estamos recebendo roupas”, diz Elizane.

Contatos
Mais informações sobre o funcionamento, visitas, formas de ajudar e vagas disponíveis podem ser obtidas pelos telefones (53) 98436-0257 e 3222-4762.

Enviar comentário

Envie um comentário!
Digite o seu nome