Os desafios que vão além de apenas conduzir um veículo de resgate

Márcio Gayer é instrutor de atendimento pré-hospitalar (APH), suporte básico da vida (SBV) e, há 11 anos, também exerce o cargo de condutor de veículo de emergência. (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Som comum àqueles que estão cercados pelo meio urbano, as sirenes de uma ambulância são quase características fundamentais nos cenários que compõem as cidades, embora também estejam presentes nas rodovias e municípios do interior. Algo que poucos se perguntam a respeito, porém, é a responsabilidade que paira sobre quem está por trás do volante e que tem tanto comprometimento com a vida quanto a equipe de socorro, uma vez que sua principal missão é contra o tempo.

Márcio Gayer, instrutor de atendimento pré-hospitalar (APH), suporte básico da vida (SBV) e condutor de veículo de emergência, está há 11 anos dedicando sua vida ao socorro de pessoas, tendo iniciado na área através de uma seleção para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em 2013.

Considerado um sistema recente, o Samu 192 surgiu primeiramente em 2003, através da Rede de Atenção às Urgências e Emergências, criada no mesmo ano pelo governo federal. De acordo com Gayer, o principal desafio da profissão, atualmente, está em ser reconhecido e melhor remunerado, de forma que os profissionais tenham um piso salarial justo à função que exercem.

“Desafios eu tenho todos os dias quando coloco meu macacão, saio de casa deixando minha família para cuidar de uma pessoa – ou várias, que é o amor de alguém. O outro desafio que tenho é multiplicar o conhecimento, técnicas básicas para as pessoas saberem realizar os primeiros socorros até a nossa chegada. Isso triplica a sobrevida da pessoa que está em uma parada cardiorrespiratória ou um engasgo, por exemplo”, relata o profissional sobre suas experiências pessoais.

Em anos de trabalho, a vida de Gayer, ao mesmo tempo em que acontece fora do veículo de assistência, também se entrelaça com as situações que presencia. Ele afirma que tudo aquilo que vê permanece consigo como lições e aprendizados que passa adiante através de sua atuação também como professor no curso de Técnico em Enfermagem.

Como um dos momentos mais impactantes de sua carreira, o motorista conta sobre a ocorrência de um menino que se afogou na piscina de casa – próximo à praia. “Chegando lá, ele já estava em parada cardiorrespiratória. Mas devido à orientação pelo telefone, a familiar já estava realizando a compressão no tórax do menino. Então, assumimos o atendimento e ficamos uma hora realizando todos procedimentos possíveis para ele retornar à vida. Quando estávamos perdendo a esperança, o coração dele começou a bater novamente e rapidamente colocamos ele na ambulância e levamos para referência em atendimento”, relembra. “Depois que parei na base, meu corpo tremia mesmo com todo esse tempo de experiência. Não somos uma máquina e temos sentimentos, família, filha e esposa…”, completa.

Preparado para corridas contra o tempo, uma vez que cada minuto conta ao atender um chamado, Gayer relata que uma das principais lições que busca passar adiante em suas aulas está relacionada ao tempo de qualidade que se tem com aqueles que se ama. “No meu trabalho, várias pessoas não tiveram tempo de dizer te amo, beijar, falar, concluir seus planos. Deixaram de viver o presente, o agora. Seu filho(a) te chama, vai mesmo cansado(a), brinca, conversa, beija. Tua esposa te chama, vai, porque não sabemos quando vamos ouvir pela última vez a voz de quem mais amamos. Para esse momento não tem idade, cor, raça, gênero e religião”, reflete o motorista.

Atualmente, além de desempenhar a função de condutor de ambulância, ser professor do curso de Técnico em Enfermagem e ser instrutor nos cursos de SBV e APH, Gayer é também enfermeiro e realiza ainda a capacitação de motoristas de ambulância, sendo ainda diretor da empresa Gayer Centro de Treinamento em Saúde.

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