
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), aproveitou a abertura oficial da 30ª Fenadoce, realizada na noite da sexta-feira (19) em Pelotas, para subir o tom das críticas ao governo federal com relação ao que classificou como deslealdade federativa do tratamento dispensado ao Estado. No discurso diante de uma plateia formada por políticos e empresários da Zona Sul, o governador defendeu que as lideranças gaúchas levantem a voz para cobrar do governo federal mais atenção ao Rio Grande do Sul. “Quando você analisa o tratamento que a União dá a outros entes federativos dá para observar uma absoluta deslealdade federativa no tratamento com o Rio Grande do Sul. O pacto federativo sempre significou nossas riquezas servirem para levar investimentos para outras regiões, agora é hora do Brasil deixar aqui o que nós produzimos, colocando os recursos para a reconstrução do nosso estado”, declarou sob aplausos.
No início da semana o governador já havia feito duras críticas ao governo federal com relação a liberação de recursos para a reconstrução do RS. Dias depois o ministro Paulo Pimenta rebateu o governador dizendo que o governo federal não mede esforços para atender às demandas do estado. Agora o governador voltou a carga dirigindo suas críticas, epecialmente, aos fundos constitucionais e incentivos fiscais garantidos pela União aos estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Leite direcionou suas críticas, especialmente, aos fundos constitucionais e incentivos fiscais garantidos pela União aos estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Conforme o governador o direcionamento de parte dos impostos federais para o Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e Banco do Brasil para subvencionar empréstimos para o setor privado investir nestas regiões garante chegam a R$ 20 bilhões por ano, o que gera um desequilíbrio na relação federativa e prejudica o Rio Grande do Sul que não dispõe das mesmas armas para atrair novos investimentos.
“A tomada de empréstimos para o setor privado para investimentos em outras regiões é mais barata, também não temos incentivos como os concedidos para a Zona Franca de Manaus, nem ICMS interestadual como os definidos nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste com alíquotas reduzidas para 7%, nem companhias como a Companhia de Desenvolvimento dos Valores do São Francisco e Parnaíba, a Codevasf, que opera com recursos da União e ainda nos exigem 15% da nossa receita líquida para o pagamento da dívida”, reclamou.
O governador defendeu uma solução definitiva para a dívida do RS com a União, ao invés de apenas a suspensão dos pagamentos por causa da calamidade climática, como forma de dar ao Estado maior capacidade de investimento e atração de novos empreendimentos. “Se não querem resolver a dívida então nos deem os benefícios que dão para outras regiões, assim seremos capazes de gerar riqueza suficiente para pagar essa dívida sem asfixiar o estado. O problema está em não nos dar o que dão a outras regiões e ainda exigir que paguemos uma conta, isso não está certo”.
A edição da união
Como tradicionalmente acontece, o ato de abertura oficial da Fenadoce aconteceu na Cidade do Doce e reuniu autoridades civis e militares e lideranças empresariais e políticas de toda a região. O tom dos discursos foi tanto de celebração pela realização da 30ª edição como de exaltação pela capacidade de organização e trabalho da cadeia produtiva do doce mesmo diante das catástrofes climáticas que atingiram o estado em maio.
O Conselheiro Gestor da CDL Pelotas e membro da Comissão Organizadora, Daniel Centeno destacou que a marca desta edição são “a coragem e o esforço coletivo” de todos os envolvidos e que possibilitaram a realização do evento que gera mais de 1 mil postos de trabalho temporários.
A presidente da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Simone Bicca destacou que o espírito de união da cadeia produtiva do doce foi essencial para realizar a festa neste ano. “Estamos aqui unidos trabalhando para colaborar com a reconstrução do nosso estado”, disse.
A prefeita de Pelotas e presidente da Associação dos Municípios da Zona Sul, Paula Mascarenhas (PSDB), fez um discurso na mesma linha. “Tenho um orgulho muito grande de ver o que fomos capazes de construir. A Fenadoce é o momento no qual a gente se reconecta com o que nós somos e queremos ser e obviamente este ano a feira tem um sabor muito especial por tudo o que passamos”, afirmou.

A noite de abertura oficial teve como grande marca o público que encheu os pavilhões do Centro de Eventos, principalmente, a partir do início da noite, o que reforçou a boa expectativa dos organizadores e expositores. “Os primeiros dias estão mostrando um movimento excepcional que nos faz acreditar que pode ser uma das maiores edições que já fizemos”, comentou Centeno.
Para a empresária Luciana Silveira, sócia da Doçaria Monalu, o momento pós-enchente tem gerado um sentimento de mobilização na comunidade de Pelotas em busca da reconstrução da economia, o que favorece o evento. “As pessoas entenderam que é o momento de virar a chave e reconstruir o Rio Grande do Sul e vir para a feira, tanto expor como consumir é uma forma de fazer a economia girar e estamos percebendo isso desde o primeiro dia”, comentou.
Uma prova do poder da Fenadoce em aquecer a economia local pode ser encontrada nos números da própria Monalu que somente para esta edição da festa gerou 50 vagas de trabalho temporárias, abertas há 90 dias. “O fato da Fenadoce gerar uma demanda tão grande de envolvimento e produtos movimenta toda a cadeia do doce e gera várias opções de emprego e renda”, afirmou a empresária que estima um aumento de 10% no volume de vendas com relação ao ano passado.
A feira segue até o dia 4 de agosto.

Texto de Álvaro Guimarães/JTR