O mundo vive dias difíceis diante da pandemia de Covid-19, que já deixou um rastro de mais de 7,5 milhões de infectados e, pelo menos, 420 mil mortos. Por aqui, a doença avança lentamente, mas os protocolos de prevenção e combate ao coronavírus são adotados em todos os setores da economia e da vida da população, desde meados do mês de março. Tradicionalmente, o início de junho é, para os pelotenses, um momento de enaltecer, durante a Feira Nacional do Doce (Fenadoce), a tradição doceira, que conquistou para a cidade, em 2018, o reconhecimento como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Com o adiamento do evento, ocasionado pela pandemia, o Dia da Doceira, comemorado em 6 de junho, durante a Feira e instituído através da Lei 6.582/2018, projeto de autoria do deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB), vereador na época, não poderia passar em branco.
Uma ação conjunta entre a Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Prefeitura e Sebrae possibilitou a exposição e venda dos tradicionais doces à população, em área central, na rua Sete de Setembro, entre as ruas Andrade Neves e General Osório, o mesmo local em que até o final do ano deve estar em funcionamento a Rua do Doce, projeto em licitação pelo Executivo Municipal.
A iniciativa, que deveria durar uma semana, de 8 a 13 de junho, fez tanto sucesso que foi prorrogada até o sábado (20). De acordo com a presidente da Associação das Doceiras, Simone Bica, da Dona Xica Doces de Pelotas, somente no primeiro dia foram vendidos 500 doces. “O espaço e local tiveram a aprovação do público e no segundo dia, contabilizamos 865 doces”, afirma.
No terceiro dia, o volume comercializado chegou a 1.350 unidades. “Nossa meta, por baixo, é comercializar, em média, 1,5 mil doces por dia”, salienta. No local, que funciona das 10h às 16h, os doces de nove associadas são comercializados ao preço unitário de R$ 3,50.
Como o local é improvisado e sem ligação de luz para colocação de balcões refrigerados, o volume é limitado, mas a oferta é variada e contempla quase todas as variedades dos doces tradicionais como o quindim, pastel de santa clara, bombom de morango, brigadeiro, branquinho e todos os tipos de trouxinha. “E com um diferencial, o selo de autenticidade de procedência da indicação geográfica, obtido pela Associação e que comprova que os doces são de Pelotas”, observa Simone.
Fundada em abril de 2008, a Associação possui 17 associados, empresários do setor e tem como objetivo além de fortalecer o segmento, proteger o legado das receitas de doces tradicionais e estimular a inovação e desenvolvimento das empresas. A tradição dos doces no território de Pelotas é garantida através do selo de Indicação de Procedência dos Doces de Pelotas (IP), registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Além da Fenadoce, as doceiras levam os doces e o nome de Pelotas para feiras regionais e estaduais, como a Feira do Artesanato de Rio Grande (Fearg) e a Expointer, em Esteio, onde possuem espaço físico fixo, junto ao Pavilhão de Indústria e Comércio, localizado ao lado do Pavilhão Internacional, no Parque Assis Brasil.
Rua do Doce será referência para turistas e consumidores
O projeto da Prefeitura será licitado hoje (19), quando será conhecido o nome da empresa contratada para a construção do Centro de Comercialização de Produtos Associados ao Turismo, denominado Rua do Doce, que até o final deste ano deve estar em funcionamento. A obra está orçada em R$ 366.532,11.
Parte dos recursos é oriunda de emenda parlamentar indicada pelo deputado federal Afonso Hamm (Progressistas) e o restante de contrapartida da administração municipal. A rubrica do legislador federal prevê a designação de R$ 270 mil à construção de quiosques fixos e padronizados, bem como a instalação de mobiliário urbano. A solicitação foi feita pela prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) e pelo vereador Fabrício Tavares (PSD).
O deputado comemora a concretização do projeto e espera que, em breve, possa estar em Pelotas para inaugurar, ao lado do poder público, esta obra que ele define como “a vitrine do doce e uma marca para Pelotas”. “É um projeto estratégico para alavancar a comercialização dos doces e potencializar a renda das doceiras nos 365 dias do ano”, destaca Hamm, considerando um estímulo à economia e ao turismo.
“Quem ganha é a população, o consumidor e fundamentalmente, a cadeia produtiva do doce, que além de alavancar a atividade econômica, vem mostrar esta vocação local, através das doceiras e fábricas de doces”, finaliza o parlamentar.
Tradição doceira
Pelotas encontra-se no epicentro de uma região doceira que abarca uma multiplicidade de saberes e identidades sob a forma de duas tradições: a de doces finos e a de doces coloniais. O doce desempenha um papel peculiar na composição da sociedade regional, sendo um elemento cultural que amarra a diversidade de grupos étnicos e sociais que a compõe.
Na sua maioria, essas doceiras e doceiros compreendem seu ofício como a continuidade das trajetórias de suas famílias, num templo ampliado. Essa relação está posta, sobretudo, no meio rural, entre os produtores de doces de frutas, que se encontram profundamente ligados à região colonial, como um espaço de vivências, trabalho e afetos. Assim, o registro contempla o espaço de ocorrência das duas tradições doceiras e os sentidos que a elas são atribuídos, por grupos detentores, e se justifica tendo em vista seu valor identitário e a relação demonstrada entre o saber doceiro e o território referido. (Fonte: Prefeitura de Pelotas)