No mês de fevereiro, antes mesmo da folia de Carnaval acabar, as lojas já se preparavam para as vendas da Páscoa, mas é na última semana que os consumidores lotam o comércio e fazem fila em busca de chocolates.
Seja na procura por ovos, bombons ou barras, todos querem garantir um domingo adocicado. E é diante disto que os lojistas se preparam para o aumento intenso no movimento dias antes da data comemorativa.
Alice Espielman, gerente de loja de uma varejista nacional, localizada no centro de Pelotas, esclarece que o movimento se intensificou desde a última semana de março. “A gente está fazendo uma venda bem grande em chocolate. Nis ovos de Páscoa não está no mesmo nível, mas o restante de chocolate, caixa de bombom, a venda está muito boa, muito boa mesmo, superando as nossas expectativas”, diz. Ela ainda ressalta que o período causava preocupação, mas o resultado está surpreendendo. “Esperamos que essa semana, em poucos dias, já vá acabar tudo, mas a gente espera que melhore um pouquinho a venda de ovos, que ficou pra trás esse ano”, pontua.
O baixo índice nas vendas de itens como ovos não é por acaso. Segundo pesquisa de preços realizada pelo Procon Pelotas em seis supermercados da cidade na segunda quinzena de março, os itens de Páscoa tiveram aumento de 20,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. No caso dos ovos, o produto entre 120 gramas e 500 gramas pode ser encontrado por preços entre R$ 29 a R$ 109,31, tendo um preço médio de R$ 55,20. Já as caixas de bombons são encontradas por valores entre R$ 8,80 e R$ 14,99, com média de R$ 11,56. As caixas da marca Bis apresentaram uma variação de R$ 6,78 a R$ 5,39, com média de R$ 6,18. Os valores de cada produto podem variar de acordo com a marca.
Seguindo um precedente visto em todo o Brasil, os pelotenses têm deixado as compras da época para a última hora, fato que é comprovado pela baixa procura por ovos no início da distribuição. “Antes vendeu pouquíssima coisa. A gente já começa a montar lá final de fevereiro, início de março, mas o pessoal geralmente deixa pra última hora. Ainda surpreendeu que começaram uma semana antes, mas sempre acaba pra última hora, sempre tem alguém ali nos últimos minutos”, comenta Alice.
Sócia-gerente de uma franquia especializada em chocolates, Ângela Ferreira, também reforça a percepção e aponta aumento nas vendas especialmente nestes dias que antecedem a Páscoa.
“Sempre na última semana, historicamente, aumenta o movimento. Também tem uma outra questão que influencia, que é a época do mês, então como esse ano a Páscoa ficou bem no início do mês, também isso influencia, o recebimento, o pagamento de salário da população. Então, realmente esse ano já tivemos vendas, mas as maiores se acumulam pra semana antes da Páscoa”, afirma. E a procura é tanta que alguns produtos chegaram a esgotar em toda a rede, principalmente os da linha infantil. Conforme ela, um dos itens mais procurados nas unidades de todo o país foi o ovo especial acompanhado de uma pelúcia dos Ursinhos Carinhosos, desenho que marcou a década de 80. O produto já não é visto nas lojas desde a última semana.
Em outra rede especializada em chocolates, a tônica é semelhante, fazendo com que quem organiza as vendas nem se preocupe com um possível movimento abaixo do esperado semanas antes.
“O movimento pega mesmo, pra valer, é esta semana agora, do [dia] três até o sábado de Páscoa. O pessoal acaba deixando pra última hora, a gente até já não se angustia mais porque já conhece. Claro que o movimento já é um pouco diferente, algumas pessoas já estão se antecipando, fazendo algumas compras, mas via de regra é isso”, aponta Andréa Bicca, proprietária da loja no Centro da cidade. A responsável esclarece que o estabelecimento começa a se programar com oito meses de antecedência, aumentando os preparativos no fim do ano. “Acabou o Natal a gente já tava pensando na Páscoa, porque é rápido”, acrescenta.
Para movimentar as vendas, a unidade também aposta em outras plataformas de venda, pensando no público que não pode se dirigir ao local ou apenas prefere receber seus chocolates em casa.
Em geral, a expectativa neste ano com relação à época tem sido positiva e ganha ainda mais importância diante do cenário atual. “A Páscoa é a primeira data importante no ano para o comércio e impacta também na geração de novas vagas de emprego. Acreditamos que será um ano positivo e que seguirá refletindo a recuperação pós-pandemia, aquecendo principalmente as empresas locais”, destaca o conselheiro gestor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Pelotas, Daniel Centeno.
Alternativas
O movimento intenso também tem sido visto em lojas que fornecem itens para produção caseira de ovos e outros doces consumidos nesta época. Em um estabelecimento que comercializa, entre diversos produtos, formas para chocolate e a própria matéria-prima para derreter, a procura tem sido bastante diversificada.
“Sai bastante forma, bastante chocolate pra fazer, então a procura é bem grande. Mesmo com o movimento ainda meio fraco tem saído bastante. As pessoas procuram bem antes, pra ser organizar, conseguir fazer tudo certinho, mas a venda está boa”, diz Tamires Lopes, atendente de uma loja que trabalha com doces e artigos para festas.
Diferentemente dos itens prontos, os produtos para customização caseira são procurados com certa antecedência, principalmente por quem quer empreender. “Aqui na loja mesmo, as caixinhas pra colocar ovo, cestinhas, saem quase um mês antes, e aí quando chega na época da Páscoa mesmo já não tem mais. Por exemplo, agora uma senhora esteve aqui e procurou uma caixa pra colocar ovo, que é mais enfeitada pra criança, que dá pra fazer os recheios, e realmente veio, mas saiu todas, faz mais de 15 dias que já terminou, e veio bastante quantidade”, explica.
A exemplo de quem busca empreender através do chocolate e garantir sua renda, a estudante de Enfermagem Jordana Heres da Costa, de 21 anos, e sua irmã Adriana, de 33 anos, que cursa Design de Interiores, criaram a página Doces de Guria, que trabalha no ramo desde 2020.
“A Doces de Guria começou a partir da necessidade de uma renda extra, já que eu comecei a faculdade em tempo integral e precisei deixar o meu trabalho para me dedicar nos estudos. Diante disso, resolvi unir a ideia de um negócio próprio, que eu tinha junto com a minha irmã, com algo que as duas gostam muito: doces”, explica Jordana.
Apesar de trabalharem com produtos ao longo de todo o ano, os itens feitos nesta época são o carro-chefe do negócio, tendo inclusive inspirado o início da produção. “Em março de 2020, um pouco antes da pandemia chegar, nós criamos a nossa página no Instagram e começamos a anunciar nossos produtos para Páscoa daquele ano. Com a chegada da pandemia, muitas pessoas deram preferência pra consumir produtos artesanais e assim nós conquistamos um grande público. Desde então, usamos o Instagram para divulgar o nosso trabalho e tem sido a minha principal fonte de renda até o momento”, acrescenta.
Hoje é Jordana que está à frente da maior parte da produção, e ela festeja o movimento. “As vendas estão ótimas! Nossa agenda está praticamente lotada, com entregas a partir de amanhã [terça-feira (4)] e que vão até o domingo de Páscoa. Grande parte dos pedidos foram feitos da semana passada para cá”, comemora.
Os preparativos, segundo a estudante, também tiveram início cedo, assim como ocorreu no comércio em geral. “A divulgação nas redes sociais começou no início de fevereiro, elaborando cardápio e menu de fotos. Na semana passada iniciamos a montagem das embalagens e no final de semana já realizamos as compras dos insumos. A produção dos produtos em si começou hoje [segunda-feira (3)]”, finaliza.