Em 2019, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um relatório da pesquisa realizada com cerca de 17 mil pessoas com idades entre 12 e 65 anos, objetivando estimar e avaliar os parâmetros epidemiológicos do uso de drogas no Brasil. O estudo projetou que 9,9% da população já tenha consumido drogas ilícitas em algum momento da vida e a incidência percebida entre mulheres é de 5,2%.
Pensando nas particularidades e questões femininas, a Clínica Terapêutica Lótus nasceu, há três meses, da vontade de Milena Cunha, de 21 anos, em construir um lugar de superação e acolhimento para mulheres dependentes de drogas ilícitas. Apesar de jovem, a experiência da estudante de psicologia, que cresceu acompanhando o trabalho dos pais em clínicas terapêuticas, a fez observar a falta de acolhimento e sensação de pertencimento das mulheres em espaços de reabilitação majoritariamente masculinos.
Para a proprietária, a importância do serviço dedicado às mulheres e o fato de a equipe ser 90% feminina é importante para que elas se sintam à vontade e, de fato, acolhidas. Segundo ela, a iniciativa é pioneira na região sul do Estado. “Sempre me preocupei em não ter um lugar especializado para mulheres e na diferenciação na forma de tratamento em clínicas mistas”, explica.
Na Lótus, as pacientes contam com acompanhamento psicoterapêutico e psiquiátrico desde as primeiras horas. “A gente usa a abordagem cognitiva comportamental, que visa à mudança de comportamento e, também, sobre como elas adquiriram certo comportamento. A partir disso, trabalhamos sobre como elas podem mudar, para elas passarem pela reinserção” explica Daniela Corrêa, psicóloga da clínica.
No total, o tratamento dura nove meses e é dividido em três fases, sendo a primeira a de adaptação às normas da clínica e desintoxicação; a segunda de conscientização e estudos sobre a dependência e a terceira dedicada à reinserção para a vida fora da clínica. As pacientes também têm direito a visitas mensais dos familiares e, a partir do sexto mês, de finais de semana em casa. Segundo Milena, os módulos são inspirados na metodologia da cidade de Minnesota, localizada ao norte dos Estados Unidos, que é modelo mundial em tratamento de dependentes químicos.
Além do acompanhamento médico, as internas possuem um cronograma diário bem extenso, incluindo tratamentos estéticos aos finais de semana. Atividades como zumba, pilates, além de acesso a academia, sala de leitura e de televisão, entre outros, fazem parte da rotina. A clinica está localizada na avenida Fernando Osório, nº 7801, e as internações acontecem de forma voluntária e involuntária. Neste último caso, é necessário que o responsável apresente uma ordem judicial.