
No futebol, o clássico é sempre um divisor de águas no qual o resultado é fundamental para quem está no jogo. Quem vence, apaga várias situações negativas do seu cartel, no estilo: “o passado é apenas história, o importante é que vencemos o clássico”. Ou seja, o adversário perdedor que junte os seus cacos. E que cacos! Perder um clássico é sempre um drama, independentemente do momento vivido pelo derrotado. No contexto futebolístico, a máxima é a mesma de outros segmentos: a casa cai após a derrota. Mas a vida futebolística segue.
A história Bra-Pel em Pelotas é das antigas, iniciada em 1913, com uma sonora goleada do Esporte Clube Pelotas (ECP) sobre o coirmão Grêmio Esportivo Brasil (GEB): 5 a 0. No centenário período de disputas entre os dois clubes da Princesa do Sul, há momentos marcantes registrados nos anais da história da dupla protagonista do maior clássico do interior do Rio Grande do Sul. Um dos maiores da região sul do Brasil. Ao longo de mais de 100 anos, o Bra-Pel apresenta curiosidades únicas, como os jejuns que acompanharam xavantes e áureo-cerúleos por longos períodos: os rubro-negros jejuaram de vitórias sobre o rival por cerca de 10 anos, a partir de 1982. O tabu foi quebrado em setembro de 1991, com vitória do Brasil por 1 a 0, gol de Lambari. O Lobo também protagonizou um período de uma década sem vitórias sobre o Xavante: de 2003 até 2013. Entre 1998 e 2013, os áureo-cerúleos não souberam o que era vencer um clássico na Boca do Lobo, ou seja, cerca de 15 anos.
A propósito, dois personagens são relevantes na história do clássico: Ademir Alcântara no lado do Pelotas, nos anos de 1980, e Gilson Cabeção, pelo Brasil, nos anos de 1990. São os chamados “matadores” nos confrontos. Em 1984, Alcantara foi o homem áureo-cerúleo dos clássicos. Nunca perdeu um só Bra-Pel, com três gols decisivos sobre o rival. Em 1992, Cabeção também chegou às redes do Lobo por quatro vezes. Em 1995, fez mais um no rival.
No total, até o momento, foram disputados 366 jogos entre Brasil e Pelotas, com 128 vitórias rubro-negras e 524 gols marcados contra 113 triunfos áureo-cerúleos, com 506 gols do Lobo sobre o arquirrival. Ou seja, muita bola já rolou nessa história, com muitas comemorações e, também, muitas decepções de ambos os lados e suas cores.
O último dos 366 clássicos foi disputado sem público, em abril de 2021, por conta da pandemia da Covid-19 e acabou em 0 a 0, no Bento Freitas. Os dois clubes lutavam contra o rebaixamento à Segundona Gaúcha. Depois do confronto, o Brasil seguiu melhor que o Pelotas na disputa. O Lobo acabou sendo rebaixado para só voltar à Primeira Divisão, após a disputa da Divisão de Acesso de 2024 como vice-campeão.

Neste sábado (8), xavantes e áureocerúleos se encontrarão na Boca do Lobo para o clássico de número 367 – o segundo da história com torcida mista. A partida está marcada para as 16h30. Aproximadamente 400 lugares serão disponibilizados para torcedores de Brasil e Pelotas acompanharem a partida juntos no lado esquerdo da arquibancada da rua Padre Anchieta.
A saga das cornetas de lobos sobre xavantes e vice-versa, ao longo da história do clássico, vai continuar sendo escrita no Gauchão deste ano, pré e pós confronto 367. Assim como em outros derbys (clássicos locais) no mundo do futebol, o Bra-Pel carrega características diferentes proporcionadas por personagens que enfeitam a história esportiva da Princesa do Sul por suas marcas dentro dos gramados da Baixada e da Boca do Lobo e, também, fora deles. Ari Amaro Pires, o Bedeuzinho, por exemplo, jogou muito com o uniforme do Pelotas e alegrou a torcida que o conheceu nas ruas centrais de Pelotas dentro de seus surrados ternos e inspirado na sua voz cansada pelo tempo de já ex-jogador. Na linha dos personagens marcantes à representatividade dos clubes pelotenses está uma figura xavante ímpar por suas performances do lado de fora dos gramados: Argemiro Severo Gonçalves, o Marcola, um ícone da torcida rubro-negra, um cidadão que a cidade conheceu como a representação verdadeira do Bento Freitas em seus cambaleantes desfiles e embriagados gritos de amor pelo seu clube.

Bedeuzinho, que vestiu várias camisetas durante sua carreira, faleceu em 2002, aos 67 anos; Marcola morreu em 2012, aos 72 anos. Calaram-se duas embriagadas vozes da história da dupla Bra-Pel e do contexto futebolístico de Pelotas.
