No domingo (7), Canguçu sediou a 10ª Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Alternativas, na Praça Central. Com o tema “Semeando resistência, colhendo alimentos e compartilhando saberes”, o evento teve por objetivo contribuir na manutenção das sementes crioulas, aquelas que estão nas mãos das famílias ou grupos de famílias detentoras e que podem ser reproduzidas por não ter nenhum impedimento genético ou legal.
São sementes de domínio popular e as famílias ou grupos que mantém essas genéticas são denominados Guardiões. Esse evento, que começou em 2001, com algumas interrupções, ocorre sempre em Canguçu. Na oportunidade, são trocadas ou vendidas sementes de diversas variedades de milhos, feijões, abóboras, hortaliças, leguminosas para cobertura de solo dentre outros tipos, com o objetivo de manutenção das cultivares crioulas.
A reprodução de sementes pelas próprias famílias de agricultores garante autonomia nos plantios, reduzindo o custo de compra das sementes, além de geralmente se tratarem de sementes mais adaptadas à região, por estarem sendo plantadas há muitos anos.
Cada semente tem a sua história, o seu desenvolvimento e trajetória, tendo sido selecionada intuitivamente por muitos anos através de gerações. Além das sementes, houve também a venda de produtos orgânicos e artesanatos rurais e da economia solidária. Ocorreu, ainda, a 3ª Feira Municipal do Mel.
Durante a manhã, no Cine Teatro Municipal, aconteceu a reunião do Fórum da Agricultura Familiar, comemorando os seus 25 anos de existência. Após, um seminário com palestras de guardiões de sementes, professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e pesquisadores da Embrapa, que trataram de questões que envolvem a manutenção da genética das sementes crioulas. No período da tarde, houve uma rodada de palestras sobre apicultura.
O Grupo OCS Renascer, de Morro Redondo, com o apoio do escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, se fez presente com três espaços, um de venda de produtos alimentares orgânicos, um com sementes crioulas produzidas pelos membros do grupo e um com artesanato, esse partilhado com o Grupo de Mulheres Quilombolas Pérolas Negras.
Todos foram unânimes em considerar essa participação importante: uma pelo fato de ter sido a primeira participação do Grupo em um evento e outra pela possibilidade de troca de conhecimentos com todos os que lá estiveram.
“Para nós foi muito gratificante ter saído do Morro Redondo e estar aqui vendo o quanto o nosso trabalho está sendo valorizado e como é importante o que estamos fazendo” revela uma integrante do grupo. “Recebemos o reconhecimento de muitos agricultores ecológicos que há anos se dedicam nessa produção e isso nos deixa muito orgulhosos e mais confiantes de que estamos no caminho certo”, comemora outra.
Já o Grupo de Mulheres Quilombolas Pérolas Negras teve seu artesanato muito bem aceito pelos que participaram da Feira, vendendo e demonstrando que essa cultura também é forte em Morro Redondo.
“Para nós também é muito gratificante ver que as pessoas estão gostando e comprando o que estamos produzindo. Isso só nos fortalece e nos encoraja para seguir adiante”, disse uma integrante do grupo.
À tarde, com o apoio da Prefeitura Municipal, foi oportunizada a participação de três apicultores do Grupo de Apicultores do Morro Redondo, organizado pelo escritório municipal da Emater, ligado à Associação de Desenvolvimento Comunitário de Produtores Rurais de Morro Redondo, que puderam conferir as palestras sobre Empreendedorismo e o Cenário da Apicultura no Estado.
A Feira teve centenas de visitantes durante o período das 8h até as 19h e pela parte da tarde houve apresentações de grupos musicais, animando ainda mais o cenário de retomada dos eventos presenciais e embelezando a cidade de Canguçu e a Praça Central.