De uma lista elaborada no início do ano em conjunto com parceiros como a Secretaria de Desenvolvimento Rural, a Associação de Desenvolvimento Comunitário de Produtores Rurais de Morro Redondo e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, a equipe do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Morro Redondo definiu o fortalecimento e o desenvolvimento das agroindústrias no município como uma das principais prioridades para 2023.
Justificativas para isso não faltam. A principal é que praticamente todas estão inseridas no roteiro turístico Morro de Amores, setor em que Morro Redondo se destaca em âmbito regional. “O produto colonial também é um apelo turístico”, explica a médica veterinária Adriane Lobo, extensionista do escritório da Emater no município.
Em 2022, destaca o chefe do Escritório, agrônomo Evaldo Voss, foram atendidos 510 produtores. Esse trabalho segue em 2023 em áreas de produção de milho, apicultura, correção de solos, pomares de pêssego, Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) Quilombolas, produção leiteira, olericultura, segurança e soberania alimentar. Além de Voss e Adriane, a equipe se completa com o técnico agropecuário Patric Medeiros.
A Emater trabalha com suporte do Programa Estadual de Agroindústria Familiar. Adriane atribui o avanço alcançado pela organização do município em seu sistema de inspeção de produtos de origem animal – o qual exige legislação mais complexa.
A medida faz com que parcerias com o estado permitam vender a produção agroindustrial em outros municípios e, com o governo federal, no restante do país e até para o exterior, ampliando mercados. Três unidades de Morro Redondo (Doces João de Barro, Embutidos Novak e Laticínios Bem me Quer), por exemplo, participaram da Feira do Produtor no Cassino. Esta última, na Capela da Buena, merece elogios. “Uma família exemplar, inclusive com sucessão [familiar], com potencial muito grande”, reconhece Voss. Mas não é a única digna de registro. Na Granja da Figueira, no Santo Amor, são produzidos ovos com galinhas livres de gaiolas e está indo bem. Com 950 aves alojadas, a produção não tem sido suficiente para atender a demanda.
Além das citadas, Morro Redondo conta ainda com a Vinícola Nardello e os Panificados Dona Zilda, ambas no Rincão da Caneleira. A próxima a ser aberta deve ser na área da produção de mel, apostam os técnicos da Emater. A atividade é tradicional no Morro Redondo e conta com boa avaliação de pesquisadores da Embrapa em termos de sais minerais, mata nativa e qualidade do solo.
Correção de solos
O programa começou despretensiosamente há 15 anos – na época com parcos R$ 33 mil para investir em calcário. Hoje, com financiamento da prefeitura, 60 famílias vão ser beneficiadas imediatamente. Recursos via Consulta Popular, turbinados com emenda parlamentar, permitirão ampliar o programa para mais de 100.
“O calcário é um motivador, dá resposta rápida e gera efeito em cascata, o produtor usa semente melhor, adubação melhor, planta de cobertura, enfim, recorre a técnicas agrícolas que garantem qualidade e conservação do solo”, esclarece o chefe do escritório.
Por meio desse programa a produção de grãos alavancou no município, principalmente do milho. A produtividade saltou de 40 sacas por hectare em 2004 para 150 em algumas propriedades em 2022. Paralelamente, se começou a trabalhar a questão de secagem e armazenamento. Hoje, são sete unidades secadoras. Uma delas será exibida no Dia do Campo do dia 24 deste mês na colônia São Domingos, com capacidade para mil sacos de milho, em estrutura financiada pelo Sicredi e tecnologia da Emater.
O programa de correção de solos se reveste de importância por atender também ao apelo turístico do Morro Redondo, que tem na zona rural com mata nativa, arroios e cachoeiras um dos seus principais cartões-postais. “É uma conversa que se faz muito com o pessoal do turismo, as áreas naturais. Se se negligencia e perde essa condição, o turismo com certeza será afetado”, alerta Adriane.
Estiagem
Os três anos seguidos de falta de chuva também castigaram o Morro Redondo. Grãos e olerícolas foram as culturas mais atingidas. A soja, cuja produtividade era de 60 sacas por hectare, neste ano vai fechar em 30. Uma das saídas é a construção de açudes (12), via programas como o Irriga Mais, do governo do Estado. Provocado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, agora o município está criando um programa próprio de reservação de água para atender 45 famílias por ano.
Mas o maior desafio é o abastecimento das famílias da área rural, que sofrem com poucas opções. Hoje a prefeitura atende 140. É preciso expandir redes e construir novos poços artesianos. No caso da Emater, o foco para reverter ou amenizar o problema é a preservação ambiental. “O melhor armazém de água é o solo. Na medida que a gente diminuiu a quantidade de lavração, gradagem e exposição do solo ao sol, que é um problema grave, o manejo de solos é a ferramenta que a gente tem para diminuir o impacto das estiagens, que vão continuar”, afirma Voss.
Pêssego
O trabalho é forte no sentido de recuperar as plantas de cobertura, manejo que vinha sendo abandonado em razão do custo. Esta realidade vem sendo alterada com ajuda de programas de correções de solos. Com aplicação de calcário, se conseguiu melhorias nas áreas internas dos pomares e a produtividade, que era de oito mil quilos, passou para 15 mil por hectare.
Entraves
Apesar dos resultados alcançados, das parcerias e da relação estreita com as famílias atendidas, os técnicos do escritório da Emater/RS-Ascar reconhecem que há dificuldades. A maior delas: ter gente pra trabalhar. “Mais importante que assistência técnica, é insistência técnica. Precisa de gente com frequência, na piscicultura, na produção de grãos, na apicultura, em tudo”, afirma Voss. Ele prossegue: “Esta não é bandeira única da Emater, precisa muita gente pra trabalhar porque a potencialidade do Morro Redondo e dos nossos municípios é muito grande”, disse.