
Nesses 35 anos de emancipação de Morro Redondo, celebrados neste 12 de maio, dos 60 de vida, a serem completados ainda este ano pelo prefeito Rui Brizolara (União), mais da metade foram dedicados à vida pública do município. Como prefeito, vice, vereador e secretário de Obras serão 32 anos ao todo no ano que vem. Só esteve afastado da administração nos quatro anos que antecederam sua terceira vitória eleitoral como chefe do Executivo, ao lado da vice Angelica Boettge dos Santos (PSDB), ocasião em que recebeu 2.345 votos (59,04%) dos 3.972 eleitores que foram às urnas em 15 de novembro de 2020.
Tem dúvidas ainda se coloca o nome à disposição para concorrer a um sexto mandato nas eleições do ano que vem. Tem outras preocupações no momento. A começar pela festa dos 35 anos de aniversário do município, que até maio de 1988 era 8º distrito de Pelotas. A luta para conquistar a emancipação havia culminado no mês anterior, com a realização do plebiscito em que prevaleceu a vitória do Sim – resultado que, se um dia chegou a provocar debate entre a população, hoje sequer deve ser lembrado pela ampla maioria dos mais de seis mil habitantes, segundo o Censo 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Temos muito a comemorar. Nada contra Pelotas, mas continuaríamos muito dependentes. Hoje praticamente não precisamos sair do Morro Redondo, se ainda fôssemos um distrito muito do que já foi feito e conquistado nesses 35 anos provavelmente não teria saído do papel”, defende o prefeito, atribuindo alguns desses feitos ao processo de emancipação. Dentre eles, as obras do calçamento que hoje cobre praticamente 100% da área urbana. Só na atual administração foram investidos em pavimentação R$ 1,224 milhão – R$ 235 mil em recursos próprios. Com esse montante, a prefeitura já pavimentou 12.620 metros em longo trecho da avenida dos Pinhais, no acesso ao hospital Dr. Ernesto Maurício Arndt e na avenida Jacarandá.
Outra demanda é referente ao saneamento. “Aqui é tudo canalizado, nada a céu aberto, não se tem criança brincando em esgoto, o que também é questão de saúde pública”, orgulha-se.

Por isso a festa. “A gente quer que a população esteja presente e possa participar”, afirma Brizolara. Razões para isso não faltam. Primeiro porque ninguém vai pagar nada para entrar no Centro de Eventos da avenida Jacarandá. Segundo, a chuva passou, asseguram os serviços de meteorologia a que o Tradição Regional tem acesso. A previsão é de tempo firme e céu aberto na Zona Sul no fim de semana, com temperaturas típicas da estação.
E, para além do tempo e da economia, o visitante, de Morro Redondo ou de fora, terá direito a uma programação repleta, com feira da agricultura familiar organizada pelo Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, exposições diversas, feira de artesanato, brinquedos infláveis gratuitos e Museu Histórico aberto ao público. Fora a extensa agenda de shows e afins, que tem início na tarde desta sexta-feira (12) com distribuição de bolo e apresentação da banda marcial Imigração a partir das 15h. Só termina domingo, com o show da banda Hawai a partir das 20h. Não é pouco.

Mais de dez mil pessoas são aguardadas nos três dias. Nada estranho a um município que cada vez mais se acostuma a receber uma demanda crescente de turistas para curtir o roteiro Morro de Amores, que hoje soma 37 empreendimentos. Aliás, essa chave começou a virar há nove anos, no segundo ano do quarto mandato de Brizolara como prefeito. Ele conta, resumidamente, a sua versão: “O pessoal da Emater, em especial o Egon [Gillmeister, ex-extensionista do Escritório Municipal do Morro Redondo], sempre insistiu que tínhamos potencial turístico, pela nossa natureza, enfim. Mas a grande alavancada foi quando nos cruzamos com o Sebrae”.
O convênio com o órgão previa a realização de consultorias de capacitação – no caso, custeadas pelo interessado em empreender no setor. As dúvidas naturais quanto ao investimento foram sanadas pela própria prefeitura, que assumiu o encargo. “Acreditamos na ideia”, justifica Brizolara. O verbo conjugado na primeira pessoa do plural denota o conceito da compreensão da atividade no município. Não só o governo municipal depositou sua crença no turismo, mas também os empreendedores, que entenderam e bancaram as propostas trabalhadas nos encontros.
Essa relação (prefeitura-Sebrae-empreendedores) se revelou bem-sucedida em um grau acima das expectativas. Com o avanço da formação, demonstrado na prática, com abertura de empreendimentos e presença crescente de público, Morro Redondo se consolida como destino e hoje é uma referência no setor na Zona Sul do estado. Mas essa história está longe de um ponto final (confira matéria nesta edição com o diretor de Turismo do Município, Pedro Vieira Bastos). O convênio permanece com consultorias de capacitação, que hoje conta também com apoio do Sicredi. Além do serviço de consultoria, o Sebrae leva a experiência em execução no Morro Redondo a todas as feiras, festivais e demais eventos como case de sucesso. Deu certo, ou melhor, está dando.
Coincidência ou não o prefeito diz que atualmente vários empreendedores dispostos a investir em Morro Redondo são de fora do município. “São pessoas que enxergam este potencial, a cidade cada vez mais consolida a imagem de um espaço acolhedor ao turismo”, orgulha-se. Esse sentimento, no entanto, não tem efeito paralisante. Em Morro Redondo é pacífico que novos desafios se impõem e é preciso se preparar para superá-los. Investimentos em infraestrutura são necessários para transformar a cidade em destino turístico. Não será fácil. Nem impossível.

A administração já aprovou junto ao Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (DAER) a construção de um pórtico na chamada faixinha, a 300 metros do entroncamento com a BR 392. Na área central várias outras iniciativas estão projetadas para melhor acolher os visitantes. “Gramado e Canela não são o que são da noite para o dia, nós temos uma topografia, um relevo, um clima, propícios para desenvolver o turismo, vamos seguir fazendo, trabalhando e acreditando, é isso que fizemos até hoje e os resultados nos animam”, destaca o prefeito.

Meio ambiente
O turismo desperta Morro Redondo também para outras boas causas. Uma delas é a preservação ambiental. Segundo o prefeito, no município, a suposta disputa colocada entre preservação e desenvolvimento econômico não é realidade. Afinal, mata nativa característica de Mata Atlântica (vale lembrar que Morro Redondo, assim como em toda Serra dos Tapes, ainda guarda o que resta do bioma na região), piscinas naturais e cachoeiras são um dos principais apelos turísticos na localidade.

Entre os produtores, Brizolara vê crescer a consciência e a sensibilidade de manutenção da mata ciliar. “Em reunião com o Conselho [Municipal de Desenvolvimento Rural] coloquei a importância disso. O produtor tem que saber que é uma área a ser preservada para futuras gerações”, disse. O alerta é reforçado também pela equipe da Emater diante do déficit hídrico provocado pelas sucessivas secas que castigam a região de modo intenso e recorrente há no mínimo duas décadas, “melhor armazenamento de água é o solo”, recomenda Evaldo Voss.
Mas, novamente, o prefeito com a palavra. “Nas propriedades que mantêm essa proteção a água demora a evaporar, permanece gelada por mais tempo, é uma série de benefícios comprovados, seja cientificamente, seja no dia a dia, é preciso ter consciência de que é importante para nós mesmos, para o próprio produtor, não porque uma lei impõe”, aponta.
Com a seca, a prefeitura hoje precisa fornecer água em caminhão-pipa para 140 pessoas, problema que incomoda Brizolara. A cada ano essa demanda aumenta, segundo ele.

Portanto, preservar o que está conservado chega a ser um dever. “Nossos mananciais têm que ser preservados, temos que produzir essa cultura, não vai ser um fiscal da prefeitura que vai ensinar isso”, defende. O prefeito compara a situação com a do cinto de segurança. Conforme ele, cada vez mais se usa o acessório porque já se internalizou a ideia de que adotá-lo representa proteção – não exatamente multa. “Se não fizer a reservação adequada da água, vai faltar no arroio, é muito simples”, diz ele, que salienta a contribuição do turismo nesta luta.
Paralelamente, reconhece o papel da educação no processo, como por exemplo na questão do lixo. Brizolara estima que hoje mais de um quinto dos resíduos produzidos em Morro Redondo é separado. Lembra que no primeiro ano da sua primeira gestão, em 1997, a prefeitura ergueu um galpão para esta finalidade no Passo do Valdez. Atualmente, um número pequeno de famílias vive da reciclagem em sistema cooperativado. Para ele, a prática da separação já ganhou status de cultura entre os morro-redondenses e cita o próprio exemplo doméstico. “Eu não consigo mais, nem eu nem ninguém na minha família, misturar resíduo orgânico com seco”, conta.
A coleta, hoje, de lixo orgânico e seco, ocorre em dias alternados, segundo o prefeito. Mas essa é só uma parte do trabalho. Nas escolas, a campanha entre crianças e adolescentes é direta, um público, conforme Brizolara, capaz de influenciar a mudança de hábito nas famílias e assim gerar um efeito multiplicador.
Educação
A rede municipal de ensino conta com cinco escolas – incluída a creche Darci Marques Adam, para crianças de zero a três anos de idade em turno integral.
Além dela Morro Redondo dispõe de dois educandários com pré-escola e séries iniciais (Barão do Rio Branco e Professora Maria Luiza Oliveira) e outros dois estabelecimentos municipais de ensino com fundamental completo (até o 9º ano), Alberto Cunha e José Pinto Martins.

foi ampliada, passando a oferecer
ensino em turno integral. (Foto: Diones Forlan/JTR)
Neste ano aporte de recursos previsto para obras de ampliação e melhorias nas unidades totalizam R$ 600 mil. Só na creche Darci Marques Adam, para fins de adaptação da oferta de turno integral, foram investidos R$ 180 mil. Na escola Alberto Cunha, o investimento foi de R$ 160 mil, entre melhorias na quadra de esportes e pintura do educandário. Ao todo, o município conta com 700 alunos e 150 profissionais. Os professores recebem vencimentos correspondentes ao piso nacional do Magistério (R$ 4.420,55).
A Secretaria de Educação, Cultura e Desporto também desenvolve projetos no turno inverso com aulas de reforço escolar, de modalidades esportivas, com instrumentos musicais e robótica. Segundo informações da pasta, é promovido atendimento educacional especializado, aquisição de material didático-pedagógico e literário, ações em parceria com institutos de capacitação e qualificação de profissionais e contratação de assistente social. Na área musical, a escola Alberto Cunha oferece o projeto Dó Ré Mi. Já na José Pinto Martins, a banda marcial.
A frota de veículos conta com dez ônibus próprios e seis micro-ônibus terceirizados. Além de cobrir todo o município, faz o deslocamento para Pelotas de estudantes do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e universidades, além de, uma vez por semana, levar alunos da Escola do Sesi para o curso de Educação de Jovens e Adultos nos níveis fundamental e médio graças a um convênio entre a prefeitura e o Sesi.
Em paralelo, a pasta viabiliza curso para lidar com crianças com deficiência. O município enfrenta hoje uma incidência significativa de casos de autismo. De acordo com o prefeito, a demanda chega a ser maior do que consegue atender. Ainda assim, não desanima. Atualmente a prefeitura dispõe de equipe com fonoaudióloga, fisioterapeuta, duas psicólogas (uma profissional para tratamento e outra para emissão de laudo) e terapeuta ocupacional. Esta prevista a contratação de uma neuropediatra.
Saúde
Serviço espinhoso em qualquer ente público, neste ano tem novidade boa em Morro Redondo. A prefeitura se antecipou e já instituiu o pagamento do piso nacional da Enfermagem aos servidores do município. O projeto de lei aprovado no Congresso e sancionado em março deste ano com a destinação de R$ 7,3 bilhões em fundos orçamentários para viabilizar os novos vencimentos, ficaram assim estabelecidos: quatro salários mínimos para enfermeiros; três para técnicos de enfermagem; e dois para auxiliares. Apesar do esforço, Brizolara entende que os novos salários valorizam os profissionais. “Como não são muitos, conseguimos ajustar”, afirma.
A estrutura é composta por três Unidades Básicas de Saúde (UBSs), que funcionam nos turnos da manhã, a partir das 8h, e tarde, até as 17h, com 100% de atenção básica em estratégia da família. São dois postos na zona urbana e um na zona rural. Cada equipe é formada por médico, dois enfermeiros, técnico de enfermagem, dentista e auxiliar.
Há ainda o hospital Dr. Ernesto Maurício Arndt, que atualmente funciona como Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas, todos os dias. A prefeitura arca com os plantões noturnos, nos fins de semana e em feriados. Durante o dia, equipe da unidade atende casos de emergência. Em obras de ampliação, passa por processo para voltar a ser um hospital. Para isso terá o número mínimo de 30 leitos estabelecido pela Vigilância Sanitária.

A frota da Secretaria, com veículos e ambulâncias, está sempre na estrada, rumo a cidades que são referência em serviços de Saúde para o município. O custo deste transporte é alto. Além das vizinhas Pelotas e Canguçu, onde são feitas as cirurgias eletivas, os pacientes são levados a Porto Alegre (os casos mais graves), Rio Grande, Piratini, Pinheiro Machado (consultas de oftalmologia) e Bagé.
“É dinheiro que poderia estar gastando na compra de uma consulta”, reclama o prefeito, que ainda sonha com a retomada do projeto que prevê a construção de um complexo hospitalar regional para atendimento SUS. “Seria a melhor solução, Saúde é um saco sem fundo, por mais que se invista”, lamenta.
Planejamento familiar

sobre a maternidade. (Foto: Diones Forlan/JTR)
A prefeitura também oferece programa de planejamento familiar à população, com promoção de palestras e oferta de implantes contraceptivos. No ano passado, em novembro, foram colocados 36 desses acessórios subcutâneos, de longa duração e reversíveis, pela quarta fase do programa no município, em uma ação que contou com a participação do deputado estadual Thiago Duarte (União). O parlamentar ministrou na ocasião duas palestras sobre o tema em uma UBS e na Câmara de Vereadores.
Área rural
Vários projetos são postos em prática via Secretaria de Desenvolvimento Rural numa bem-vinda parceria que envolve o Escritório Municipal da Emater, Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e produtores. O que prevê a correção de solos, com aplicação de cargas de calcário, entusiasma o prefeito, apesar do custo do frete.
Mas para além desta iniciativa, Brizolara assegura a disposição de resolver a questão de abastecimento de água ao menos fora do período da estiagem. A prefeitura comprou três mil metros de cano para tubulação a ser instalada na Capela da Buena. “A ideia é não ficar carregando mais água, o que hoje fazemos até em dia de chuva, não tem cabimento, nem para a pessoa nem para a prefeitura”, diz.
Além de outros dois já em funcionamento, um novo poço artesiano já foi licitado para a localidade. “Vamos ligar a Capela quase de ponta a ponta”, anuncia Brizolara, que assegura que outros três quilômetros de rede, este na Colônia São Pedro, estão quase prontos. Rede de abastecimento para poços artesianos a serem feitos com R$ 70 mil em recursos disponibilizados pela Secretaria de Obras do governo do Estado também está a caminho. “Já estamos fazendo, não vai ter aqui no Morro Redondo poço artesiano perfurado sem rede”, projeta.
Com R$ 150 mil em recursos próprios, a prefeitura pretende dar início a um programa de microaçude para reservar água. Brizolara diz que o município vai contratar uma retroescavadeira hidráulica. Está em processo de seleção. A prefeitura pagará dez horas de serviço, com contrapartida de três por parte do produtor. “A ideia é fazer a reserva para animais e produção de hortifruti. Teve época que tivemos que carregar água para animais”, conta. O programa visa atender 45 propriedades. Em paralelo, outros 12 serão abertos via governo do Estado.
Mensagem
Ao final, o prefeito ainda deixou uma mensagem aos morro-redondenses. “Desejo saúde a toda comunidade e sucesso às pessoas. Que a gente possa melhorar a vida de cada morro-redondense na área da Saúde e da Educação”.