As consequências de conflitos em terras coloniais portuguesas no continente africano entre 1961 a 1974 foi um dos focos do livro “Fantasmas do império: o combatente na ficção de António Lobo Antunes”, do morro-redondense Leonardo Von Pfeil Rommel.
Publicado recentemente pela Editora Todas as Musas, trata-se de uma análise da representação do combate da Guerra Colonial proveniente das obras do autor português António Lobo Antunes, dentre elas: Memória de elefante (1979); Os cus de Judas (1979); Conhecimento do inferno (1981); Fado Alexandrino (1983) e Até que as pedras se tornem mais leves que a água (2017).
A escolha do tema, segundo o autor, Doutor em Letras, na área de Estudos de Literatura, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se justifica pela bagagem histórica, literária e social que a obra possui e também pelo reflexo que apresenta em relação às consequências que a guerra ocasionou na memória coletiva e na identidade da nação.
Ao ser questionado sobre a seleção do autor como foco do trabalho desenvolvido, Rommel salienta a forma como o escritor relaciona elementos importantes: história, literatura, memória e trauma. “O que me chamou bastante atenção foi esse fato dele usar a literatura, a arte como uma forma de lidar com as dores da vida; uma forma de encontrar uma saída para simbolizar os traumas do passado, para viver melhor com aquilo”, destaca o autor.
Ainda, abordando os efeitos que a guerra gerou na memória e identidade do povo português, o morro-redondense observa que todos os rastros dessa experiência eram vistos como algo a ser deixado para trás e, por esse motivo, muitos dos envolvidos não encontraram espaço para falar sobre os traumas existentes. Nesse contexto, a arte – especificamente a literatura – oportunizou esse diálogo.
Aplicando as consequências decorrentes do período da guerra no cenário atual, o autor afirma que o Brasil possui muito mais semelhanças com Portugal do que imagina. “O nosso país já nasceu de um processo violento, que foi a colonização, e isso se estende até o nosso Brasil contemporâneo. Então, se a gente pensar, essa violência já vem desde a fundação do nosso país: pela colonização, pela dominação, pela escravidão, e a gente não conseguiu romper com esse ciclo até hoje. Então, é mais atual do que nunca, infelizmente”, diz.
Sobre o autor
Natural de Morro Redondo, Rommel é Licenciado em Letras – Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Mestre em Literatura Comparada, pelo Programa de Pós Graduação em Letras, na área de Estudos de Literatura, pela mesma instituição. Atualmente, trabalha como professor na Escola Maria Chika, localizada no bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, lecionando para alunos do 6º e 7º ano.