A estiagem que atinge a região desde o final do ano passado, uma das maiores dos últimos 60 anos, segundo dados do escritório municipal da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Capão do Leão, teve um impacto significativo sobre as culturas de verão na safra 2019/2020, com grandes perdas de produção. As perdas estão próximas dos R$ 30 milhões, estima o extensionista da Emater local, Edenilson de Oliveira. “Tenho ouvido relato de produtores de 60 anos, que dizem nunca terem visto uma seca tão grande como essa. Para se ter uma ideia, tem rio secando no estado e há arroios menores que já secaram”, ressalta.
Segundo ele, o último levantamento da Emater foi realizado no mês de fevereiro, quando o prefeito Mauro Nolasco (PT) assinou, no dia 6, o decreto de estado de emergência no município e já apontavam prejuízos de R$ 22,7 milhões. “Os danos se acumulam e irão levar um tempo para serem recuperados”, diz.
“Um dos principais impactos foi sobre a cultura do milho, que está em conclusão da colheita e, segundo os últimos levantamentos realizados pelos técnicos da Emater, soma perdas superiores a 70%. A estimativa inicial nos 990 hectares cultivados era de colher 3,3 mil quilos por hectare, ou seja, o equivalente a 55 sacos por hectare se transformaram em 15 a 16 sacos por hectare (entre 900 e 960 quilos por hectare). A cultura está com 70% das lavouras colhidas e as perdas podem ser ainda maiores até o final da colheita”, lamenta.
No entanto, na cultura do arroz, que atinge uma área plantada de 6.540 hectares no município, não foram verificados prejuízos, já que a totalidade da área é irrigada, o que favorece a cultura. A previsão é de obter uma produtividade de 9 mil quilos por hectare, segundo o técnico, uma produção superior a 58,8 mil toneladas. Conforme Oliveira, a cultura entra na sua última semana e tem 99% da área colhida.
A soja, a cultura com a maior área no município – 9.150 hectares – também registra queda de produção e com 65% das lavouras colhidas, a quebra estimada é de 45% a 50%. Com uma estimativa inicial de 3 mil quilos por hectare (50 sacos por hectare), na medida em que a colheita avança, a produtividade média fica em 25 sacos por hectare.
Com os reservatórios secos, os animais também sofrem e as perdas acumuladas na pecuária já são estimadas em 500 mil quilos, uma perda de 15 quilos por cabeça, estima o extensionista. “No leite, as perdas na cadeia produtiva estão em 40% e 50%”, salienta.
Além das grandes culturas, as perdas de hortaliças são expressivas nas propriedades, em algumas de 100%. “As pastagens de verão tiveram problemas no plantio e desenvolvimento e hoje a oferta de forragem para o rebanho é baixíssima”, assegura.
Segundo ele, os reflexos da seca vão longe e a recuperação das pastagens e aguadas devem levar alguns meses ainda. Há dificuldade de água para consumo animal e até para consumo humano, que recebe ajuda da prefeitura na distribuição de água no interior através de caminhão-pipa.
Alguns produtores acionaram o seguro, principalmente os de soja, mas há aqueles que plantam com seguros próprios e o que se vê, segundo o técnico, é uma realidade bem triste. “Mesmo que chova nos próximos dias, as culturas de verão estão praticamente concluídas e a recuperação vai ficar para a próxima safra”, diz.
As implantações de pastagens anuais de inverno, principalmente aveia e azevém, estão atrasadas se comparadas a anos normais. “Devido à falta de umidade no solo, os produtores estão segurando à espera de chuvas. Uma chuva nos próximos dias seria muito bem vinda e ajudaria no plantio”, ressalta.