Capão do Leão: Iniciativa visa fornecer acessibilidade por meio da Língua Brasileira de Sinais

Segundo o presidente da Câmara de Capão do Leão, Edimar Borges (PDT), a iniciativa possibilitou promover melhor atendimento à comunidade surda. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por Luana Martini

Uma iniciativa desenvolvida na Câmara de Vereadores de Capão do Leão visa à acessibilidade dentro dos ambientes públicos por meio do conhecimento teórico e prático a respeito da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Assessores, servidores e vereadores foram instruídos por meio de um curso de Libras, com o objetivo de atender as necessidades das pessoas surdas que vão à Casa Legislativa em busca de informações e orientações.

O presidente do Legislativo, Edimar Borges de Barros (PDT), conhecido como Thyzyu, afirmou que muitas pessoas surdas procuram o espaço público com diferentes propósitos, mas nem sempre é possível auxiliá-las, devido à dificuldade no processo de comunicação. “Muitas vezes, as pessoas surdas iam até a Câmara fazer um currículo ou ter uma orientação e a gente não sabia como se comunicar, não sabíamos, não tinha ninguém qualificado, preparado para poder fazer isso”, afirma o vereador.

Curso teve 40 horas, e a participação de assessores, servidores e vereadores. (Foto: Arquivo Pessoal)

Diante desse obstáculo, o órgão legislativo selecionou uma empresa que atuou no processo de ensino da língua e suas particularidades. O curso teve duração de, aproximadamente, um mês, com início no dia 18 de abril e término no dia 23 de maio. No total foram 40 horas, sendo 30 presenciais e 10 de atividades dirigidas de forma assíncrona.

No decorrer do processo de aprendizagem, nas segundas e quartas-feiras, aulas teóricas e práticas fizeram parte da grade curricular. Aspectos ligados à gramática da Língua Brasileira de Sinais, a comunidade surda e sua cultura, a acessibilidade, além de sinais básicos para a comunicação foram desenvolvidos com os alunos. Antonielle Cantarelli Martins, fundadora do Instituto Ladd, escolhido para ministrar o curso, atualmente afastada, destacou que o material utilizado se baseou no âmbito público.

“A gente tem uma apostila impressa, específica para sinais que são do contexto do atendimento ao público. A gente tinha aulas duas vezes por semana, que é uma quantidade significativa. O curso era realmente específico para o atendimento ao público, lá no contexto da Câmara de Vereadores”, destacou.

Como resultado, os alunos adquiriram um grau de conhecimento que, segundo Thyzyu, possibilitou a prática da acessibilidade. “A gente conseguiu alcançar aquilo que a gente buscava, que era conseguir ter o mínimo de acessibilidade para a comunidade surda”, afirmou o vereador, que também expressou satisfação ao presenciar, no término do curso, ouvintes e surdos conversando utilizando apenas a Língua Brasileira de Sinais.

Instituto Ladd
O Ladd reforça a importância da Libras e sua utilização no processo de comunicação entre surdos e ouvintes. Tendo como principal objetivo disseminar a Língua, o instituto atua de forma significativa, viabilizando acessibilidade para a comunidade surda.

“É um dos objetivos mais importantes do instituto disseminar a Libras. Por meio da disseminação a gente provê acessibilidade e o bem-estar geral das pessoas surdas”, afirma Antonielle, que ainda exemplifica essa questão citando situações do dia a dia das pessoas surdas, que evidenciam a falta de acessibilidade, como o consumo errôneo de uma medicação ou a dificuldade de descrever sintomas.

Além disso, o local trabalha com saúde mental e bem-estar do surdo, tema que, segundo a fundadora, está intimamente ligado às barreiras ocasionadas pela falta de acessibilidade: “Quanto mais barreiras linguísticas uma pessoa surda encontra, maior é a carga psíquica que ela tem, maior é o sofrimento psíquico”, disse.

Importância do projeto para o público ouvinte
A aplicação de iniciativas como essa ocasiona maior divulgação da Libras, da comunidade surda e sua cultura e da importância de todos esses elementos do ponto de vista da sociedade, que é composta também pelo público ouvinte. Quanto mais conhecimento a respeito da língua é propagado, maior a construção de uma cultura de acessibilidade. Também, a partir da compreensão da língua, as chances de se produzir e reproduzir mitos a respeito da comunidade surda é menor.

Disseminação da Libras possibilita maior acessibilidade e inclusão. (Foto: Luana Martini/JTR)

Conforme Antonielle, pensamentos e posicionamentos errôneos sobre o público surdo, sua língua e particularidades podem ocasionar efeitos negativos. “A pessoa surda tem uma tendência maior a ter alguns transtornos, como ansiedade e depressão. Não é porque a pessoa nasceu surda, é por conta da sobrecarga que é dada pelas barreiras linguísticas. A pessoa surda fica o tempo todo tendo que militar, tendo que cobrar. O tempo todo se sentindo frustrada pela falta de comunicação”, afirma.

Por fim, a fundadora argumenta sobre a necessidade de o público ouvinte adaptar sua percepção. “A ideia é justamente aguçar essa percepção das pessoas ouvintes em relação às pessoas surdas”.

Escola Especial Professor Alfredo Dub
Outra instituição atuante na região de Pelotas, a Escola Especial Alfredo Dub promove, há mais de 70 anos, a disseminação da Língua Brasileira de Sinais e oportuniza para a comunidade surda espaço para inteirar os diversos aspectos relacionados à sua primeira língua. A escola oferece aulas da Educação Infantil, Fundamental e de Jovens e Adultos (EJA), além de projetos.

De acordo com a coordenadora dos anos finais, Suzana Mendonça, a escola possibilita que os surdos “aprendam a Língua de Sinais, que é a primeira língua deles. O surdo começa a ter contato com a Libras, o contato com outros adultos surdos, que já tem fluência em Libras e são modelos para eles”, disse.

Além disso, a coordenadora dos anos iniciais, Melissa Ribeiro, argumenta que há necessidade de que os ouvintes enxerguem a língua como relevante. “Assim como é muito bonito aprender inglês, é muito bonito aprender Libras”, ressalta Melissa, que finaliza enfatizando a importância da empatia e do respeito com a comunidade surda.

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